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Gustavo Tubarão desabafa: conteúdo adulto pode mesmo viciar?

O desejo pelas imagens passa a 'aprisionar' a pessoa, que muitas vezes busca esse tipo de conteúdo quase como uma imposição, não por prazer.

23 ago 2024 - 05h00
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O influenciador digital Gustavo Tubarão
O influenciador digital Gustavo Tubarão
Foto: Reprodução/Instagram/@ogustavotubarao

Essa semana o influenciador mineiro Gustavo Tubarão, que tem mais de 11 milhões de seguidores no Instagram e outros 12 milhões no TikTok, fez um desabafo em suas redes sociais: ele contou que, depois de quase um ano e meio sem assistir pornografia, voltou a ter algumas recaídas, e fez um alerta sobre como a esse tipo de conteúdo pode fazer mal à vida das pessoas. Mas existe mesmo esse tipo de dependência?

A resposta é sim: pornografia pode fazer com que algumas pessoas desenvolvam um quadro de dependência. Os mecanismos desencadeadores são semelhantes aos das demais formas de dependência e, nesse tipo de quadro, torna-se quase impossível controlar a frequência do consumo de conteúdo erótico e de masturbação, bem como o impacto negativo que esses comportamentos trazem. O desejo pelas imagens passa a "aprisionar" a pessoa, que muitas vezes busca a pornografia quase como uma imposição, não por prazer.

Tristeza, ansiedade, vergonha, desmoralização, frustração por perder o controle, piora na concentração e no sono, queda de rendimento nos estudos e no trabalho, problemas nos relacionamento, dificuldades sexuais, necessidade de ter que assistir cada vez mais pornografia para obter prazer (tolerância) são algumas das queixas mais frequentes entre as pessoas que se sentem dependentes.

O problema não é a pornografia em si, mas a forma que ela é consumida. O que pode dificultar a relação de uma pessoa com esse tipo de conteúdo é a história de vida de cada um, a autoestima, a saúde mental, as pressões sociais e culturais e, claro, a vulnerabilidade de alguns à farta disponibilidade de material erótico online.

Adolescentes e homens jovens com história de abuso sexual, quadros ansiosos, dificuldade de controle dos impulsos, estresse excessivo, outras dependências (álcool, drogas, jogos) e com alguns tipo de transtorno de personalidade podem enfrentar maior risco desse tipo de dependência.

Veja o desabafo do influencer:

Saúde mental afetada

Tubarão já havia contado quando lançou seu livro "O Trem Tá Feio" (Citadel) que enfrentou uma série de questões de saúde mental no passado, como depressão e transtorno de personalidade do tipo borderline, o que pode ter aumentado sua exposição.

O tratamento de uma dependência passa por avaliação e diagnóstico criteriosos feitos por um especialista em saúde mental, psicoeducação (explicar para a pessoa como lidar com suas dificuldades), psicoterapias, grupos de apoio, suporte familiar e, em casos mais severos, existe também a possibilidade do uso de medicamentos para controle dos impulsos e da ansiedade. 

Abrir mão do consumo de pornografia por um tempo prolongado (como fez Tubarão) pode ser uma alternativa, mas reaprender a lidar com o prazer e o desejo, com atenção aos limites individuais, pode ser uma alternativa mais sustentável no longo prazo.

Outro influenciador que vem ganhando espaço nas redes sociais ao falar de seu "vício" em pornografia é o empresário Matheus, 25 anos, de Niterói-RJ, que não revela seu nome todo, mas criou o perfil @antipxrnxgrafia, hoje com mais de 55 mil seguidores no Instagram. Ele busca ajudar outros homens a refletirem sobre sua relação com a pornografia e traz algumas dicas para diminuir a exposição a esse tipo de conteúdo.

Matheus conta que foi vítima de abuso sexual na infância e que foi exposto a vídeos eróticos já aos 5 anos. Na adolescência, o consumo aumentou muito e ele desenvolveu um quadro de depressão. Hoje é casado, recebe o apoio da esposa, e acredita que o autoconhecimento ajudou muito na sua recuperação.

É importante que influenciadores como Gustavo e Matheus usem suas redes para tentar sensibilizar seus seguidores sobre a relação que eles estão estabelecendo com a pornografia. E é sempre bom lembrar: mesmo adultos que assistem vídeos ocasionalmente, sem exageros, em algumas fases da vida podem vir a enfrentar maior dificuldade em controlar o uso desse tipo de material. Se o comportamento persistir e começar a impactar o bem-estar e a qualidade de vida, é fundamental buscar ajuda e suporte.

*Jairo Bouer é psiquiatra e escreve semanalmente no Terra Você.

Fonte: Jairo Bouer
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