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Cesar Cielo: o maior dos maiores!

O único brasileiro campeão olímpico da natação se tornou referência no esporte, e nos enche de orgulho

27 nov 2024 - 18h02
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"Cielo brigando com Bernard. Cielo brigando com Bernard. Vamos Cielo. Vamos Cielo. Vamos Cielo. É ouro! É ouro! É ouro pro Brasil! Momento histórico da natação brasileira. O primeiro ouro olímpico do Brasil. Cesar Cielo é campeão olímpico!"

Foto: Cielo & Cielo Comércio de Artigos / Revista Malu

O ano era 2008, quando os brasileiros se arrepiaram com essa narração emocionante de Galvão Bueno após Cesar Cielo conquistar, pela primeira vez na história da natação brasileira, a medalha de ouro nas Olimpíadas de Pequim. O feito foi nos 50m livre, com recorde de campeonato de 20,91 segundos. Até o momento, ele segue sendo o único brasileiro com ouro olímpico no esporte!

Mas essa é só mais uma dentre as diversas conquistas que Cesar Cielo tem na sua carreira. Detentor de dois recordes mundiais, 50 e 100 metros livres, o ex-atleta soma 38 medalhas no currículo. Hoje, aposentado das piscinas e palestrante, Cesar conversou com a MALU sobre sua carreira e ofereceu dicas valiosas para quem sonha em seguir as suas braçadas.

Foco total!

O que passa na cabeça de um grande atleta enquanto ele está performando: foco na respiração, no movimento ou em outra coisa para relaxar? Cielo garante que, quando ele estava no meio da prova, o principal foco ali era o controle da intensidade de esforço que ele estava fazendo. "No caso da natação, o 50 livre, mesmo sendo só 20 segundos, exige um controle de intensidade. A gente não sai no absoluto 100% de esforço, senão fica muito difícil, até porque a gente atravessa a piscina em apneia (sem respirar). Então existe um controle de intensidade técnica, e era nisso que eu focava. Não dá tempo de focar na qualidade de braçada, na posição de nado… Como é tudo muito rápido, eu focava bastante na distribuição da intensidade, se estava do jeito que eu imaginei que estaria, ia sentindo o pulmão para trabalhar a prova inteira em apneia", explicou.

Lidando com a pressão

O ex-nadador profissional revelou que já sentiu muita pressão durante sua carreira, mas que ela era mais interna do que externa. "Era muito mais a questão do nível de exigência própria e estar mirando um resultado bem ambicioso e grande, além da pressão por performar naquele momento. Eu sempre brinco que o lance de você lidar com a pressão é a conversa interna, são as coisas que você fala para você, porque numa final Olímpica, numa final de campeonato mundial, dá pra falar que está todo mundo nervoso, ansioso, e com medo de falhar e de perder, e essa é a diferença. Alguns estão focados no medo de perder, alguns estão focados, às vezes, na medalha que nem ganharam ainda, e alguns estão focados em simplesmente executar a melhor prova possível. E são esses que vão ganhar, aqueles que estão focados na execução da prova, que naquele momento estão pensando no presente. Então, eu tentava sempre trazer meu pensamento para aquele momento, fazendo perguntas, conversando comigo mesmo, para trazer a minha concentração para a execução da prova e não deixar os medos crescerem muito."

Um grande atleta!

Sem dúvidas, Cielo é um dos maiores nadadores da história, nacional e internacional, então a Sport Life quis saber: O que faz um atleta ser grande? Cesar ponderou um pouco e confessou: "Pergunta difícil!". Mas logo nos impressionou com a sua resposta.

