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A armadilha de querer ser perfeito nas redes sociais

16 dez 2024 - 06h15
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Resumo
A internet projetas estilos de vida aparentemente perfeitos, causando sentimentos de inadequação e fracasso nos jovens.
Foto: Freepik

A internet se tornou parte central da vida dos jovens, funcionando como uma vitrine de imagens e narrativas idealizadas que muitas vezes estão longe da realidade. Plataformas como Instagram, TikTok e YouTube projetam estilos de vida aparentemente perfeitos, com corpos idealizados, sucesso profissional precoce e relacionamentos sem conflitos. Essa exposição constante a um padrão de vida irreal alimenta nos jovens sentimentos de inadequação e fracasso, já que a comparação com esses ideais inatingíveis pode provocar angústia, ansiedade e até mesmo sintomas de depressão.

Na perspectiva psicanalítica, a exposição à "vida perfeita" na internet intensifica o conflito entre ego e superego. Enquanto o ego busca mediar desejos e realidade, o superego atua como um regulador rigoroso, guiado por valores sociais e regras de conduta herdadas. Freud destaca que essa função do superego estabelece ideais e limites, mas, diante de padrões irreais, pode acentuar sentimentos de inadequação.

Na era digital, os ideais são distorcidos e exagerados, impondo aos jovens metas irreais. A internet permite a criação de um "Eu ideal", exibido em fotos e vídeos editados, que mascaram falhas e angústias reais. Essa versão idealizada pode afastá-los ainda mais de sua verdadeira identidade, alimentando insatisfação e autocrítica. A psicanálise aponta que essa busca incessante pelo ideal aprofunda a divisão interna do sujeito.

O jovem, ao tentar sustentar uma imagem perfeita para os outros, enfrenta uma frustração constante por não alcançar essa idealização. Essa tensão interna pode resultar em sintomas como depressão, quando o indivíduo perde o sentido de suas conquistas, ou ansiedade, caracterizada pelo medo de ser exposto como imperfeito.

O uso excessivo das redes sociais pode alimentar, ainda, uma obsessão por aparência, aprovação e sucesso, tornando a vivência online uma armadilha psíquica. Na psicanálise, o analista ajuda o jovem a reconhecer e enfrentar essas expectativas irreais, oferecendo um espaço de reflexão onde ele pode expressar suas frustrações sem máscaras, diferente do mundo virtual.

A psicanálise oferece ao jovem um espaço para desconstruir a imagem idealizada criada pela pressão por perfeição. O processo terapêutico ajuda a reconhecer as limitações, ressignificar experiências e construir uma relação mais autêntica consigo mesmo, enfrentando os impactos psíquicos da "vida perfeita" promovida pelas redes sociais. Além disso, propõe uma reconciliação com o desejo e a aceitação das imperfeições, mostrando que a busca pela perfeição é uma ilusão que aprisiona, enquanto a aceitação de si mesmo abre caminho para a verdadeira liberdade.

Assim, é importante pensar:

Evite comparações com padrões inalcançáveis exibidos nas redes sociais;

Aceite falhas, uma vez que são fundamentais para construir uma relação saudável consigo mesmo;

Valorize sua identidade real, sem ceder à pressão de criar um "Eu ideal" online;

A psicanálise pode ajudar a ressignificar expectativas e lidar com os impactos das redes.

(*) Luíza Girolamo Canato é psicanalista, professora do curso de Psicologia da Esamc Santos, mestre e doutoranda em Educação.

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