Academia: afinal, pode ou não treinar descalço?
Descubra as vantagens, riscos e cuidados dessa prática que se tornou muito popular nas academias
Você já deve ter visto alguma pessoa na sua academia realizando o treino descalço, e essa é uma prática que tem ganhado popularidade entre praticantes de musculação e treinamento funcional. Mas será que isso é realmente benéfico ou pode trazer riscos? Fábio Vieira, PhD em Ciências do Movimento Humano e pós-doutor em Neurociências, esclarece essa questão e discute as vantagens e cuidados necessários para quem deseja aderir a esse estilo de treino.
Por que treinar descalço?
Segundo o Dr. Fábio Vieira, um dos principais motivos que levam as pessoas a treinarem descalças é a melhora da propriocepção, que é a capacidade do corpo de reconhecer sua posição no espaço. "Quando retiramos o calçado, há um aumento na ativação dos músculos intrínsecos do pé e no recrutamento da musculatura estabilizadora do tornozelo e joelho, impactando diretamente na estabilidade e controle motor", explica.
Além disso, ele ressalta que, sem o amortecimento do tênis, há uma melhor resposta neuromuscular, o que acaba tornando os movimentos mais eficientes e naturais. Isso é particularmente vantajoso para exercícios de força, como agachamento, levantamento terra e avanço, pois o contato direto com o solo favorece a geração de força e melhora a distribuição da carga.
A ciência confirma os benefícios, mas há ressalvas
Estudos indicam que o treino descalço pode melhorar o controle motor e fortalecer os músculos do pé e tornozelo. Porém, é necessário um período de transição para evitar sobrecarga excessiva, especialmente em quem está acostumado a usar tênis com alto grau de amortecimento. "A literatura científica mostra que treinar sem calçado altera o padrão de ativação muscular e a distribuição das forças aplicadas ao solo. Isso pode ser benéfico em algumas situações, mas também pode aumentar o risco de lesões se a adaptação não for bem orientada", alerta o especialista.
A magia da biomecânica
O médico explica que a principal diferença entre treinar de tênis e descalço está na forma como o corpo distribui as cargas e responde ao impacto do exercício. O tênis esportivo oferece amortecimento e suporte, o que altera a interação do pé com o solo. Sem ele, o pé assume um papel mais ativo na absorção do impacto e estabilização, aumentando a demanda sobre a musculatura envolvida na atividade. "Estudos em biomecânica mostram que treinar sem tênis leva a uma maior ativação da cadeia posterior, favorecendo padrões de movimento mais naturais e eficientes em exercícios como agachamentos e levantamentos olímpicos. Mas, se a pessoa não tiver mobilidade e força adequadas nos pés e tornozelos, a ausência do calçado pode gerar compensações prejudiciais", ressalta e alerta Fábio.
Então, treinar descalço também pode favorecer a estabilidade, equilíbrio e força neuromuscular. O resultado disso é um melhor desempenho em exercícios que exigem controle motor, como levantamento-terra e movimentos unilaterais. Porém, a transição, quando feita de forma abrupta, pode aumentar o risco de lesões como fascite plantar, tendinites e estresse excessivo nos metatarsos. "Se os pés estão habituados ao suporte do calçado, podem não estar prontos para lidar com o novo padrão de carga", alerta o especialista.
Para quais atividades é indicado
Treinar descalço pode ser especialmente benéfico para:
- Musculação: Agachamentos, levantamento terra, avanços e stiff;
- Treinamento funcional: Movimentos que envolvem equilíbrio e força isométrica;
- Yoga e pilates: Favorecem a conexão neuromuscular com o solo;
- Treinos de mobilidade e reabilitação: Fortalecem a cadeia muscular inferior.
O que deve ser evitado
Apesar dos benefícios, algumas atividades não são recomendadas sem calçado:
- Corridas em superfícies duras: Impacto excessivo pode afetar as articulações;
- Pliometria intensa (saltos, box jumps): Exige maior amortecimento;
- Treinos em locais com objetos cortantes ou superfícies escorregadias.
Quais são os riscos e como preveni-los
Os principais riscos do treino descalço incluem:
- Fascite plantar: Inflamação da fáscia plantar por estresse repetitivo;
- Tendinites: Especialmente no tendão de Aquiles;
- Fraturas por estresse: Falta de absorção de impacto.
Para minimizar os riscos, o Dr. Fábio Vieira recomenda:
- Fazer a transição progressiva;
- Fortalecer pés e tornozelos;
- Escolher superfícies seguras;
- Contar com a orientação de um profissional de Educação Física.
Cuidado com as superfícies
Treinar descalço em superfícies duras pode aumentar a carga sobre as articulações, exigindo um período de adaptação. Para reduzir esse impacto, recomenda-se:
- Iniciar com exercícios de baixa intensidade;
- Trabalhar mobilidade e estabilidade do tornozelo;
- Optar por pisos intermediários (como tatames) antes de superfícies rígidas.
Já em terrenos irregulares, o risco de torções aumenta. Portanto, um bom trabalho de equilíbrio e controle motor é essencial antes de tentar esse tipo de treino. Ou seja, treinar descalço pode ser uma estratégia interessante, mas requer atenção e orientação profissional para ser seguro e eficaz.