Como lidar com a despedida de alguém especial
Quando temos que nos despedir de uma pessoa amada, o mais importante é entendermos o grande poder do tempo
A parte mais dolorida de uma despedida é a permanência. É um paradoxo interessante: a pessoa se vai porque foi morar em outro país; está estudando em outro lugar; ou, às vezes, porque ela nem está aqui na mesma dimensão que nós. Essa pessoa foi parar num daqueles muitos outros lugares que as religiões e a espiritualidade contam para nós que existem.
Um dia, cada uma dessas pessoas importantes e amadas vai ser encontrada de novo por nós, porque a nossa alma é permanente. Mas como lidar com esse paradoxo que a pessoa está ausente, mas dolorosamente presente em nós? Ela pulsando no nosso coração, dolorida, e de um tipo de dor que não queremos retirar... porque parece que se parar de doer vamos parar de amar, parar de sentir. E não é assim.
Certa vez, o meu mestre me impactou com uma frase muito importante: “a única solução para uma dor de amor é amar mais”. Não amar da mesma maneira rasa que nos faz doer um amor apegado e imediatista. Amar mais de uma forma mais elevada, mais transcendente. Um amor mais altruísta, menos egoísta. Um amor que tem um grande alcance, que chegue até as alturas ou as distâncias onde aquela pessoa amada está. Às vezes, amar é um expandir de si mesmo para que você consiga dizer: “mesmo permeado de saudades, que bom que eu te amo”.
O alcance da nossa capacidade de amar é suavemente expandido pela saudade. A saudade é a dor que essa falta nos faz. E, através da saudade, exatamente para conseguirmos fazer parar de doer, vamos treinando um amor maior, como se a gente dissesse: “Não importa que você esteja a mil milhas de distância, não importa as suas setecentas léguas, não importa que você esteja em outra dimensão, outro plano, outra camada das esferas do céu, eu amo você, ainda amo e continuarei a amar”.
Embora inicialmente isso cause uma dor, vamos começando a perceber que aquilo que nos doía, começa a transmutar. Transmutação é uma palavra forte, porque transformar é mudar de forma, mas transmutar é redefinir a energia. E, através dessa transmutação, vamos pegando a energia de um amor que precisa que a pessoa esteja imediatamente ali e vamos colocando uma nova consciência, um tipo de amorosidade em que sente a essência da pessoa, mesmo quando a forma está distante.
A escolha da despedida
Lidar com uma despedida e com a saudade é de certa forma uma escolha. Ou você terá uma dor da permanência, porque a pessoa se foi, mas está dentro de você. Ou você terá a alegria da permanência — porque a pessoa se foi, mas está dentro de você. É sempre a permanência que vai importar. Se ela for uma permanência doída, porque você faz questão da forma da pessoa, aquilo vai ser terrível. Se ela for uma permanência linda, porque ao fechar os olhos você diz “eu ainda sinto aqui a pessoa dentro de mim, eu amo tanto”, ela vai se tornar, ainda que um pouco dolorida, como um machucado que nunca termina de curar, mais delicada, minimizada por uma grande alegria interna.
Quando temos que nos despedir de uma pessoa que está indo para longe, o mais importante é entendermos o grande poder do tempo. O tempo não é nosso inimigo. O tempo é algo mágico que vai dissolvendo tudo que não importa e mantém o mais importante. Se você se lembrar da sua infância, você esqueceu de muitos dias, mas os mais importantes ainda ficam.
Olhar nos olhos de alguém que você tem que se despedir é fazer esse exercício com o tempo: “Ó grande tempo, dissolva tudo aquilo que não importa e mantenha o mais essencial”. A partir desse essencial, você consegue transformar a permanência daquela pessoa, de dolorida para uma permanência maravilhosa, como quem diz:
— “Eu não abro mão de lhe guardar no meu coração para sempre, até nos encontrarmos de novo e sorrirmos juntos numa etapa nova, diferentes, conscientes da imortalidade da alma e da alegria simples que temos na conversa dos nossos corações”.