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Jovens nas redes: como estabelecer limites?

Cada vez mais as crianças e os adolescentes permanecem conectados e resistem fortemente à ideia de um limite no tempo de uso de tecnologias

15 set 2023 - 05h00
(atualizado às 09h08)
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Jovens, celulares e redes sociais: será que uma mediação por parte dos pais e educadores é factível?
Jovens, celulares e redes sociais: será que uma mediação por parte dos pais e educadores é factível?
Foto: iStock

Quem tem filhos ou convive com jovens sabe das dificuldades de tentar limitar o uso de telas e de redes sociais. As reações podem ser birra, inquietação, irritabilidade e até agressividade, com modulações variadas.

Para evitar “comprar essa briga“, cada vez mais pais e educadores abandonam a árdua tarefa de controlar ou limitar esse uso, e deixam nas mãos dos seus filhos e alunos a administração do seu próprio tempo. Se por um lado pode haver uma redução dos conflitos, por outro, essa autonomia precoce pode trazer alguns problemas e impactos. Vamos tentar entender?

De maneira simplificada, qual é a ação das telas, principalmente das redes sociais, no funcionamento psíquico dos mais novos? Toda experiência que é boa, que gera algum tipo de recompensa, age sobre alguns circuitos neuronais dos mais jovens trazendo uma sensação de bem-estar e um gosto de “quero mais”. 

Recompensa e prazer

Assim, quando eles recebem curtidas pela publicação de uma selfie, por exemplo, ou quando assistem a um vídeo curto que traz risadas e diversão, eles tendem a querer repetir o mesmo padrão, o mesmo estímulo, em busca da mesma sensação prazerosa.

Não é à toa que os algoritmos das redes identificam aquilo que os jovens gostam e inundam a sua “timeline” ou o seu “for you” com vídeos ou postagens semelhantes. A inteligência artificial percebe o que dá retorno, o que pode reter as pessoas por mais tempo conectadas e lança suas “iscas”. 

O problema é que a maioria de nós, especialmente os mais jovens, tem dificuldade em perceber o que acontece. A cada curtida, compartilhamento, menção ou vídeo divertido, nosso cérebro é invadido por neurotransmissores, entre eles a dopamina, que deixam a gente um pouquinho mais feliz. Esse ciclo de prazer e recompensa é tão poderoso com o uso das tecnologias, que algumas pessoas podem até experimentar um quadro de dependência.

Proibição é o “fim”

Nesse cenário, quando um jovem é impedido de obter essas recompensas, de acessar esses estímulos, de ter a chance de obter suas “pílulas” de bem-estar, ele pode ficar irritado, bravo e “surtado” (como definem alguns pais). Um mecanismo parecido pode acontecer quando, mesmo podendo postar fotos, elas não chamam mais a atenção dos outros. O grau de recompensa desejado não é alcançado, e o jovem pode se sentir frustrado e injustiçado.   

Outro efeito colateral da busca frenética por recompensas digitais e do prazer dos vídeos cada vez mais curtos, é a dificuldade de atenção e concentração. Com tolerância muito limitada a um único estímulo, um vídeo de mais de 15 segundos pode parecer uma eternidade. 

Se assistir a um vídeo mais longo pode ser um martírio para eles, imagine a dificuldade crescente que os educadores têm em manter a atenção de toda uma sala durante 45 minutos de uma aula expositiva. A disputa pela atenção chega a ser cruel!

O preço da dopamina

Quem fica caçando dopamina nas redes também pode ficar mais sujeito a uma série de riscos. Para ter mais curtidas ou seguidores, a pessoa se expõe mais e, se algo não funciona como planejado, o tombo emocional também pode ser maior. O cyberbulliyng e os cancelamentos, por exemplo, são um preço alto que pode ser pago por esse maior grau de exposição da intimidade e da evasão da privacidade. 

Na busca quase incessável por vídeos curtos e por popularidade, esse jovem pode ter uma dificuldade maior em desligar suas telas para ir para a cama. Vários estudos mostram que eles dormem cada vez mais tarde e menos. No dia seguinte, cansados e com sono, aumenta a dificuldade de concentração na escola e o nível de irritação nas interações sociais, principalmente com as figuras de autoridade (pais e professores), que insistem em tentar controlar ou limitar o tempo de tela. 

Moral da história, esse ciclo pouco virtuoso, apesar de momentaneamente prazeroso, acaba trazendo impactos no comportamento e na saúde (principalmente mental) desses jovens.

E a solução? Se é que existe, ela passa por uma educação digital desses jovens que comece desde muito cedo, na construção de limites flexíveis de acesso às redes e às telas que se ajustam na medida em que eles conseguem administrar melhor seu tempo de conexão, e na criação de filtros para que eles próprios consigam reconhecer exageros, dependências e impactos negativos na sua vida. Para chegar a tudo isso, só com muito diálogo em casa e na escola. Você tem conseguido?

* Jairo Bouer é médico psiquiatra, comunicador e publica suas colunas no Terra Você às sextas-feiras. 

Fonte: Jairo Bouer
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