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A estrela em ascensão do futebol inglês que perdeu tudo para um vício em cocaína que custava R$ 11 mil por mês

Comparado ao craque Wayne Rooney na adolescência, George Green teve a carreira destruída pela vida de excessos e agora tenta se recuperar.

26 set 2018 - 05h10
(atualizado às 11h25)
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Green estima que ganhou cerca de meio milhão de libras com o futebol, mas gastou tudo - só lhe sobrou um iPad
Green estima que ganhou cerca de meio milhão de libras com o futebol, mas gastou tudo - só lhe sobrou um iPad
Foto: Chester FC / BBC News Brasil

É outubro de 2011 e o britânico George Green, de 15 anos, está viajando para Londres para uma "peneira" (processo seletivo de jogadores de futebol) no Tottenham Hotspur. Mas uma ligação telefônica muda tudo. Bradford City, o time em que ele jogava, havia feito um acordo de 2 milhões de libras para transferi-lo ao Everton, de Liverpool.

Pouco depois, Green assinou um contrato de dois anos e meio e recebeu um pagamento inicial de 45 mil libras (cerca de R$ 244 mil) em três parcelas.

Quatro anos depois, ele está esperando o trem próximo a sua cidade natal - queria se jogar nos trilhos e tirar a própria vida. Sua esperança de se tornar um jogador da Premier League, a liga profissional de futebol inglês, fora destruída pela cocaína e pelo álcool.

"Eu estava muito endividado, pensava que tinha perdido minha companheira por causa das drogas e não via um caminho de volta no futebol", disse o jogador, hoje com 22 anos, à BBC Sport.

Agora, depois de se recuperar do vício e jogando no Chester, ele diz que "saúde mental e vício são batalhas diárias".

"Estou tentando o meu melhor. Se outros puderem aprender com a minha história, eu quero ajudar."

Comparado ao craque Wayne Rooney na adolescência, Green teve a carreira destruída pela vida de excessos e agora tenta se recuperar
Comparado ao craque Wayne Rooney na adolescência, Green teve a carreira destruída pela vida de excessos e agora tenta se recuperar
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Um vício em cocaína de R$ 11 mil por mês

Quando começou a jogar no Everton, Green foi comparado ao craque Wayne Rooney, que começou a jogar no mesmo clube aos 16 anos.

"Antes de eu fazer 18 anos você não me veria à noite na rua. Mas, assim que fiz 18, foi como se um mundo novo se abrisse. Eu estava jogando futebol e podia beber e usar drogas."

"Na primeira vez em que usei drogas, eu tinha ido assistir a um jogo em um pub com meus amigos. Me ofereceram cocaína, e isso mudou minha vida."

No início, ele conseguiu esconder o hábito de seu treinador e da comissão técnica do time. Em pouco tempo, contudo, usava pelo menos 30 gramas de cocaína por mês.

"Eu gastava mais de 2 mil libras (R$ 11 mil) por mês. Me lembro de uma segunda-feira em que eu deveria ter ido treinar pela manhã, mas só acordei à tarde. Na noite anterior eu tinha bebido e usado drogas na casa de um amigo. Foi aí que o alarme soou no Everton."

"Me lembro de ligar chorando para um dos funcionários responsáveis pelo bem-estar dos jogadores do Everton uma noite. Eu disse: 'Preciso de ajuda'. E pouco depois fui internado no Hospital Priory, em Londres (que oferece tratamentos para distúrbios mentais e vícios)."

Depois da internação, Green foi emprestado a um time menor e recebeu a notícia de que o Everton não o queria mais.

Aos 19 anos, Green foi da liga principal do futebol inglês para um time semi-profissional, em apenas seis meses
Aos 19 anos, Green foi da liga principal do futebol inglês para um time semi-profissional, em apenas seis meses
Foto: Ossett / BBC News Brasil

'Sobrou apenas um iPad'

Green acredita que ganhou pelo menos meio milhão de libras jogando futebol.

"Mas só sobrou um iPad. Isso é o quanto a minha vida desandou por causa das drogas", lamenta.

"Gastei tudo e tenho muita vergonha."

