Conheça a história de amor do professor Straus com as araras Manu, Dolores, Gilberto e Tadeu
'A legislação brasileira é bem complexa. As três primeiras gerações não podem ser comercializadas, são usadas para manter a espécie ou mandar para projetos de reintrodução', explica Straus
Straus Michalsky, 37 anos, é professor e mestre em ciências da computação pela Universidade de São Paulo (USP). Natural do interior de Minas Gerais, atualmente ele mora na cidade turística de Poços de Caldas, no mesmo estado. Hamster, tartaruga, gato, cachorro e coelho, foram alguns dos animais que já passaram pela vida do professor.
Mas, com as aves, o amor foi diferente. A primeira que Straus teve foi na adolescência, quando um filhote de maritaca caiu do ninho e a família o pegou para cuidar. Mesmo após ter crescido e aprendido a voar, a maritaca estava sempre por perto, voava e voltava para casa. Quando sentia ameaças, como barulhos provocados por fogos de artifício, jogos de futebol ou gaviões, o animal voltava para Straus.
"Foi ela quem me ensinou que não precisava prendê-la para dividir a vida comigo como animal de estimação", explicou. "Foi surpreendente, a gente não esperava isso dela. Ela vivia solta, voava com o bando dela, mas tinha essa dependência aqui de casa".
Straus também contou que foi com essa maritaca que ele aprendeu que poderia ter um animal livre e feliz. "Ela viveu solta desse jeito. Viveu livre, mas tinha um potinho de comida e a gaiolinha dela para dormir. Foi minha primeira professora de voo livre também".
Primeira Arara Canindé (Manu)
Na época que Straus descobriu que era possível comprar uma arara, ele vivia em uma república em São Paulo, sendo assim, não tinha como criar um animal desses. Foi durante pesquisas sobre a compra que ele também descobriu sobre a tática do voo livre.
Apesar de querer muito um animal, o professor percebeu que não era possível realizar esse sonho naquele momento e decidiu guardá-lo para outra oportunidade.
Após uma oportunidade de emprego na cidade de Poços de Caldas, Minas Gerais - o professor não pensou duas vezes e decidiu que era hora de colocar o sonho em prática. "Eu aluguei uma casa e falei 'bom, agora faz sentido'. Vou ter espaço e vou ter tempo".
Foi assim que a Manu chegou na vida de Straus. A arara da espécie canindé, hoje, aos 7 anos e meio, foi a primeira da turma. Ele comprou por meio do Ibama, de um criadouro regularizado e certificado.
Assim que comprou a Manu, Straus já queria por em prática o pouco conhecimento que tinha sobre o voo livre, mas com o passar do tempo, ele percebeu que somente com as informações que tinha adquirido na internet não era possível treinar a Manu, sendo assim, ele iria precisar de aperfeiçoar e estudar sobre o assunto.
Curso de Voo Livre
Durante as pesquisas na internet, Straus encontrou o curso do americano Chris Biro e se inscreveu nas aulas online. Com duração de nove horas, o professor se dedicou a estudar e entender os comportamentos da espécie.
"Foi durante o curso que eu fui entendendo que o animal é sociável, que sozinho ele também não está feliz. Pra você suprir as necessidades sociais, é importante ele ter outros da mesma espécie", contou. "Comecei a entender que a Manu não estava feliz sozinha, mesmo eu passando bastante tempo com ela".
Foi então que Straus decidiu comprar mais duas aves e o casal Gilberto, uma arara catalina, e Dolores, arara tricolor adentrou na família.
Apesar de estarem se adaptando às técnicas de voo e vivendo juntos, a Manu acabou ficando de lado, pois as araras vivem em pares e como o casal já estava junto, ela acabou sendo excluída.
"Fiz isso tudo para arrumar uma companhia para ela e no final das contas ela ficou sozinha. Juntaram os dois (Gilberto e Dolores) e começaram a bater nela (Manu)".
