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Volta às aulas: o que fazer para ajudar seu filho?

2 fev 2024 - 05h00
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É tempo de volta às aulas
É tempo de volta às aulas
Foto: iStock

Boa parte dos adolescentes brasileiros, depois de longas férias, está retornando às salas de aula em todo o país. Se, de um lado, a volta à escola significa uma rotina que ajuda na organização da vida dos jovens, do outro, ela pode trazer algumas fontes de estresse e impactos no padrão de sono que exigem uma readaptação, fase que pode ser mais complicada para alguns deles. O que fazer para ajudá-los?

É bom lembrar que nas férias, além de ficarem mais relaxados e menos expostos a potenciais gatilhos de estresse, eles dormem e acordam mais tarde. Com a volta das aulas, essa antecipação do horário de ir para a cama e, depois, de pular fora dela funciona como uma espécie de ajuste de “fuso horário”. Eles têm que se “desligar” mais cedo, conseguir conciliar o sono e, assim, poder despertar duas ou três horas antes do que vinham fazendo.

Alguns trabalhos apontam que, além de precisarem de mais horas de sono que os adultos, o ciclo circadiano (ritmo que o corpo realiza suas funções ao longo dia) dos jovens funciona um pouco atrasado em relação ao dos adultos. Eles têm sono mais tarde e tendem a ficar mais dispostos e atentos se despertarem mais tarde também. Com base nesses achados, alguns países até recomendam que o ideal seria que as aulas dos adolescentes começassem duas ou três horas depois do que começam hoje aqui no Brasil. 

Nas férias, esse “atraso” natural do relógio biológico encontra uma situação ideal para funcionar. Assim, na retomada das aulas, pode ser mais difícil quebrar esse ritmo e fazer com que eles estejam animados logo de cara. Moral da história: o ideal seria que, na semana anterior ao começo das aulas, eles antecipassem em cerca de meia a uma hora por dia tanto o horário de ir dormir como o de despertar. Fácil? Não! 

Um inimigo importante dessa readaptação ao novo ritmo são as tecnologias, cada vez mais onipresentes na vida deles. Objeto de desejo dessa geração e uma extensão do próprio corpo do jovem, “desmamar” do celular é uma batalha árdua nesse retorno, já que, em geral, acontece um aumento do tempo de conexão nos meses de descanso. As pesquisas também mostram que o ideal é não ficar exposto a nenhuma tela de 30 minutos a uma hora antes da hora de ir para cama. Tranquilo? Claro que não!

A negociação tanto do horário de dormir como da importância de não ficar até tarde na frente do celular é uma tarefa árdua na maior parte das famílias, o que pode gerar alguns conflitos e desgastes. Mas sem limites e controles claros, dificilmente eles vão conseguir mudar o hábito por conta própria. 

A volta à escola também traz à cena outras responsabilidades: horários, assiduidade, foco e atenção aos conteúdos, relacionamento com outras figuras de autoridade (professores, diretores), trabalhos, estudos, provas e convivência social. Tudo isso pode ser desafiador para o jovem contemporâneo, principalmente depois desse afastamento de quase dois meses dessas tarefas.

Dificuldade em manter a concentração, seguir compromissos e metas, ter que obedecer uma série de regras e limites, entender o espaço e o tempo dos colegas, se expor ao julgamento e escrutínio alheio, tudo isso pode se fator gerador de estresse para uma geração que muitas vezes não possui irmãos em casa, tem pais que não estabelecem regras e limite claros, enfrenta uma tremenda dificuldade de atenção e tem baixa tolerância a críticas e controles. 

Nesse sentindo, é central que os pais estejam presentes nessa fase de readaptação, reforçando a necessidade de se respeitar as normas de funcionamento da escola e a figura do professor, e ressaltando a importância da convivência e respeito com os pares. É bom lembrar que a qualidade e a quantidade de sono, bem como a moderação no uso das tecnologias, são fatores determinantes para a atenção e concentração dos jovens nas aulas.

Caso o filho esteja enfrentando questões importantes de sono, atenção ou ansiedade nesse retorno, que não se resolvem após as primeiras semanas de aula, é uma boa ideia conversar com a coordenação pedagógica, ou ainda, recorrer a uma avaliação de um especialista para entender o que pode ser feito! Logo logo, as novas rotinas entram nos eixos! Boa volta às aulas!

*Jairo Bouer é médico psiquiatra e escreve semanalmente no Terra Você

Fonte: Jairo Bouer
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