Banco de sangue do Hospital das Clínicas de SP está em situação de alerta; saiba como ajudar
Médica explica que doação não pode ser feita só em momentos de crise; não há equipe suficiente para coleta externa todos os dias e tipos O+, O-, A- e B- estão em estado crítico
Um dia depois do atentado na escola de Suzano, em março, Debora Dutra, prima do aluno sobrevivente Anderson Brito, de 15 anos, sentiu na pele a importância da doação de sangue. Em um ato de tristeza e amor pelo rapaz, ela pediu pelo Facebook que as pessoas fossem à Fundação Pró-Sangue, do Hospital das Clínicas (HC), para ajudar o jovem. "Ele precisa de transfusão sanguínea. Peço aos amigos que ajudem. Qualquer tipo será aceito, pois o hospital está precisando", escreveu.
O garoto já recebeu alta e o ato de bondade atingiu inúmeras pessoas na rede social, mas não é posto em prática pela maioria das pessoas. "Empresas, jovens e estudantes são mais engajados, mas é mais difícil ver doações individuais fora desses grupos", explica a médica responsável pelo posto de coleta do HC, Sandra Montebello. "Na própria Pró-Sangue temos essa dificuldade: só uns 10% dos funcionários doam", completa.
Diante disso, os grupos O-, O+ estão em estado crítico na Fundação. Sandra explica que isso se deve ao uso excessivo dos dois, pois são universais e nem sempre dá tempo de analisar o tipo sanguíneo do paciente numa urgência. "São os que mais saem e nunca conseguimos repor adequadamente. Pouco tempo atrás, recebemos quatro acidentados graves da escola de Suzano. Como não tínhamos tempo para colher informações no momento, usamos o O-", recorda.
Além disso, os sangues A- e B- também estão em estado crítico, e o AB- em alerta. A incidência dos três é menor na população, o que os torna escassos na maioria dos hemocentros. No caso do Hospital das Clínicas, a situação se agrava na medida em que a unidade abastece mais de cem hospitais da grande São Paulo. "Temos estoque para atender os próximos três a quatro dias [sem doações], mas o banco de sangue é contínuo e precisa ser alimentado", explica Sandra.
Em condições normais, a unidade consegue se sustentar por até sete dias na hipótese de não receber nenhum doador. Esse parâmetro é importante caso haja um problema inesperado, como um incêndio, que interrompa os trabalhos.
A especialista calcula que há cerca de cem a 120 coletas por dia de segunda a sexta-feira no hemocentro do HC, mas há efetivo para atender até 250 pessoas - em horários diferentes para evitar tumulto. "Se tivéssemos uma média de 200 atendimentos, seria possível tirar esses tipos sanguíneos do status crítico ou de alerta", analisa.
Vale ressaltar, que cada parte do sangue tem validade. Os glóbulos vermelhos duram 35 dias, as plaquetas valem por cinco dias e o plasma pode ser conservado por até um ano. Portanto, não basta ir várias pessoas no mesmo dia e não voltarem mais, pois sempre deve haver material útil para ajudar pessoas. "Quando a coisa aperta, pedimos socorro e recebemos ajuda. Vem um pico enorme de doadores, o que é bom, mas muitos não têm o hábito de doar continuamente", diz Sandra.
Homens podem doar sangue a cada dois meses; mulheres, a cada três.
Falta de funcionários
Sandra Montebello recorda que a coleta era maior há cerca de sete anos por dois motivos: havia menos restrições para a doação, e a Fundação tinha mais funcionários. "Temos recursos humanos reduzidos por conta da crise que vivemos. Há anos não temos novos profissionais entrando na Pró-Sangue, o que nos impede de ter uma equipe para fazer coleta externa [em diferentes instituições] nos cinco dias úteis da semana", afirma. Hoje, os servidores fazem essa ação apenas às terças, quartas e quintas-feiras.
Como ajudar
Apesar da queda no número de funcionários, a médica responsável pelo posto de coleta do HC acredita que há uma melhora "lenta e gradual" ocorrendo, devido às parcerias com mais de cem empresas e o engajamento da juventude. A Jornalismo Júnior e a FEA Social, projetos de extensão da Universidade de São Paulo (USP) formados por jovens (de em média 18 a 25 anos), ajudam a Fundação Pró-Sangue todos os anos, por exemplo.
Para colaborar com a causa, a pessoa precisa estar boas condições de saúde, pesar no mínimo 50 quilos e ter entre 16 e 69 anos - desde que a primeira doação tenha sido feita até 60 anos de idade. Além disso, precisa-se estar descansado (ter dormido pelo menos seis horas nas últimas 24 horas), alimentado e evitar comidas gordurosas nas quatro horas antes da doação.
O hemocentro de São Paulo exige ainda documento original com foto recente emitida por órgão oficial (carteira de identidade, cartão de identidade de profissional liberal, carteira de trabalho e previdência social). O procedimento é gratuito e voluntário.
No site da instituição, os profissionais da saúde detalham todos os impeditivos temporários e definitivos para evitar surpresas na hora de doar. O uso de drogas ilícitas injetáveis, malária e doenças infecciosas transmissíveis pelo sangue estão entre as restrições. Leia aqui.
*Estagiário sob a supervisão de Charlise Morais