"É lógico que a gente considera a métrica das medalhas e as conquistas que são mais importantes, mas também tem o lado do atleta humano, o lado da superação, dos sacrifícios, que é uma coisa que a gente admira muito nos atletas, o nível de entrega que esses seres humanos têm com o que eles estão se propondo a fazerem. Eu acho que o que mais nos torna atletas, pelo menos pessoalmente falando, é isso. É aquele nível de esforço, além do que é visto até como possível ou aceito, ele vai além do 100%, vai para o 101%, para ir mais que todo mundo. O nível de sacrifício também é além, é 101%, sempre acima do normal, o atleta está sempre brigando com o que é considerado normal e eu acho isso muito legal. Na verdade, o que eu mais gostava na minha vida de atleta era desafiar aquelas barreiras que são consideradas as certas, as atuais, as normais. Eu acho que é isso que faz um atleta ser grande, é o tamanho da entrega que ele tem em relação ao que ele se propôs a fazer", respondeu.

E como é a rotina de um profissional?

Cesar conta que sua preparação física e mental para os campeonatos era de muito treino, mas a quantidade dependia da época da temporada. No início dos treinamentos, o ex-atleta passava por uma quantidade maior, cerca de 10 a 14 sessões por semana, sendo nove na água e mais três de musculação. "E ao decorrer da temporada vai diminuindo, cai para 10 treinos, para oito, até chegar perto da competição, que é só um treino por dia."

Já sobre a parte mental, Cielo contou que sempre seguiu o mesmo caminho que seus treinos físicos. "Não tinha nada específico que eu fizesse, além de exigir muito de mim no treino. Eu queria ter a melhor sessão de treino todo dia, eu queria ter a melhor alimentação toda a vez que eu ia comer. Eu queria me recuperar o máximo possível toda vez que eu tivesse a oportunidade de descansar. O meu treino mental era sempre estar no limite, no extremo, essa sempre foi a minha estratégia."

O campeão olímpico brincou durante nossa conversa dizendo que costuma dizer que a competição era apenas mais um ápice de intensidade, porque ele já vinha de momentos extremos há muito tempo. "A competição sempre foi até um momento mais relaxado, que eu gostava mais, porque no treino existia tanta pressão para fazer o melhor, exigir mais, sacrificar mais, que quando chegava a competição eu conseguia relaxar, era só colher os frutos", disse.

"Tudo que você planta na temporada, você colhe na competição. E eu via dessa forma mesmo. O trabalho duro e pesado era o que exigia mais de mim. A competição era a hora de eu celebrar todo esse esforço com uma grande performance."

Não tem favoritos

Com a carreira brilhante de nadador, há de se acreditar que Cesar Cielo tem um momento que tenha o marcado mais, mas engana-se quem pensa isso. "Todas minhas conquistas são únicas. Eu posso falar os pontos que eu mais gosto de cada uma delas, mas todas foram extremamente importantes e me desafiaram de formas diferentes. Eu tenho um carinho muito grande por todas elas. Consigo descrever a temporada, o momento da prova de todas elas, porque eu sempre tive um nível de ligação e intensidade com esses momentos muito grandes. Não consigo eleger, não. Acho que todas fazem parte da minha história", ponderou. "Mas não tem como negar, né? O 50 livre em Pequim é o 50 livre Olímpico, e posso falar também que o Mundial de Barcelona em 2013 foi muito especial pra mim", revelou. Talvez essas duas conquistas tenham um espaço especial no coração do medalhista.

Como funciona a mente de um campeão? 

"Eu consigo falar da minha cabeça, mas eu acho que é igual a de todo mundo, né?", indagou Cesar. "Na verdade, no final das contas, uma das coisas que eu falo frequentemente nas minhas palestras hoje é que eu não fui três vezes mais rápido que o segundo lugar na Olimpíada, eu não nadei três vezes mais rápido, eu não treinei três vezes mais, a minha piscina não era dez vezes melhor que a deles. O que diferencia o campeão dos outros é uma coisa tão fina. No caso da natação, são pequenos centésimos, mas a cor da medalha diferencia completamente a gente da percepção pública."

