Projeto mostra que é possível ser criativo em lote modesto
É muito comum que projetos inventivos saiam do papel quando encontram proprietários milionários e terrenos enormes. Sem limites nem de orçamento nem de espaço, pode-se dar asas à vontade para a criatividade. Mas é possível fugir do trivial em lotes de tamanho modesto e construções que não tenham nada de palaciano.
Um exemplo é a casa que o arquiteto e urbanista Reinaldo Andrade está construindo para ele e a família em Campinas, no interior de São Paulo. Ele quebrou a cabeça para fazer um projeto que conseguisse unir conforto a ocupação inteligente do espaço. “A casa ficou da forma que eu sempre quis. Sempre soube que seria um projeto para morar.”
O imóvel foi construído em formato de L, com o pé-direito variável: 4,20 m para as áreas comuns (sala de estar, sala de jantar, cozinha e churrasqueira) e 3 m para os três quartos. Essa variação acontece de acordo com o declive natural e permite maior aproveitamento do espaço do terreno de 420 m², sendo 188 m² construídos. Depois de oito meses de obra, o projeto entra na reta final e deve ficar pronto até 20 de dezembro.
Como está localizada em uma área de proteção permanente, a obra não pôde movimentar mais de 100 m³ de terra. Por conta disso, o declive natural do lote foi mantido, e os pilares em V foram incorporados para dar sustentação extra. “Isso deixou o visual da casa mais leve e simples”, acredita Andrade.
A casa é de esquina e tem duas entradas, cada uma em um nível. O lado térreo favorece cadeirantes e pessoas mais velhas. “Priorizei o desenho de ambientes amplos e integrados e o uso do concreto aparente. A casa foi projetada de forma contemporânea, com linhas retas.”
Outro passo importante foi investir em um recurso chamado laje painel aparente. Diferente da laje “normal”, esta tem aspecto mais rústico, pois parte da estrutura dos trilhos fica aparente. “Foi algo que sempre quis fazer, mas muitos clientes resistiam: achavam que fica rústico demais, como se a obra não estivesse acabada. Nesta casa, existe laje painel aparente em todos os ambientes comuns, na área com o pé-direto mais alto.” Agora os clientes que visitam a obra se arrependem por não terem escolhido esse tipo de recurso. “
A residência também tem aspectos ambientais. Andrade usou aquecimento solar para a água e energia fotovoltaica para a eletricidade. Isso representa uma grande economia de energia para a residência e uma pequena economia para a cidade: o excesso de energia produzida pelo sistema é devolvido à concessionária de energia elétrica e o morador ganha um desconto na próxima conta.
Há ainda um painel que informa se alguma luz da casa ficar acesa. “Consigo apagar as luzes de qualquer cômodo a partir do meu quarto”, comenta. “A única coisa que não pude fazer foi o reaproveitamento da água da chuva: a tecnologia ainda muito cara para uso residencial”, justifica.