Um em cada sete adolescentes está sofrendo com transtornos mentais; o que fazer?
Além dos transtornos mentais, um número muito alto dos adolescentes enfrenta sofrimentos psicossociais significativos.
Um novo estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS) revela que um em cada sete adolescentes está enfrentando questões de saúde mental, principalmente transtornos de ansiedade e depressão. Outras condições como abuso de substâncias, transtornos alimentares e comportamento suicida também aparecem na pesquisa.
O trabalho fez uma revisão sistemática de uma série de estudos com jovens de 10 a 19 anos a partir de 2010. Além dos transtornos mentais, um número muito alto dos adolescentes enfrenta sofrimentos psicossociais significativos que não chegam a configurar um diagnóstico.
Um outro estudo recente realizado com jovens de 10 a 17 anos na Austrália, Canadá, Chile, México, Reino Unido e Estados Unidos pela Universidade de Waterloo (Canadá) mostrou que a maior parte dos jovens nas redes sociais está insatisfeita com seu corpo, isso significa enfrentar sentimentos negativos persistentes sobre a própria aparência. Essas questões podem aumentar o risco de transtornos de imagem corporal, transtornos alimentares, ansiedade e depressão.
55% dos adolescentes pesquisados nesses países contaram estar infelizes com seus corpos. E adivinhe? O índice de insatisfação aumentava com o maior tempo de uso das redes sociais.
Vários fatores ajudam a explicar o que tem acontecido com a saúde mental dos mais novos ao redor do mundo. Violência, preconceito, pobreza, desigualdade social, guerras, insegurança com o futuro, distância afetiva dos pais e a pandemia podem ser apontados como alguns deles. Mas o uso frequente das telas e tecnologias, com certeza, tem um peso importante e crescente nessa equação.
Muitos jovens conseguem relacionar o uso das telas (sobretudo das redes sociais) com uma percepção mais negativa das suas emoções e da insatisfação com seu corpo. No entanto, eles reconhecem uma dificuldade em moderar o uso para reduzir esse impacto.
Um terceiro estudo, realizado pela Universidade do sul da Austrália, ajuda a entender um pouco melhor esses mecanismos. Foram entrevistados mais de 50 mil estudantes de 7 a 19 anos. E o resultado mostra que o uso excessivo dos celulares, a falta de sono e o bullying virtual (cyberbullying) têm piorado muito a saúde física e mental dos jovens.
O uso das telas avança noite adentro, priva os jovens de sono, aumenta seus níveis de estresse e, ainda, os expõem a violências e agressões virtuais. As garotas são ainda mais impactadas do que os garotos pelo uso mais precoce e frequente das redes sociais, pela maior pressão sem relação à sua imagem corporal e pela maior exposição ao bullying virtual.
O três estudos convergem para apontar a importância das questões de saúde mental entre os adolescentes de hoje, e o impacto crescente que o uso de telas e redes sociais têm em sua qualidade de vida e bem-estar. Por isso, é cada vem mais central pensar em educação digital (em casa e nas escolas) e em limites mais claros do uso dessas tecnologias pelas crianças e jovens. E como será discussão tem acontecido com seus filhos?
*Jairo Bouer é psiquiatra e escreve semanalmente no Terra Você.