O palestrante acredita que a sociedade admira e fala tanto dos grandes campeões, mas, para ele, o grande campeão é uma pessoa comum, mas que toma decisões mais pensadas, reflete mais nas suas ações. "Quando ele coloca alguma coisa na cabeça, ele é um obsessivo. Eu acho que essa é uma palavra chave para um campeão, a obsessão. E o mais importante de tudo é o nível de exigência, a obsessão dele e o principal: o time. Precisamos de pessoas que nos ajudem, que nos dêem suporte, e eu tive a sorte de ter uma grande família. Podemos ter uma mentalidade muito boa, ter todo o talento do mundo, mas sem um grande time não adianta", explicou.

Ou seja, ser um grande atleta, para Cielo, é reconhecer que, mesmo a natação sendo um esporte individual, ele precisava de uma equipe. "Eu acho que a mentalidade vai passando por vários pilares que são importantes. E o mais importante, no final das contas, é entender que a gente precisa de pessoas. Independentemente da modalidade que você está querendo fazer, as pessoas à sua volta são determinantes para o seu nível de resultado", refletiu. Não é à toa que a mente de Cesar Cielo é a de um campeão.

No Hall da Fama da Natação

Em março de 2023, Cielo foi nomeado para o Hall da Fama Internacional da Natação e integrou a classe de 2023, se tornando o terceiro nadador brasileiro a fazer parte do maior quadro de honra da modalidade - junto com Gustavo Borges e Maria Lenk. Na época da nomeação, Cesar não estava oficialmente aposentado, apenas não competia desde o Mundial de Piscinas Curtas em 2018. Depois da honraria, Cielo confirmou a aposentadoria.

"Essa honraria foi diferente das outras, porque eu não tive absolutamente nenhum controle sobre ela. Eu, na verdade, fui um dos indicados, não sabia se ia ser selecionado. Então, todo o processo aconteceu comigo simplesmente na torcida para que desse certo. Mas eu fiquei muito feliz por ter sido indicado pela primeira vez, porque era a primeira vez que eu estava dentro dos critérios do Hall da Fama para poder ser selecionado. Eu fiquei muito feliz em ver que a maior comunidade que reconhece os grandes do nosso esporte me viu como um nome a ser indicado assim que eu fiquei elegível, e eu recebi isso de uma forma muito agradável e muito feliz. Fazer parte da classe que dizem ser a mais forte da história do Hall da Fama, junto com o Michael Phelps, Missy Franklin, Kirsty Coventry, para mim foi uma honra."

Dica do profissional!

Se o seu sonho é ser um atleta de natação, agora você pode receber as dicas de um dos melhores atletas do esporte. "Use os seus talentos, ataque o esporte, seja qual modalidade você escolher, trabalhe em cima dos seus talentos. Uma das coisas que eu sempre acreditei e fiz na minha carreira, e que eu vejo que foi uma coisa certa, é usar o meu talento natural. Eu não tentava criar talento, eu tentava usar os talentos que eu já tinha e fazer eles evoluírem", recomendou o medalhista olímpico.

"Eu sei que eu não seria um ginasta. Pelo meu tamanho, pelo tamanho do meu braço, não daria para eu competir com o Zanetti, não daria para dar as piruetas que a Daiane dos Santos dava. Pelo meu tamanho é impossível. Então, se eu ficasse tentando brigar com a ginástica, poderia ter algum resultado? Poderia, mas não seria um local que eu teria facilidade, pelo ambiente pelo que a própria modalidade exige. E eu acho que esse é um ponto de partida importante. Precisamos atacar os talentos que já temos de forma natural", exemplificou.

Acima de tudo isso, o recordista mundial entende que é necessário criar um comprometimento com o que você se propõe a fazer. "Uma das coisas que eu mais sinto nas gerações mais novas hoje é o fato de não saberem lidar com frustração, quererem largar tudo de forma muito rápida. E esse processo de se tornar um grande atleta e se desenvolver na modalidade que você escolher, leva tempo. Então é preciso paciência, persistência e, acima de tudo, seguir firme na sua visão. Estabeleça uma coisa para você e siga firme em busca do que você quer e dos seus sonhos", finalizou Cesar.

Revista Malu Revista Malu
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