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Como a fome afeta o cérebro?

A privação de nutrientes tem consequências a curto e longo prazo. Alguns podem ser irreversíveis Sentir fome nada mais é do que a falta de ingestão de alimentos fundamentais para suprir as necessidades básicas do organismo e manter suas funções vitais. É o estado no qual o corpo sente a carência de nutrientes e vitaminas, […]

1 out 2024 - 14h16
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A privação de nutrientes tem consequências a curto e longo prazo. Alguns podem ser irreversíveis

Sentir fome nada mais é do que a falta de ingestão de alimentos fundamentais para suprir as necessidades básicas do organismo e manter suas funções vitais. É o estado no qual o corpo sente a carência de nutrientes e vitaminas, e tem o seu bem-estar comprometido. O que afeta não apenas a saúde física, mas também a mental.

Foto: Pixabay
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Foto: Revista Malu

"A fome pode causar diversas alterações no cérebro, incluindo a diminuição de neurotransmissores como a serotonina, o que afeta o humor. Além disso, a desnutrição pode levar à atrofia cerebral. Isso afeta áreas relacionadas à memória, aprendizado e emoções", esclarece Flávio Henrique, médico com mais de 10 anos de experiência em psiquiatria.

A fome tem efeitos a curto e longo prazo 

Precisamos pontuar que há uma diferença crucial entre a fome aguda e a fome crônica. A fome aguda é aquela que sentimos quando passamos algumas horas sem comer. Seja por seguir uma dieta, por falta de tempo ou apenas ausência de alimentos durante o período entre uma refeição e outra. Nesses casos, o cérebro desencadeia respostas imediatas de busca por comida, já que sente instantaneamente a carência de energia. "Isso gera sintomas como tonturas e fraqueza, causando também uma redução no suprimento de nutrientes essenciais, afetando a plasticidade cerebral e prejudicando a memória, a cognição e a função executiva."

"O instinto de busca por alimentos, assim como o estresse causado pela fome, podem levar a dificuldades de concentração, lentidão cognitiva e tomada de decisões impulsivas. Isso prejudica a capacidade de avaliar riscos e benefícios de maneira equilibrada", pontua o profissional.

Depois de um tempo…

Já a longo prazo, os efeitos da desnutrição e fome extrema podem ocasionar problemas mais graves. Estes incluem aumentar os riscos de doenças como pressão alta, doenças cardíacas, diabetes e maior predisposição para obesidade. Além de forçar um tipo de funcionamento do corpo que leva à consequências, muitas vezes, irreversíveis. "A fome crônica resulta em adaptações a longo prazo no cérebro para economizar energia, levando à redução da função cognitiva."

Na infância, por exemplo, a desnutrição causada pela fome pode ter impactos duradouros no desenvolvimento cerebral. "Principalmente por afetar o desenvolvimento de determinadas regiões que chegam ao seu ápice apenas na adolescência. Isso pode levar a atrasos no desenvolvimento cognitivo e aumentar o risco de problemas de saúde mental na idade adulta", alerta Henrique.

A fome afeta diretamente as emoções 

Apesar de muitas vezes apresentar sintomas fisiológicos, como um incômodo no estômago, dores de cabeça e a famosa "barriga roncando", a falta de comida afeta diretamente o humor e as emoções. "Pessoas famintas podem experimentar agressividade, ansiedade e depressão devido às alterações nos neurotransmissores cerebrais e às preocupações com a obtenção de alimentos, principalmente em casos crônicos", explica o psiquiatra. Prova disso é que a fome está associada a um maior risco de distúrbios psiquiátricos, como depressão e ansiedade, como aponta Henrique.

Panorama preocupante

Os números que envolvem esse tema representam um problema grave a ser debatido e resolvido no planeta. 21 milhões de pessoas não têm o que comer todos os dias no Brasil, enquanto 70,3 milhões de brasileiros estão em situação de insegurança alimentar. No mundo, 735 milhões de habitantes sofrem com a fome e 2,3 milhões com a vulnerabilidade alimentar.

Esses dados são de um relatório publicado pela Organização das Nações Unidas (ONU), sobre o Estado da Segurança Alimentar e Nutrição no Mundo (SOFI), publicado em conjunto por cinco agências especializadas das Nações Unidas - Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), o Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola (FIDA), o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Programa Mundial de Alimentos (WFP). 

Origem e consequências da fome

A fome extrema pode ser causada pela pobreza ou ser consequência de transtornos alimentares, "pois essas condições envolvem uma relação complexa com a comida, muitas vezes resultando em restrição alimentar extrema ou episódios de compulsão alimentar", afirma Henrique. De qualquer forma, essas pessoas experimentam as alterações no cérebro de forma constante e cada vez em maior quantidade. 

Com uma oferta energética praticamente nula, a tendência é que o sistema nervoso central sinta vontade de "desligar", já que entende a fome como uma punição da qual ele não consegue se livrar. Assim, os neurônios ficam anestesiados pela sensação da fome e prolongam esse sofrimento. 

Com uma queda cada vez mais brusca dos níveis de serotonina e dopamina, quem sofre com a falta de comida pode apresentar quadros como ansiedade, fobia social, depressão, síndrome de pânico, problemas sérios de autoestima, além de transtorno obsessivo-compulsivo. O que nos leva a fome tem um custo muito maior para os governos do que investir em programas sociais para resolvê-la.

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