Em uma saída à noite com amigos em Yorshire ele gastava pelo menos 1,5 mil libras.

"Eu achei que nunca iria parar de ganhar aquele dinheiro. Saía para jantar, uma garota sentava do meu lado e eu já perguntava: 'Quer uma garrafa de champanhe?'."

"Todo mundo queria saber quem eu era, e eu estava aproveitando a vida. Mas nunca conheci pessoas que me mantivessem na linha", diz.

Como parte do novo estilo de vida, Green comprou uma Mercedes-Benz Classe A - um carro de mais de 20 mil libras. Mas gastou mais 4 mil libras apenas em reparos.

"Eu era ridículo, dirigia bêbado para todos os lugares."

Antes de começar a ter problemas com bebida e drogas, Green chegou a ser comparado com o craque Wayne Rooney
Antes de começar a ter problemas com bebida e drogas, Green chegou a ser comparado com o craque Wayne Rooney
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Fim da carreira profissional e pensamentos suicidas

Green passou por quarto clubes depois de deixar o Everton. No último deles, assinou um contrato de dois anos, mas ficou apenas cinco meses, até novembro de 2015.

"Eu perdi a paixão pelo futebol, não queria mais jogar", relembra.

O adolescente sofria de depressão, estava com problemas financeiros e tinha sido condenado por beber e dirigir.

Mas ainda conseguiu um contrato com um pequeno time semiprofissional de Yorshire, que lhe pagaria apenas 80 libras por jogo.

Em seis meses, ele foi da liga principal do futebol britânico para o futebol amador. Foi nesse momento que começaram os pensamentos suicidas.

"Me lembro de ficar parado nos trilhos perto de Dewsbury (em Yorkshire), esperando o trem chegar. Eram oito ou nove da noite. Eu nem tinha deixado um bilhete."

"De repente, alguém anunciou nos alto-falantes que o próximo trem estava atrasado. Pensei: 'Deve ser um sinal de que não chegou a minha hora'. Comecei a chorar e saí dali", conta.

Mas os problemas de Green continuaram e, no início de 2017, ele tomou uma overdose de medicamentos em casa e foi levado às pressas para o hospital.

Green tem dois filhos e tenta reconstruir a vida, mas chegou a ter uma recaída do uso de drogas em abril
Green tem dois filhos e tenta reconstruir a vida, mas chegou a ter uma recaída do uso de drogas em abril
Foto: George Green / BBC News Brasil

'Sem futebol, eu estaria morto'

Atualmente, Green mora perto de Dewsbury com sua noiva, Charli, e a filha de dois anos, Daisy. Eles esperam o nascimento de um menino em outubro.

Ele agora dirige um carro popular todos os dias até o Chester, time da quinta divisão no qual joga desde julho.

O jogador frequenta reuniões de alcóolicos anônimos e dos narcóticos anônimos, mas chegou a ter uma recaída no último mês de abril.

Seu principal apoio é o ex-zagueiro da seleção inglesa Gary Charles, que também é alcoólatra em recuperação, chegou a ser preso e fundou duas empresas que oferecem tratamento e suporte a atletas e executivos que enfrentam depressão e dependência de álcool e drogas.

"Não fico um dia sem falar com ele. Ele salvou minha vida", diz Green.

O novo clube de Green é propriedade de seus torcedores, que o administram por um fundo comunitário. A equipe também tem uma sessão semanal de conversas sobre saúde e bem-estar, que oferece a membros vulneráveis da sociedade a chance de jogar futebol como parte de seu processo de recuperação.

Green ainda não começou a jogar, no entanto. Ele tem uma lesão na coluna e provavelmente precisará de uma cirurgia.

"Futebol é a única coisa na qual eu sou bom. Sem isso eu estaria morto", afirma.

"Achei que minha carreira terminaria para sempre depois que eu comecei a falar do meu vício em drogas. Mas aí disse a mim mesmo: 'Que tal ser honesto uma vez na vida e admitir seus problemas?'"

Veja também:

Os clássicos de maior rivalidade no futebol segundo o Daily Mirror:
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