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Como o Carnaval ensina a cuidar da nossa saúde mental de todos os dias?

14 fev 2024 - 05h00
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O Carnaval acabou e 2024 se revela, sem fantasia, à frente. Os desafios estão postos e muita gente já deixou claro que a saúde mental vai ser uma prioridade absoluta e cotidiana no ano que se inicia.

Para começar existe uma nostalgia experimentada por muitos, já na Quarta-feira de Cinzas, que o melhor da festa passou, e que agora vai ter que enfrentar um longo ano antes da folia voltar. Pois é, Réveillon, férias, verão e Carnaval começam a ser vistos pelo retrovisor e muito alarme, congestionamento, correria, compromisso, perrengue, conta e meta vão despontando no horizonte. A vida não anda nada fácil para ninguém!

Essa visão dos deveres e obrigações em oposição ao lazer e o ócio pode ser um fator importante de agravo para a saúde mental.  Será que uma gestão mais adequada desse balanço não é viável? Será que poder criar espaços “verdes” em nossa rotina “acinzentada” não ajuda a melhorar a sensação de bem-estar e qualidade de vida? 

Carnaval chegou ao fim; agora o ano começa 'de verdade'
Carnaval chegou ao fim; agora o ano começa 'de verdade'
Foto: iStock

Ressaca moral

Há quem enfrente, além da ressaca tradicional, uma espécie de “ressaca moral” pelo que fez ou deixou de fazer no Carnaval. Excessos, desgastes, cansaço, avaliações e decisões equivocadas, além do medo de exposição a risco, podem ser aliviados com uma boa dose de descanso, reflexão, moderação e visita ao médico (caso necessário).

Nos dias que seguem os bloquinhos, desfiles, festas de rua, bailes fechados e aglomerações diversas, fadiga associada a dores, desconfortos, mal-estar e até um pouco de febre merecem atenção. No ano em que a dengue começou tão forte e em que a covid-19 voltou a apresentar um crescimento importante, é preciso estar atento. Bom lembrar que nossa saúde física também pode impactar de maneira significativa nossas emoções e bem-estar psíquico.

Hora de parar

Nessa semana, em pleno Carnaval, o surfista brasileiro Filipe Toledo, o Filipinho, atual bicampeão mundial, anunciou que pediu dispensa à WSL (World Surf League) do restante da temporada do Circuito Mundial de Surfe. O atleta que já vinha enfrentando questões de saúde mental pediu um tempo para se recuperar

As competições de alto nível exigem de atletas profissionais foco, dedicação e uma rotina tão dura que pode colocar esses profissionais em risco. Mas não é só lá, no alto do pódio, que o “bicho pega”. Qualquer um de nós, que vive em uma sociedade que exige cada vez mais tempo, maior investimento e mais produtividade, pode enfrentar esse esgotamento. Por isso, ter a possibilidade de enxergar, parar, respirar, e entender o que se passa pode ser um passo muito importante.

O amor que faz sofrer

O Carnaval também mostrou, mais uma vez, o quanto uma crise em um relacionamento amoroso pode impactar a saúde mental. Para além de qualquer julgamento moral, sai ano, entra ano, pessoas comprometidas são flagradas aos beijos com outros e outras, e acabam expondo e fazendo sofrer seus parceiros.

Esse ano, Patrícia Cardoso, esposa de Marcelo Adnet, foi às redes dizer que estava “ótima, sqn” depois de vazarem fotos do humorista beijando uma mulher na rua

Para além das celebridades, em um momento em que as tecnologias e redes sociais estão cada vez mais onipresentes, não é incomum que lentes diversas captem e compartilhem rapidamente tais situações. Resta, para quem se sente magoado, lidar com as dores, avaliar seu relacionamento e buscar suporte e apoio.

Nunca é fácil, mas é a vida exigindo adaptações constantes em um mundo que está sempre em mudança. E é sempre bom poder contar com ajuda nas fases de maior turbulência emocional. 

Fora preconceito!

No Carnaval em que tantos trios e blocos, Brasil afora, reforçaram o combate a preconceitos, homofobia, transfobia e racismo, nunca é demais lembrar que a desigualdades econômicas e a discriminação são fatores que ajudam a explicar porque nosso país tem os maiores índices de ansiedade e depressão do mundo. As exclusões e violências impactam o ano todo o bem-estar de milhões de brasileiros.

Foi o Carnaval também em que tantas rainhas, como Ivete Sangalo e Daniela Mercury, assumiram cansaço, choraram, tentaram cuidar da segurança e bem-estar dos foliões e, ainda, conseguiram calar leituras distorcidas e apocalíticas do mundo, bem como fazer sua voz se sobrepor a quem insiste em dizer o que as mulheres podem ou devem fazer. Salve a clareza e a força dessas vozes que aliviam a vida de todos nós!

Se esse Carnaval serviu não só para diversão, alegria e celebração da liberdade, mas também para capturar tantas dimensões que podem impactar nossa saúde mental, a gente tem ainda mais razões para comemorar. Que venha o próximo!

*Jairo Bouer é médico psiquiatra e escreve semanalmente no Terra Você.

Fonte: Jairo Bouer
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