Como a tecnologia transformou os relacionamentos amorosos?
Aplicativos ajudam a aproximar pessoas, porém, namoros estão durando cada vez menos, segundo especialistas
A vida agitada atualmente faz com que algumas pessoas se tornem 'reféns' da tecnologia para o amor. É muito mais rápido e fácil baixar um aplicativo no celular e iniciar uma conversa com alguém que está a poucos quilômetros de distância.
"Muitas pessoas não circulam nos mesmos ambientes e jamais se conheceriam de outra forma. A verdade é que a maioria de nós leva uma vida tão corrida que os aplicativos acabam se tornando opções práticas e eficientes para conhecer pessoas novas", ressalta a psicóloga Maria Amélia Penido.
Mas os apps de relacionamento também ajudam a quebrar outras barreiras, na análise de Adriana Nunan, doutora em Psicologia pela PUC do Rio de Janeiro. "Os sites e aplicativos de relacionamento fazem tanto sucesso porque eles quebraram uma barreira importante na aproximação amorosa de desconhecidos e, em alguns casos, até de conhecidos... o medo de "será que esta pessoa vai gostar de mim também?". Na medida em que o "match" só acontece quando ambos curtem o perfil um do outro não há risco a correr e você se protege de ser abertamente rejeitado", afirma.
Adriana Nunan e Maria Amélia Penido organizaram o livro Relacionamentos Amorosos na Era Digital, que reúne artigos de especialistas de todo o mundo para discutir o tema. Em dez capítulos, a obra explica como a tecnologia desempenha um papel fundamental nos relacionamentos afetivos, podendo influenciar de forma positiva a aproximação de pessoas ou impactar negativamente na criação de conflitos ou ansiedade em todo esse processo.
É importante acrescentar que, por mais que alguns aplicativos e sites de relacionamento permitam que você coloque informações sobre a personalidade e gostos, o que mais chama atenção é a imagem da pessoa e selecionar alguém apenas por cinco fotos pode ser bastante enganoso.
Diferentes compartamentos entre pessoas em países diferentes
Todos os artigos coletados no livro foram baseados em pesquisas recentes realizadas no ocidente, já que a sociedade oriental é bastante diferente da nossa em vários aspectos, principalmente no que se refere à relacionamentos.
As autoras fizeram um recorte e uma comparação com o que acontece nos Estados Unidos e no Brasil. "Uma diferença evidente é que, no Brasil, o Tinder é muito usado por quem busca um relacionamento, enquanto que nos Estados Unidos ele é famoso por propiciar encontros casuais. O Twitter, nos Estados Unidos, também é muito utilizado por todos, enquanto aqui no Brasil esta ferramenta fica mais restrita a formadores de opinião", aponta Adriana Nunan.
As pesquisas também apontam diferenças qualitativas no uso das redes sociais por homens e mulheres nos dois países. "Mulheres utilizam redes sociais tais como o Facebook mais para manter contato com amigos ou familiares. Homens tendem a usar as redes com o intuito de compartilhar informações - posts de matérias informativas ou notícias - ou para parabenizar pessoas conhecidas, servindo quase como agenda. E também para buscar um contato com alguém que julgam atraente (previamente conhecido ou não), podendo, a partir daí, desenvolver novos relacionamentos amorosos em potencial. Não é à toa que o Facebook, percebendo este potencial, lançou o Facebook Dating", conclui Maria Amélia Penido.
Tecnologia como adversária da longevidade dos casais
Enquanto a tecnologia é usada para aproximar pessoas, o recurso pode prejudicar o tempo de duração do relacionamento. Casais não estão conversando para resolver problemas, como aponta a psicóloga Adriana Nunan: "A grande 'variedade' de usuários de aplicativos faz com que as pessoas fiquem com a sensação de que existem muitas opções de parceiros românticos no mercado amoroso, o que não é, necessariamente, verdade".
Maria Amélia Penido compartilha uma experiência prática na clínica de psicoterapia: "O que nós psicólogos temos visto muito nos consultórios é que os relacionamentos se tornaram descartáveis, isto é, se tenho algum problema com meu parceiro, em vez de sentar com ele, conversar e resolver o problema, é mais fácil terminar e procurar outra pessoa. E o ciclo se repete indefinidamente. Isso sem falar na profusão de homens e mulheres casadas que fazem uso destes sites, gerando toda uma discussão sobre o aumento (ou não) nos índices globais de infidelidade".
Dicas para ter sucesso no amor em redes sociais
Não existe um 'manual para o amor', porém, alguns caminhos podem ser percorridos para que você tenha mais sucesso nesse quesito utilizando as redes sociais. Com a colaboração das autoras Adriana Nunan e Maria Amélia Penido, a reportagem do E+ montou uma lista com dicas preciosas. Confira:
- No caso de conhecer alguém na internet ou via aplicativo, o recomendável é se encontrar com a pessoa ao vivo o quanto antes;
- Deu o chamado "match", conversem, passem para o WhatsApp, se falem por telefone e marquem um encontro presencial (em lugar público, claro). Isto porque a comunicação entre indivíduos ocorre simultaneamente em diferentes níveis (escrita, tom de voz, comportamento não verbal, etc.) e é importante que todos estes elementos estejam presentes para que você decida se quer continuar conhecendo esta pessoa ou não;
- Indivíduos que passam semanas ou meses conversando apenas por mensagens começam a criar muitas fantasias e expectativas sobre o outro e isso sim é perigoso;
- Aplicativos de mensagens são extremamente úteis para vários fins, mas podem se tornar perigosos na comunicação entre casais, caso as pessoas decidam "discutir a relação" por ali. É preciso lembrar que mensagens escritas não acompanham tom de voz, cadência, pausas, comportamentos não verbais;
- Não substitua uma boa conversa ao vivo por emojis acreditando que os desenhos possam expressar emoções reais;
- Cuidado ao checar o perfil do parceiro nas redes sociais: Ficar vigiando e monitorando para ver se a pessoa amada está disponível online ou não, a ponto de perder o foco na própria vida e comprometer sua saúde e trabalho, não é saudável. Em situações mais graves, o ciúme online pode se correlacionar com baixos níveis de satisfação em relacionamentos, assim como abuso psicológico e físico, incluindo a perseguição persistente (stalking) de ex-namorados (as), tanto no ambiente virtual quanto na vida real.