Tenista revelação João Fonseca evita redes sociais: isso melhora o desempenho?
Discreto nas redes sociais, o atleta contou que durante os torneios chega a apagar o Instagram do celular e usa o Whatsapp o mínimo possível
A atual sensação do tênis brasileiro, o carioca João Fonseca, de 17 anos, chegou às quartas de final do Rio Open 2024 na última semana. É o mais jovem brasileiro desde Guga a alcançar essa fase em um torneio da ATP. Em 2023, João já havia sido campeão do US Open juvenil e terminado o ano como número 1 do mundo na categoria. Será que o uso mais restrito das redes sociais ajuda sua evolução como atleta?
Atualmente o tenista enfrenta um dilema em sua carreira: precisa decidir se segue no tênis profissional ou se migra para o tênis universitário (amador), sem receber os prêmios pelas participações no circuito internacional.
Qualquer que seja a direção adotada, o atleta sabe que terá que investir muito tempo, foco e dedicação aos treinos e competições. João, que já é bastante discreto em suas redes sociais, contou recentemente que durante os torneios chega a apagar o Instagram do celular e usa o Whatsapp só o mínimo necessário. Com isso, ele se concentra melhor em seus objetivos.
O comportamento do tenista é atípico em uma geração que vive atrás das telas, compartilhando momentos e espiando o que os outros andam fazendo. Para muitos especialistas a ligação quase umbilical do jovem com as tecnologias está produzindo impactos na saúde mental e na vida dos estudantes, como a piora na atenção e concentração na escola.
Escolas proíbem uso do celular
Como reação a esse fenômeno, vários estabelecimentos de ensino e redes de educação têm adotado políticas mais restritivas em relação ao uso do celular. No início do ano, por exemplo, a prefeitura do Rio de Janeiro, decidiu proibir o uso de celulares e outros dispositivos eletrônicos nas escolas da rede pública municipal, dentro e fora da sala de aula.
Para o secretário de Educação do Rio, Renan Ferreirinha, a conexão deve ser mais com a escola e menos com o celular, já que as tecnologias poderiam prejudicar o processo de aprendizagem. Estudos internacionais têm demonstrado esse prejuízo e diversos países, como França, Holanda, Itália, Reino Unido, Portugal, México, Canadá, além de alguns estados da Austrália e dos Estados Unidos, já adotaram restrições semelhantes.
No decreto do Rio existem algumas exceções em que se permite a eventual utilização dos celulares, como antes da primeira aula do dia e após a última, além de situações em que os professores liberam o uso para fins de pesquisa ou trabalhos pedagógicos. A medida na cidade foi implementada após consulta pública com cerca de 10 mil contribuições, em que mais de 83% dos participantes foram favoráveis à proibição.
Ansiedade e falta de concentração
Um relatório da Unesco (Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura) de 2023 já alertava sobre os impactos negativos das tecnologias no desempenho escolar. E uma pesquisa de dezembro da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), responsável pelo Programa Internacional de Avaliação dos Estudantes (PISA), mostrava que 45% dos alunos se sentiam ansiosos ou nervosos quando ficavam longe do celular, e que 65% se distraíam nas aulas por conta das tecnologias.
O Rio não está sozinho. Uma série de escolas públicas e privadas em diversas cidades do país também têm adotado restrições ao uso dos celulares frente à percepção crescente dos impactos na saúde mental, comportamento e aprendizado dos alunos. As medidas variam de um estabelecimento para outro, mas idealmente são resultado da discussão com a comunidade escolar, incluindo professores, alunos e familiares.
Em São Paulo, apesar do governo não proibir celulares na rede de ensino, existe uma preocupação com as consequências do seu uso na vida dos estudantes, e desde o ano passado há um bloqueio no acesso às principais redes sociais e plataformas de streaming como TikTok, Instagram, Youtube e Netflix no ambiente escolar. Em 2024, a medida foi estendida ao setor administrativo das escolas.
E você, apoia um maior controle no uso das tecnologias enquanto seu filho está estudando, na escola ou mesmo em casa? Tem feito sua parte nessa mediação? O diálogo e a negociação desse tema com os jovens certamente não são fáceis, mas estabelecer algumas regras e limites pode ser bem importante, principalmente para os mais novos. Que tal discutir essas medidas com eles e com seus professores?
*Jairo Bouer é médico psiquiatra e escreve semanalmente no Terra Você.