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Sandy, Lucas Lima, Luísa Sonza e Walewska: a evasão da privacidade te incomoda?

Celebridades usam as redes sociais para dividir sua intimidade em momentos sensíveis. Será esse o preço a pagar pela cultura da exposição?

29 set 2023 - 05h00
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Pais da campeã olímpica Walewska divulgaram uma carta aberta aos fãs após a morte trágica da filha
Pais da campeã olímpica Walewska divulgaram uma carta aberta aos fãs após a morte trágica da filha
Foto: Reprodução/Instagram/@walewska.oliveira

Na última semana a jogadora de vôlei Walewska Oliveira, campeã olímpica em Pequim-2008, 43 anos, morreu ao cair do 17º andar do prédio em que vivia em São Paulo. Não demorou para que as redes sociais e os veículos de comunicação confirmassem a suspeita de um suicídio. 

Tema sensível, ainda mais em setembro, mês que dedicamos a tratar do tema da saúde mental e da prevenção do suicídio, o consenso entre especialistas é que devemos falar do assunto de forma responsável, alertar as pessoas sobre a importância dessa discussão, e oferecer informações sobre espaços e recursos para prevenção e acolhimento das pessoas em sofrimento emocional. 

Profusão de detalhes

É lógico que a morte de Walewska gerou uma grande comoção e que a mídia, de uma maneira geral, tratou a noticia de forma adequada. Mas o diabo está, literalmente, nos detalhes. E quantos detalhes! 

Será que a gente precisava saber que ela subiu na cobertura do prédio com uma garrafa de vinho, uma taça e seu celular? Que mandou uma última mensagem ao marido, com quem estava vivendo uma crise e lidando com a possibilidade de uma separação? E que ele respondeu quase instantaneamente a mensagem?

Será que é necessário saber quem pagou ou deixou de pagar as despesas com o velório? Quem pegou as roupas na portaria do prédio para vestir a jogadora? As tensões entre a família e o marido deveriam ter sido divididas? A quem interessa essa profusão de detalhes? Se Walewska pudesse escolher, será que gostaria dessa evasão da sua vida íntima e familiar? E como se sentem as pessoas mais próximas ao ler todas essas informações na internet e nos jornais? 

Em uma sociedade cada vez mais digital, em que existe uma certa espetacularização da intimidade, será que conseguimos colocar barreiras e freios nessa evasão de detalhes da nossa vida pessoal, principalmente em momentos tão sensíveis? Se uma família enfrenta a perda de alguém querido pelo suicídio, será que há condições emocionais para dividir a dor, o sofrimento e as emoções com os curiosos de plantão? 

Ávidos por informações

Sim, porque vale aqui uma mea-culpa coletiva. Se as redes sociais publicam e os veículos de mídia tradicional repercutem, os receptores dessas informações somos todos nós, que representamos um público cada vez mais ávido, de uma forma ou outra, por esses detalhes. 

A mesma linha de raciocínio pode ser adotada no caso da traição que Luísa Sonza sofreu por parte do seu “amado” Chico, quatro meses depois de um namoro intenso, com direito inclusive a trilha sonora criada pela própria cantora. 

Será que a gente precisava saber em que banheiro o rapaz teria “ficado” com uma ex? Será que era mesmo necessário compartilhar todo esse sofrimento? Será que tantas novas versões da música, com algum grau ironia ou sarcasmo, precisavam ter invadido as redes? 

Luísa Sonza e Chico; separação foi anunciada ao vivo no programa de Ana Maria Braga
Luísa Sonza e Chico; separação foi anunciada ao vivo no programa de Ana Maria Braga
Foto: Reprodução/Instagram/@luisasonza

O direito ao silêncio

Será que, no fundo, Luísa não preferia ter curtido sua dor em silêncio? Não há como saber, inclusive porque a própria pressão dos seguidores e da opinião pública pode ter feito com que ela topasse dividir seu sofrimento, ao vivo, em um programa de TV. Ou teria sido uma oportunidade de expor o rapaz, em um momento de raiva, afinal quem nunca teve vontade de fazer isso em uma situação semelhante? A diferença é que na era do digital, definitivamente, “roupa suja” não parece mais ser lavada em casa. 

Talvez a mais recente de todas as situações de exposição da privacidade tenha sido a separação de Sandy e Lucas Lima, depois de um casamento de 24 anos que parecia, para muita gente, ser eterno. Não era! Como boa parte das relações contemporâneas, os casamentos têm começo, meio e fim, e isso não significa que eles não deram certo. Sim, eles funcionam por muitos e muitos anos, mas acabam. 

Parece que era uma conversa que já vinha acontecendo entre os dois há um bom tempo, e eles tiveram a maturidade de terminar. Não deve ser fácil lidar com todas essas emoções em um momento de separação, e ainda ter que dar conta das expectativas de milhões de fãs. 

Estratégias de comunicação

Os dois tiveram que se explicar, justificar, fazer comunicados, ir a programas de TV, para evitar distorções da realidade e a criação de versões pouco confiáveis de gente que está sempre atrás de uma teoria da conspiração e de motivos sórdidos para o fim. Até uma atriz, colega do músico, teve que ir às suas redes para dizer que não tem nada a ver com essa história, e ainda ganhou corações tanto de Sandy como de Lucas.

De novo, lembrando um pouco o comportamento mais reservado tanto de Sandy, como de Lucas Lima, será que se eles pudessem escolher, gostariam de estar dividindo sua intimidade com tanta gente? Parece estar cada vez mais difícil ter direito a um momento de privacidade em um momento de dor. Isso te incomoda? Ou não?

Sandy e Lucas Lima anunciaram a separação após 24 anos de relacionamento
Sandy e Lucas Lima anunciaram a separação após 24 anos de relacionamento
Foto: Reprodução/Instagram/@sandyoficial

Se você não está bem e precisa de ajuda, entre em contato com o CVV (www.cvv.org) pelo número 188 ou busque atendimento e suporte no Mapa de Saúde Mental (https://mapasaudemental.com.br/). Lembre-se: caso presencie uma emergência médica, entre em contato com o Corpo de Bombeiros (193) ou com o Samu (192).

*Jairo Bouer é médico psiquiatra, comunicador e publica suas colunas no Terra Você às sextas-feiras

Fonte: Jairo Bouer
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