Chega de sober shaming! Não fique constrangido por não beber
Apesar da pressão para beber, movimentos que questionam o consumo de álcool ganham adeptos
Você já ouviu falar em "sober shaming"? O termo, em inglês, refere-se ao ato de causar vergonha ou constrangimento a alguém que decide não beber. Sabe aquela pessoa que arregala os olhos diante de outra que rejeita uma taça de álcool na festa e diz: "Como assim, não vai beber? Mas nem um golinho? É só pra brindar!"
Como bem descreve um artigo publicado pelo Cisa (Centro de Informações sobre Saúde e Álcool), a vergonha da sobriedade nem sempre é sutil: há quem seja chamado de chato ou até deixe de ser convidado para festas ou encontros por evitar o álcool.
"O simples fato de ter que justificar por que não se quer beber já é um exemplo dessa pressão social. Isto pode fazer com que as pessoas evitem completamente situações que envolvam álcool ou se retirem para evitar consequências sociais negativas", destaca o texto.
O combate ao "sober shaming" foi mote de uma campanha da ONG Alcohol Change UK, em 2021. Na ocasião, os ativistas lembraram que 1 em 4 pessoas deseja reduzir a quantidade de bebida alcoólica que consome. Infelizmente, nem todo mundo consegue exercer o autocontrole, em parte também por causa dessa pressão.
Sober shaming x sober curious
Ainda que a pressão para beber seja preponderante, principalmente entre os homens, movimentos na contramão do "sober shaming", como o "sober curious", também vêm crescendo em diversos países.
De acordo com a jornalista Ruby Warrington, autora de um livro que popularizou o termo, ser "sober curious" significa ficar curioso, ou questionar cada impulso, convite e expectativa para beber, em vez de seguir a cultura dominante de consumo de álcool de olhos fechados.
Sober October e sober bars
Também tem se tornado comum a prática do "Dry January"(Janeiro Seco) ou "Sober October (Outubro Sóbrio), a proposta de passar um mês inteiro sem consumir álcool como forma de "detox" após um período de exageros. Estudos já comprovaram que mesmo um período curto de abstinência como esse pode beneficiar a saúde.
Os "mocktails", ou coqueteis sem álcool, bem como os "sober bars" (bares que não servem álcool), são uma tendência em expansão em vários países, especialmente entre as gerações Z e Millenial, segundo uma pesquisa realizada pela NielsenIQ, em 2022.
Embora muitos drinques sem álcool ainda sejam muito caros, como os charmosos "destilados" Zero Proof, da Ritual Beverage Co., e diversas marcas de vinhos e espumantes não alcoólicos, hoje há várias opções para curtir uma balada sem ter de apelar para o refrigerante ou cerveja sem álcool.
Ninguém deveria passar vergonha
Ainda que ninguém mereça passar por qualquer tipo de "shaming" (seja por não beber, ou mesmo por beber), a verdade é que questionar o consumo do álcool pode gerar um impacto enorme na saúde e no bem-estar das pessoas.
Embora o hábito de beber seja normalizado em praticamente todo o mundo, o excesso de álcool tem um peso constrangedor no orçamento do país. Uma pesquisa divulgada pela Agência Fiocruz mostra que esse consumo representou um custo da ordem de R$ 18,8 bilhões, em 2019.
Esse valor corresponde a 3,5 vezes o valor destinado ao funcionamento do Programa Farmácia Popular, além de 7 vezes o valor gasto com atendimento, controle e tratamento de HIV e outras ISTs (infecções sexualmente transmissíveis).
Deste total, R$ 1,1 bilhão refere-se a custos diretos com hospitalizações e procedimentos ambulatoriais no Sistema Único de Saúde (SUS). Já os custos indiretos, que somam R$ 17,7 bilhões, incluem perdas de produtividade por mortes prematuras, perda de dias de trabalho, licenças e aposentadorias precoces em função de doenças associadas ao consumo de álcool.
O estudo Estimação dos custos diretos e indiretos atribuíveis ao consumo de álcool no Brasil, feito pela Fiocruz Brasília, a pedido das organizações Vital Strategies e ACT Promoção da Saúde, teve como base as estimativas de mortes atribuíveis ao álcool feitas pela Organização Mundial da Saúde (OMS), e levou em consideração um total de 104,8 mil mortes naquele ano, o que significa uma média de 12 mortes por hora.
Diante desses números, parece surreal que alguém ainda pratique o "sober shaming".