Brain rot é o termo do ano: saiba como se proteger
O fenômeno pode levar a uma ampla gama de problemas cognitivos e emocionais
Todos nós temos momentos em que parece impossível desviar o olhar das telas, seja deslizando pelos aplicativos de namoro, navegando nas redes sociais ou lendo notícias catastróficas sem parar.
Essa compulsão pode ser tão intensa que atrapalha nosso foco e prejudica nossa saúde cognitiva. A internet até deu um nome para isso: brain rot ("mente deteriorada"). E o brain rot acontece com tanta frequência e afeta tantas pessoas que acabou sendo escolhido como a Palavra do Ano de 2024 pelo Dicionário Oxford.
De acordo com o Oxford, o brain rot é definido como "a suposta deterioração do estado mental ou intelectual de uma pessoa, especialmente vista como resultado do consumo excessivo de conteúdo — hoje, particularmente conteúdo online — considerado trivial ou pouco desafiador," segundo um comunicado da Oxford University Press ao anunciar a palavra do ano.
O uso do termo brain rot aumentou 230% entre 2023 e 2024, refletindo as crescentes preocupações sobre os impactos do consumo excessivo de redes sociais e conteúdo online na saúde cognitiva e no humor, segundo a Oxford. O termo é usado para descrever o conteúdo entorpecente encontrado nas redes sociais e na internet, bem como o impacto negativo subsequente que isso pode causar na saúde do cérebro.
"Há uma corrida para desenvolver conteúdos e plataformas digitais que prendam a atenção das pessoas e concorram em um mercado digital saturado," afirma Adam Leventhal, professor e diretor executivo do Instituto de Ciências da Adição da Universidade do Sul da Califórnia, nos EUA.
"Os conteúdos e plataformas digitais que vencem essa corrida tornam-se cada vez mais viciantes," acrescenta Leventhal. Segundo o professor, eles levam as pessoas a 'binges' digitais, ou seja, consumo de grande quantidade de conteúdo em pouco tempo, ou ao 'doomscrolling', o hábito de não conseguir parar de ler notícias na web e nas redes sociais, apesar disso gerar causar emoções negativas.
Quais são os sintomas de Brain Rot?
Embora o brain rot não seja um diagnóstico médico oficial, o excesso de tempo em frente às telas que ele descreve pode levar a uma ampla gama de problemas cognitivos e emocionais, diz a psicóloga Laurie Ann Manwell professora nas universidades Wilfrid Laurier e de Guelph, no Canadá.
"O tempo excessivo em frente às telas pode afetar negativamente a atenção, a concentração, o aprendizado, a memória, a regulação emocional e o funcionamento social," afirma Manwell.
Os sinais de alerta de brain rot em pessoas de todas as idades podem ser semelhantes aos que ocorrem em idosos desenvolvendo comprometimento cognitivo, explica Manwell. Entre os sintomas listados estão:
- Dificuldade constante de concentração;
- Desorientação frequente ou recorrente;
- Problemas para criar e reter novas memórias, especialmente de eventos recentes;
- Dificuldades em cuidar de si mesmo fisicamente;
- Mudanças na personalidade e sociabilidade;
- Alterações duradouras no humor, no raciocínio e na capacidade de tomar decisões.
Como o Brain Rot acontece?
O brain rot pode ocorrer porque o tempo gasto em telas é tempo que não se dedica a atividades que promovem a saúde cerebral, como exercícios físicos, sono, socialização presencial e atividades mentalmente desafiadoras, diz Manwell.
Além disso, o brain rot também pode ser causado pela forma como usamos as telas. Muitas vezes, consumimos conteúdo de forma passiva e acelerada enquanto tentamos multitarefas, como trabalhar ou estudar.
"Esse uso das telas resulta em recursos de atenção divididos e reduzidos, levando a um aprendizado e memorização menos eficientes, o que pode aumentar o estresse e causar desregulação emocional, especialmente quando é necessário reaprender coisas constantemente," explica Manwell.
"Há também efeitos correspondentes no cérebro, como a redução de matéria cinzenta e branca, o que compromete a capacidade e a eficiência do processamento cerebral."
Quem está mais em risco?
Um dos motivos pelos quais o brain rot pode ser tão prejudicial é porque afeta a neuroplasticidade, ou seja, a capacidade do cérebro de se adaptar e criar novas conexões com base em experiências, diz Manwell.
Ao longo da vida, realizar novas atividades e aprender coisas novas aumenta a neuroplasticidade, protegendo-nos do declínio cognitivo à medida que envelhecemos. O consumo repetitivo de conteúdos sem propósito nas telas tem o efeito oposto, reduzindo a capacidade do cérebro de gerenciar funções cognitivas e comportamentais.
Crianças e adolescentes estão entre os mais vulneráveis, porque desenvolver brain rot devido ao excesso de tempo de tela em uma fase em que o cérebro ainda está se formando pode acarretar uma vida inteira de saúde cognitiva e comportamental debilitada, alerta Manwell.
"Crianças, que estão desenvolvendo os circuitos cerebrais e as habilidades necessárias para atenção sustentada, controle de impulsos e regulação do humor, podem ser mais suscetíveis a esses efeitos," diz Leventhal. "É possível que o uso excessivo de mídias digitais interfira nesse processo."
O que fazer para prevenir o Brain Rot?
Embora o brain rot não seja uma condição médica real, existem medidas que podem ser tomadas para preveni-lo e até reverter alguns de seus impactos, sugere Leventhal.
"Mudar os hábitos de consumo de mídias digitais pode melhorar o bem-estar," ele afirma. "Pausas, limites de tempo e restrições para certos aplicativos prejudiciais podem ser úteis."
Há diversos aplicativos que ajudam a rastrear o tempo total de tela e a implementar períodos de desintoxicação digital, incentivando a desconexão e a participação em atividades fora do ambiente online, diz Manwell.
Entretanto, isso é uma solução de curto prazo. Para uma mudança real, é necessário revisar os hábitos diários para melhorar o humor e a função cognitiva, uma vez que os efeitos do brain rot se manifestam.
"Para mudanças duradouras, deve-se considerar ajustes no estilo de vida que sejam sustentáveis a longo prazo, como substituir o tempo de tela por atividades como meditação, exercícios físicos, leitura, participação em grupos sociais presenciais, aprendizado de novas habilidades (como um idioma ou instrumento musical), brincar com animais, se conectar com a natureza — e fazer essas atividades regularmente," recomenda Manwell.
Se o uso de telas for essencial para o trabalho, é importante encontrar maneiras criativas de reduzir a exposição, como imprimir materiais para leitura em vez de acessar online ou priorizar reuniões presenciais. Quando o uso de telas for necessário, procure focar exclusivamente na tarefa em questão para realizá-la de forma eficiente.
"Estar atento e engajado ativamente ao usar telas também pode ajudar a neutralizar os efeitos negativos associados ao multitasking," conclui Manwell.
Fonte: EverydayHealth