Menos tempo em redes sociais melhora autoestima e imagem corporal
Efeito é ainda mais importante nas mulheres jovens que estão mais vulneráveis a um ideal de magreza.
Você tem se sentindo meio para baixo depois de passar algumas horas usando suas redes sociais? A receita para aliviar esse mal-estar pode ser bem fácil do que você imagina: faça uma pausa. Um novo estudo mostra que deixar de usar as redes por uma semana produz uma melhora significativa na autoestima e na imagem corporal.
O trabalho da Universidade de York, no Canadá, publicado no início do mês na revista científica Body Image, mostrou que esse efeito é ainda mais importante nas mulheres jovens que estão mais vulneráveis a um ideal de magreza.
A pausa proposta pelos pesquisadores incluía: Instagram, Facebook, X (antigo Twitter) e TikTok. Mesmo nas participantes menos preocupadas com seu corpo e aparência, o descanso das redes teve um efeito positivo.
As novas tecnologias e o uso das telas potencializaram questões relacionadas aos padrões idealizados de beleza e de imagem corporal, antes restritos às mídias mais convencionais e de alcance mais limitado, como revistas e outdoors. Com isso, aconteceu um escalonamento de problemas.
Ficar uma semana sem se comparar com os outros e trocar o tempo investido nas redes por hábitos mais saudáveis, como atividade física, passeios ao ar livre, encontros com amigos e sono melhor, podem ser parte dos mecanismo que produzem uma sensação de bem-estar nas pessoas que “desmamam” das redes.
Levando-se em conta que adolescentes são ainda mais vulneráveis a questões de insegurança, autoestima e imagem corporal, e que seu uso das redes sociais tende a ser mais frequente do que em outras faixas etárias, é possível que esse efeito da pausa forçada seja ainda mais significativo para eles, principalmente para as garotas jovens.
Outro trabalho recente da Universidade de Toronto, também do Canadá, mostrou que cerca de 17% dos adolescentes dizem já ter experimentado bullying relacionado ao seu peso na internet, especialmente em plataformas como o X e o Twitch. Foram entrevistados cerca de 12 mil jovens de 10 a 17 anos na Austrália, Canadá, Chile, México, Estados Unidos e Reino Unido. Os resultados foram publicados no periódico PLOS ONE.
Os jovens passavam, de acordo com o levantamento, cerca de 7,5 horas de tempo recreativo nas telas. Houve um aumento de 13% no bullying para cada hora adicional uso de tecnologias. Dessa forma, menos tempo de rede pode significar menor exposição ao risco de múltiplas violências, o que ajuda na melhora da autoestima e da percepção da imagem corporal.
Os resultados dos dois estudos reforçam a posição e as orientações dos especialistas em comportamento digital. Se possível, adie o máximo possível o contato das crianças com as redes sociais, monitore o tempo de uso de tela e trabalhe a questão da educação digital dos jovens: é importante que eles aprendam desde cedo a criar filtros e a reconhecer o que pode estar trazendo desconforto, riscos e mal-estar para sua vida. Assim, fica mais fácil eles mesmos controlarem o uso que fazem das redes e das tecnologias. Isso vale tanto para conversas em casa como para as discussões na escola.
Vocês têm conseguido fazer esse trabalho com os filhos e os alunos?
*Jairo Bouer é psiquiatra e escreve semanalmente no Terra Você.