Mikey Madison, Oscar de melhor atriz aos 25, enfatiza a importância da vida offline
Apesar de jovem, Madison já deixou claro que não se sente à vontade com a exposição nas redes
Você pode, como eu, não concordar com a escolha de Mikey Madson, do filme Anora, como a melhor atriz do Oscar de 2025, e reforçar o quanto Fernanda Torres, protagonista do brasileiro Ainda Estou Aqui, merecia esse prêmio. Mas uma coisa chama a atenção na vida da norte-americana: o fato dela estar completamente desconectada das redes sociais.
Apesar de jovem, Madison já deixou claro que não se sente à vontade com a exposição nas redes. Ela é uma exceção entre os atores da sua geração, que cada vez mais dependem das plataformas digitais para mostrar seu trabalho, sua vida pessoal e interagir com o público.
Madison não tem e nem pretende ter conta ativa em nenhuma rede. Para ela, não é algo que pareça autêntico ou natural. Conhecida pelo perfil reservado, Madison já havia comentado que a decisão também tem a ver com preservar a própria saúde mental. Ela se diz sensível e acredita que estar exposta poderia causar problemas para seu bem-estar emocional.
É interessante pensar que Madison vai na contramão dos jovens e não tão jovens que trabalham na indústria audiovisual e que, muitas vezes, mesmo com receio da exposição, acabam se sentindo obrigados a postar nas redes para garantir contratos publicitários e até mesmo a escolha para determinados papéis. Quantas vezes a TV ou as produtoras não escolhem um ator, ou apresentador com base no número de seguidores e nas interações que eles geram nas plataformas?
Se, por um lado, as redes garantem espaço e “voz” para as pessoas expressarem o que pensam, apoiarem ou repudiarem causas e mostrarem seu trabalho, por outro lado, elas podem trazer impactos importantes para a qualidade de vida e para o futuro profissional.
Um exemplo recente foi outra forte concorrente ao Oscar desse ano. A espanhola Karla Sofía Gascón, que a despeito de todas as controvérsias faz um trabalho primoroso em Emilia Pérez, e seria a primeira mulher trans a vencer a categoria de melhor atriz, pode ter deixado escapar a estatueta por uma série de comentários racistas e xenófobos feitos no passado e que viralizaram poucas semanas antes da entrega do prêmio.
Em 2024, a atriz Zendaya disse que manter redes sociais se tornou uma espécie de obrigação para artistas jovens, mesmo quando não há vontade autêntica em participar. No início do ano ela chegou a deixar de seguir todos no Instagram, inclusive o namorado, o ator Tom Holland.
Muitos atores, cantores, esportistas, influenciadores e outras pessoas da indústria do entretenimento se afastaram das redes nos últimos anos, em função da falta de tempo, da necessidade de foco ou para tentar reduzir os impactos em sua saúde mental.
O jovem e promissor tenista João Fonseca é um exemplo desse movimento da desconexão temporária aqui no Brasil. Ele chega a desligar suas redes em fases de competição. Mas ao se negar totalmente a entrar nas redes, Madison talvez seja um dos exemplos mais radicais da sua geração.
Se entre artistas e atletas a decisão de se desconectar ainda é uma escolha individual, nas escolas ela virou regra. Em São Paulo, por exemplo, a lei que proíbe o uso de celulares nas escolas completou um mês e, segundo os educadores, já mostra efeitos positivos nas salas de aula e nos intervalos.
Tomara que a postura da atriz Mikey Madison sirva pelo menos como um ponto de reflexão para tantos jovens que mal conseguem perceber o quanto estar conectado o tempo todo pode prejudicar sua atenção, bem-estar, desempenho e relações com os outros. Que tal usar as redes com mais moderação?
Jairo Bouer é médico psiquiatra e escreve semanalmente no Terra.