Por que parece que está mais difícil amar e encontrar um parceiro?
As pessoas parecem estar mais exigentes e esperam dos seus parceiros potenciais uma série de habilidades e afinidades
A flexibilização nas formas de se relacionar e a popularização de tecnologias como redes sociais e aplicativos de encontro podem estar tornando o amor mais difícil no século XXI. Você já sentiu isso?
Um artigo recente do escritor britânico David Robson, especializado em jornalismo científico, da BBC Future, traz mais luz para essa discussão. Robson fez uma entrevista com Paul Brunson, especialista em relacionamentos do Tinder, que recentemente escreveu o livro "Find Love: How to Navigate Modern Love and Discover the Right Partner for You" ("Encontrar o amor: como navegar pelo amor moderno e descobrir o parceiro certo para você", em tradução livre).
Para Brunson, hoje existem inúmeros formatos para um relacionamento entre duas pessoas funcionar, e o importante seria encontrar parceiros que estivessem no mesmo momento ou que topassem experimentar uma nova modalidade e se sentissem confortáveis com essa escolha. Aberto ou fechado, monogâmico ou poliamoroso, morando juntos ou separados, as possibilidades e combinações são infindáveis.
Além disso, as pessoas parecem estar mais exigentes e esperam dos seus parceiros potenciais uma série de habilidades e afinidades. Se de um lado, cobra-se mais dos parceiros, do outro parece haver menor tolerância com um ritmo diverso ou com objetivos distintos. Assim, essa dinâmica tornaria menos provável encontrar alguém e viabilizar uma relação de longo prazo.
As tecnologias como rede sociais e aplicativos de encontro aumentaram a probabilidade de se conhecer alguém e rapidamente estabelecer uma comunicação direta com essa pessoa.
Mas esse aumento do leque de opções não se traduziu em maior facilidade de estabelecer um relacionamento e encontrar o amor romântico. Primeiro, porque há um limite concreto do número de pessoas que você consegue conhecer.
Depois, porque as sucessivas experiências negativas nesses encontros podem criar uma sensação de “rejeição em série”, que impacta a autoestima e faz com que a pessoa ajuste melhor suas expectativas e sua exposição, o que pode levar a um aumento da resistência de se envolver com alguém que veio dessas redes e aplicativos.
A sensação de ser apenas mais uma carta em um baralho com tantas oportunidades disponíveis pode criar emoções negativas como insegurança, insatisfação, medo de se decepcionar e sofrer, entre outras tantas, que acabam fazendo as pessoas relativizarem esses encontros e relacionamentos.
Tudo parece ser apenas temporário, transitório, o que levaria as pessoas a depositar menos expectativa e esperança em um relacionamento amoroso. A força de um eventual vinculo afetivo é colocada em xeque com frequência.
Para Brunson, atualmente cerca de 80% das pessoas estão insatisfeitas com seus relacionamentos, mas os 20% satisfeitos estão mais felizes do que nunca, o que mostra que essa espécie de “seleção natural” pode estar fortalecendo a história amorosa de quem resiste. E isso envolve possivelmente muito diálogo, negociação e respeito às individualidades.
E você? Como andam suas expectativas com o amor com a proximidade do Dia dos Namorados?
*Jairo Bouer é médico psiquiatra e escreve semanalmente no Terra Você