Arquiteto do Conjunto Nacional fez obra-prima aos 27 anos
Projeto de David Libeskind, morto em 9 de abril, superou ideias de concorrentes e foi escolhido para ser executado em 1955
Não restam dúvidas de que o Conjunto Nacional, na Avenida Paulista, é uma das mais icônicas construções de São Paulo. O imponente edifício com unidades comerciais e residenciais, funciona, em seu andar térreo, como uma verdadeira praça pública, sempre aberta à cidade. O que poucos sabem, no entanto, é que o marcante projeto, de 1955, foi obra de um jovem paranaense que tinha apenas 27 anos na época.
David Libeskind foi chamado pelo empresário José Tijurs, assim como outros arquitetos, para apresentar ideias de uma construção que ocuparia todo um quarteirão no nobre cruzamento entre a Avenida Paulista e a Rua Augusta. Surpreendentemente, o projeto do jovem nascido em Ponta Grossa, em 1928, foi o escolhido para ser executado. Apesar da pouca idade, Libeskind já tinha alguma experiência, tendo, inclusive, projetado algumas construções de grande porte.
O arquiteto estudou na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), entre 1947 e 1952. Logo depois de formado, mudou-se para São Paulo, onde, já em 1953, projetou o Edifício São Miguel. No mesmo ano, também criou o Posto de Puericultura para a Legião Brasileira de Assistência. Já em 1954, Libeskind projetou o Hospital Infantil da Faculdade de Medicina de Sorocaba. Ou seja, em 1955, quando desenhou o Conjunto Nacional, o arquiteto era de fato jovem, mas não inexperiente.
O quadrilátero ocupado pelo prédio é delimitado pela Avenida Paulista, Rua Augusta, Alameda Santos e Rua Padre João Manoel. O prédio, por sua vez, é imponente, mas, nem por isso, pouco convidativo. Muito pelo contrário. O programa multifuncional do projeto de Libeskind convida os passantes a entrarem na construção. Além disso, mesmo quando fechado, a marquise externa protege a calçada pública e os pedestres.
O Conjunto Nacional já bastaria para firmar a importância do trabalho de Libeskind. No entanto, seus diversos projetos para casas e edifícios, espalhados principalmente pelos bairros paulistas do Ibirapuera, de Higienópolis e do Pacaembu – além de projetos em outros estados, deram-lhe muitas outras oportunidades de mostrar seu talento.
Por sinal, não foi apenas na arquitetura que Libeskind se destacou. Ex-aluno de desenho do pintor Alberto Guignard, o arquiteto também transitou com sucesso pelas artes plásticas. Chegou a fazer capas e ilustrações para a revista AD – Arquitetura e Decoração, e participou, ainda, de diversas exposições, inclusive de três edições da Bienal Internacional de São Paulo. Multifunção, como seu mais famoso edifício, Libeskind também foi diretor de planejamento da Companhia Metropolitana de Habitação – Cohab, em 1970.
O arquiteto convivia, nos últimos 20 anos, com o Mal de Parkinson, e faleceu na quarta-feira, 9 de abril. Deixou como principal realização um prédio que é mais do que um cartão postal. Trata-se, na verdade, de um manifesto arquitetônico sobre como São Paulo deveria ser: convidativa e inclusiva, e não fechada e excludente, como seus atuais prédios-fortalezas.