Pensando no bem-estar de todos e na vida social, Straus percebeu que precisaria de outra ave e assim, comprou o Tadeu, uma arara vermelha. "Agora são dois casais, eles se relacionam bem entre eles, mas cada um tem o seu cantinho e sua gaiola".
O professor deixa claro a importância das leis e da fiscalização para com esses animais, já que, em nenhum momento ele incentiva o tráfico ou compra ilegal.
"A legislação brasileira é bem complexa. As três primeiras gerações não podem ser comercializadas, são usadas para manter a espécie ou mandar para projetos de reintrodução. Tem esse caminho legal, que ajuda a manter essa reserva genética dos animais, que já foi utilizado desses animais para introduzir na natureza. Tem todo um estudo", explica.
Entenda a rotina de Manu, Dolores, Gilberto e Tadeu
O professor dá aulas em diferentes horários, o que possibilita uma rotina bem flexível. Quando dá aulas pela manhã, ele passa a tarde com as aves. Se é à noite, elas já passearam o dia todo e estarão dormindo.
Ele reforça que entende que não é qualquer pessoa que consegue e tem essa possibilidade. "Todo dia eu solto elas para fazerem o "voozinho" delas", explica Straus.
Foi durante o curso de voo livre que ele aprendeu as técnicas para que as aves voem, mas voltem para o ponto de encontro que ele marcar, que agora é a casa nova, mas quando os voos são feitos em lugares abertos, o ponto de encontro pode ser o próprio Straus ou outra coisa.
As aves possuem anilhas com identificação, além de uma alimentação regrada e composta de ração e vegetais, como abobrinha, cenoura etc.
Como as redes sociais mudaram a vida das araras
Straus nunca imaginou que chegaria a ter tantos seguidores nas redes sociais. Tudo começou porque antes ele usava seu perfil pessoal para compartilhar cliques da Manu, a primeira arara e seus amigos começaram a reclamar.
"O povo começou a reclamar e eu percebi que teria que separar o meu, porque virou uma coisa só. Pai coruja, né, postava 15 fotos por dia dela", brincou ele.
O primeiro usuário que Straus criou foi o 'vai Manu', que fazia referência à primeira ave, mas depois que a família aumentou, ele precisou de outro nome e então o 'Araras Viajantes' surgiu.
Foi durante a pandemia e a acensão do Tiktok e vídeos curtos que Straus começou a ganhar visibilidade nas redes sociais. "Eu comecei a brincar, fazer os videozinhos, entrar nas trends, e foi quando que o negócio foi tomando essas proporções".
Straus ainda conta que, apesar de ter a parte fofa e humanizada dos bichos, ele tenta fazer um conteúdo mais sério. "Eu tento mostrar que é um bicho complexo, que é um bicho que voa, que você tem que respeitar ele", explica. "Tento não romantizar tanto".
"O projeto araras viajantes é para mostrar que a arara pode ser sim um animal de estimação, mas desde que a gente respeite a biologia do animal e que isso envolve muita coisa".
Além dos dois casais de araras, Straus possui outros animais, como o casal Jandira e Jaime, que são jandais verdadeiras, o sexteto Belmiro, Benedito, Belchior, Betânia, Berenice e Bernardete, que são tiribas de barriga vermelha.
Viagens
Straus adora viajar e toda vez que coloca o pé na estrada, a turma toda vai junto. A última aventura foi na Bahia, onde o professor passou mais de 30 dias na estrada com as quatro araras e sua cachorrinha. Todos os bichos devidamente protegidos pelas caixas de transporte.
Mas nem tudo são sempre flores, ou melhor, bicos, pois Straus já enfrentou alguns perrengues com a família.
Em um episódio, as quatro araras estavam soltas e voando no Morro do Pai Inácio, na Chapada Diamantina e foi quando um gavião separou uma delas do grupo. Cada uma foi para um canto, fugindo do gavião e Straus ficou cerca de quatro horas para reunir a turma toda.