Cyberbullying cresce no mundo: o que fazer em casa?
Cyberbullying cresceu de maneira mais importante após a pandemia quando os jovens aumentaram seu tempo de conexão e de uso de telas.
Novo estudo da OMS (Organização Mundial da Saúde) divulgado nessa semana aponta que uma em cada seis crianças de 11 a 15 anos afirma já ter sofrido cyberbullying em 2022, ou seja, 17% delas enfrentaram violência nas redes. Na edição anterior da mesma pesquisa, em 2018, 13% tinham sido vítimas dessa forma de assédio na internet.
Foram avaliadas quase 280 mil crianças em 44 países da Europa, Ásia e Canadá. No Brasil, que não estava nessa avaliação, esse número pode ser ainda maior. Uma pesquisa do Instituto Ipsos, de 2018, mostrava que o país era o segundo do mundo em casos de cyberbullying contra crianças e adolescentes, ficando apenas atrás da Índia e à frente do terceiro colocado, os EUA. Por aqui, 29% dos pais relataram que seus filhos já haviam enfrentado essa situação.
Segundo a OMS, o cyberbullying cresceu de maneira mais importante após a pandemia quando os jovens aumentaram seu tempo de conexão e de uso de telas.
Os dados mostram que é urgente discutir o melhor uso das tecnologias, e apontam a necessidade de endereçar temas como assédio e violência na internet durante o processo da educação digital dos mais novos, tanto em casa como na escola.
Garotos mais cedo
O relatório mostra que o ápice do bullying virtual acontece aos 11 para os meninos e aos 13 para as meninas, o que reforça a importância de pais e professores anteciparem essa discussão, principalmente antes dos filhos e alunos começarem a usar redes socias e participarem de aplicativos de trocas de mensagens.
Como o jovem tem passado cada vez mais cedo mais tempo na frente das telas, mesmo episódios eventuais de assédio e violência online podem ter um profundo impacto na saúde mental. Daí a importância dessa intervenção precoce. Nesse sentido, discutir e explicar os motivos dos cuidados e preocupações antes de propor limites e proibições é uma estratégia que pode funcionar melhor.
O bullying virtual pode provocar impactos importantes na saúde mental dos jovens, levando a uma piora do bem-estar geral e da qualidade de vida, expondo os mais novos a maiores riscos de transtornos de ansiedade, crises de pânico, piora da autoestima, distúrbios de imagem corporal, transtornos alimentares, depressão, automutilação e suicídio. As garotas, pelas pressões sociais e pelo maior tempo que passam nas redes, podem sentir esse impacto de forma ainda mais intensa.
Importante lembrar que em janeiro de 2024, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou a lei 14.811, que incluiu os crimes de bullying e cyberbullying no Código Penal.
Flórida proíbe redes para menores
Uma outra notícia da semana que tem relação direta com a vida dos jovens na internet vem da Flórida, EUA, estado americano que se tornou o primeiro a efetivamente proibir menores de 14 anos de terem contas em redes sociais.
Bom lembrar que algumas redes como o TikTok, por exemplo, já proíbem o acesso a menores de 13 e disponibilizam uma série de políticas de controle parental. Apesar disso, não é muito complicado para o jovem criar um perfil com data de nascimento falsa, e seguir navegando pelos apps e redes.
O projeto da Flórida, considerado rígido, foi promulgado na tentativa de aumentar a segurança nas plataformas e proteger a saúde mental dos jovens. Pela nova lei, as redes sociais não podem conceder contas a menores de 14 anos, além de terem que encerrar contas que sabem ou acreditam pertencer a menores. E, mesmo para jovens menores de 16, ela exige que as contas só sejam criadas depois da permissão expressa dos pais.
Lei é apenas parte do processo
Uma batalha jurídica pode vir pela frente, já que a lei pode esbarrar no direito dos jovens de buscar informações livremente e na sua liberdade de expressão. Nos últimos meses, leis menos restritivas de outros estados americanos vêm enfrentando reveses importantes na tentativa de implementação. A lei da Flórida ainda exige que os sites de pornografia online verifiquem a idade para não permitir o acesso dos menores.
Uma maior regulação no acesso às redes sociais talvez tenha um impacto positivo na redução do cyberbullying, principalmente entre os mais novos, que podem ter menos recursos emocionais para lidar com tantas pressões externas. Mas sem um trabalho permanente de educação digital em casa e na escola, as leis podem ter um resultado modesto.
É essencial envolver o jovem na discussão para que ele próprio possa participar ativamente do processo, reconhecendo essa forma de bullying, combatendo o assédio e não praticando violência contra seus pares. Criar canais de comunicação com os pais e professores também é uma estratégia que precisa ser possibilitada e garantida para dar voz ano jovem e reverter esse cenário. Vamos juntos?
*Jairo Bouer é médico psiquiatra e escreve semanalmente no Terra Você.