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Como criminosos têm usado aplicativos de encontro para fazer vítimas

Plataformas facilitam relacionamentos, mas podem também tornar as pessoas mais vulneráveis a violências, furtos e roubos

12 jul 2024 - 05h00
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Mulher no celular
Mulher no celular
Foto: AleksandarNakic/iStock

Com a popularização de sites e aplicativos de encontro, cada vez mais esse modo de conhecer pessoas se tornou um importante aliado na vida afetiva e sexual de milhares de brasileiros. Se, por um lado, as tecnologias digitais facilitam romances e prazer, do outro, elas podem trazer riscos que merecem atenção.

O primeiro e mais óbvio é que essas plataformas, ao proporcionar anonimato para quem quer ficar mais “escondido” e agilizar um encontro em poucos minutos, pode também tornar as pessoas mais vulneráveis a violências, furtos e roubos. 

Semana após semana temos nos deparado com notícias que envolvem golpes financeiros, violência física e psicológica e até mortes originadas em encontros marcados por sites e aplicativos. 

Nem sempre os criminosos são identificados ou presos, o que faz com que os usuários desses apps (muitas vezes desinformados) sigam expostos a perigos. As plataformas também usam poucos mecanismos efetivos para controle e verificação dos perfis cadastrados.

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Na última semana, por exemplo, em Luziânia (GO), duas garotas de programa mantiveram em cárcere privado um cliente que contratou o serviço em um site de encontro. Ele foi dopado com um drinque “Boa noite, Cinderela” (com substâncias que induzem perda da consciência e sono), e as mulheres utilizaram seu cartão, provocando um prejuízo de R$ 40 mil. Nessa semana, elas foram localizadas e presas.  

No último mês, um jovem de 24 anos foi morto em São Paulo depois de acertar um encontro em um aplicativo de relacionamento. Ele chegou ao local marcado e foi baleado ao reagir a uma tentativa de assalto feita por dois homens que estavam em uma moto.

Houve relatos de crimes similares na mesma região da capital, o que indica uma quadrilha que utiliza esse tipo de app, nesse caso voltado para o público gay, para atrair os contatos para uma rua deserta e poder roubar celulares, cartões e outros objetos.

Que os criminosos se utilizassem desse tipo de tecnologia para acessar suas vítimas era apenas uma questão de tempo e oportunidade. O que surpreende é que as plataformas, depois de tanto tempo no mercado, não consigam garantir a autenticidade dos perfis e a segurança dos usuários.  

É importante perceber também as vulnerabilidades que quem recorre a esses aplicativos pode enfrentar. Ao buscar pressa e urgência em encontros afetivos e sexuais, de forma anônima ou incógnita, muitas vezes os usuários deixam de lado cuidados básicos de segurança, como tentar checar a identidade de quem vão encontrar, marcar o encontro em um local público frequentado por outras pessoas, contar para alguém conhecido que está marcando um “date”, não levar um estranho para casa nem passar o endereço residencial para alguém que acabou de conhecer, ou ainda, aceitar drinques suspeitos.

Em grupos como na população de jovens LGBTQIAP+, que ainda hoje enfrenta estigmas e preconceitos que limitam encontros românticos na escola ou na vida offline, esses apps são hoje uma das principais portas de entrada para uma parceria potencial. Seria importante que esses jovens entendessem melhor os riscos dos aplicativos, e que as plataformas garantissem maior proteção. 

Outros dois pontos também merecem discussão. Alguns trabalhos têm mostrado que mesmo adolescentes e pré-adolescentes menores de 18 anos têm criado e usado perfis nesses apps de encontro, o que acrescenta um grau ainda maior de vulnerabilidade pela inexperiência e imaturidade dessa fase da vida.

E ainda há o fenômeno que se descreve hoje como “dating fatigue” (esgotamento de marcar encontros). A pessoa passa tanto tempo nos aplicativos tentando fazer um encontro dar certo, recebe muitos “nãos” até conseguir um “sim” e pode enfrentar impactos na sua autoestima, que quando ela consegue um “match”, ela acaba deixando de lado alguns cuidados básicos e assumindo riscos para viver o momento.

Mais uma vez se percebe o quanto é importante trabalhar a educação digital, as emoções envolvidas em nossa vida afetiva e sexual e a melhor percepção dos riscos e vulnerabilidades que cada um de nós pode enfrentar quando busca amor ou sexo. Tudo isso para que jovens e adultos possam exercer sua autonomia com mais prazer e segurança.

*Jairo Bouer é médico psiquiatra e escreve semanalmente no Terra Você.

Fonte: Jairo Bouer
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