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Rodrigo Amendoim e a importância de falar da saúde mental do homem jovem

3 nov 2023 - 09h17
(atualizado às 09h20)
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Rodrigo Amendoim, influenciador digital que morreu em 28 de outubro
Rodrigo Amendoim, influenciador digital que morreu em 28 de outubro
Foto: Reprodução/Instagram/rodrigo_amendoimm

A morte do influenciador Rodrigo Amendoim no último sábado em Lauro de Feitas, região metropolitana de Salvador, BA, levantou uma série de questões importantes sobre a saúde mental dos homens, principalmente os mais jovens, na chegada do Novembro Azul, mês que dedicamos a falar com mais atenção sobre a saúde masculina.

Rodrigo tinha 24 anos, um garoto negro que cresceu na periferia de Salvador, trabalhando como vendedor de geladinho e amendoim na rua desde os 12 anos, e que acabou se tornando um fenômeno nas redes sociais, com mais de 2 milhões de seguidores no Instagram e 400 mil no TikTok.

"Mendo" postava vídeos de humor e de brincadeiras na rede, mas também muitos posts em que contava as violências e dificuldades que sofreu na infância, as mágoas com a família, e os impactos que isso trouxe para sua vida emocional. A morte de Rodrigo foi registrada como suicídio e a Polícia Civil ainda investiga o caso. 

Causas múltiplas e complexas

Quando falamos de suicídio nunca é demais lembrar que as causas são múltiplas e complexas. Vulnerabilidade social, racismo, preconceitos, histórico pessoal de violências e traumas, solidão, separação, questões de autoestima, exposição nas redes sociais e depressão são alguns dos fatores das causas que podem prejudicar a saúde mental.

O risco de um homem jovem morrer por suicídio é quase três vezes maior do que de uma mulher. O grupo de 12 a 19 anos é o que hoje registra maior aumento dos casos. Apesar da alta prevalência de transtornos mentais, poucos são os homens que buscam ajuda, e na maior parte das vezes eles chegam aos serviços especializados trazidos por alguma mulher (mãe, irmã, amiga ou filha). A masculinidade tradicional bloqueia o acesso dos homens aos tratamentos. 

A questão começa bem antes, com a dificuldade que os homens têm em expressar suas emoções e dividir seu sofrimento com outras pessoas. É quase como se admitir uma dificuldade emocional fosse ferir o conceito que ele tem de si mesmo da sua masculinidade. “Homem que é homem tem que dar conta do recado”, e essa posição só aumenta a angústia e o isolamento em um momento de fragilidade ou de adoecimento psíquico. 

Quando esse homem tem uma experiência de infância com muitas dificuldades sociais, conflitos familiares importantes, episódios de agressão e bullying, crescendo em um ambiente violento, machista e racista, cuidar da saúde mental parece um desafio ainda maior. Talvez aqueles que mais precisam, os mais vulneráveis, são mais uma vez alvo de mais uma exclusão social.

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Redes sociais podem ser tóxicas

As redes sociais que muitas vezes abrem portas para os anônimos, dão espaço e visibilidade inédita para quem nunca se imaginou falando com tanta gente, garantem dinheiro, sustento e até fortuna em alguns casos, também podem ser ambientes altamente nocivos, tóxicos e perpetuadores de violência.

Para quem não está bem, ficar exposto pode ser ainda mais cruel. Nunca é fácil lidar com agressões, ofensas e violências, mas é na vulnerabilidade emocional que essa situação pode ficar insustentável. 

A fantasia e ilusão que os milhões de seguidores tornam a vida melhor, mais fácil, mais alegre, não se sustenta nos momentos difíceis. A conta não fecha! Assim, a pessoa pode se cobrar ainda mais por não estar bem. "Como assim? Sou tão famoso, não devia reclamar, tinha que servir de exemplo para todos. Me sinto uma farsa!". 

Esse fenômeno leva milhões de pessoas, todos os dias, mundo afora, a passar por períodos de afastamento total ou parcial das redes, o chamado “detox digital”. Quantos famosos (e anônimos também) abandonam suas postagens, e até seu “ganha-pão” para poder se recuperar?

Saídas possíveis

O tempo exagerado do uso de telas, a busca por maior privacidade, o incômodo pela exposição cotidiana da intimidade, as agressões e ofensas, a sensação de perda de tempo e desgaste, tudo isso, tem sido o motor da mudança no comportamento digital de muitos jovens. Esse pode ser um dos caminhos!

Um sistema de atendimento em saúde mental que pudesse dar conta das demandas crescentes no Brasil, uma mudança de mentalidades que levasse as pessoas a entenderem a importância de cuidar das suas emoções (principalmente os homens), e uma educação digital que ensinasse cada um a medir o impacto das redes em sua vida, formam um arcabouço importante para reduzir os riscos de adoecimento psíquico e de suicídio enfrentados por tantos jovens.

E claro, o contexto social é o grande pano de fundo para toda essa dor, angústia e sofrimento. Uma sociedade desigual, racista, homofóbica, violenta, preconceituosa e estigmatizante só aumenta todos esses riscos. Sem endereçar esse desafio coletivo, nossos jovens, principalmente os mais excluídos, continuam extremante vulneráveis. 

Procure ajuda

Se você não está bem ou enfrenta uma fase crítica, divida suas dificuldades com outras pessoas que possam ajudar. O sofrimento mental agudo e a ideação suicida são emergências que podem precisar de atendimento imediato. Aqui está uma pequena lista de serviços que podem ser úteis para você ou para alguém que você conhece:

-Centro de Valorização da Vida (CVV) telefone 188 e https://cvv.org.br/

-Instituto Vita Alere de Prevenção e Posvençao do Suicídio: https://vitaalere.com.br/

-Mapa da Saúde Mental: https://mapasaudemental.com.br/

-Pode falar: https://www.podefalar.org.br/

*Jairo Bouer é médico psiquiatra e comunicador e escreve semanalmente no Terra Você

Fonte: Jairo Bouer
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