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Culpa que cala: como esse sentimento silencia e oprime mães

Mães sofrem com a culpa, um sentimento que as impede de falar sobre suas necessidades e dificuldades. Especialistas explicam como esse mecanismo age e como desconstruí-lo A maternidade, muitas vezes idealizada, pode se transformar em um campo minado de culpa. O sentimento, presente em diferentes níveis, atua como um poderoso mecanismo de silenciamento, impedindo as […]

15 out 2024 - 19h14
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Mães sofrem com a culpa, um sentimento que as impede de falar sobre suas necessidades e dificuldades. Especialistas explicam como esse mecanismo age e como desconstruí-lo

A maternidade, muitas vezes idealizada, pode se transformar em um campo minado de culpa. O sentimento, presente em diferentes níveis, atua como um poderoso mecanismo de silenciamento, impedindo as mães de expressar suas necessidades e dificuldades, impactando sua saúde mental e relacionamento com seus filhos. 

O peso da culpa faz com que a mulher sinta
O peso da culpa faz com que a mulher sinta
Foto: se oprimida e insuficiente para o cuidado com os filhos / Revista Malu

Mas, como alerta Carolina Damião, autora do livro "Manual de Sobrevivência na Maternidade",  existe um caminho para romper esse ciclo de culpa e construir uma maternidade mais autêntica e libertadora.

Carolina, que também é atriz, produtora e mãe solo [editora Urutau],  aprofunda a análise, destacando como a sociedade contribui para a culpabilização materna.

"Nesse cenário, onde a mãe é responsabilizada por tudo, só resta a elas escolher onde falhar, como falhar, quando falhar, e organizar as falhas", afirma.

Carolina destaca que "Para uma mãe poder escolher o que ela vai fazer, o que ela quer fazer, ela precisaria ter muitas outras pessoas que pudessem se responsabilizar pelo que esta mulher não dá conta de fazer, por que não quer, por que não gosta, por que não tem tempo, por que teve o direito de escolher por outra coisa".

"A sociedade sabe que as crianças têm muitas necessidades e que precisam de muitas pessoas, mas quem quer cuidar das 'crianças dos outros', 'das outras mães', no caso?", questina.

"Então, para não terem de cuidar de crianças, que é uma tarefa trabalhosa, complexa, cheia de nuances e que exige tempo, mas que principalmente exige responsabilidade, culpabilizam as mães, como se elas fossem as responsáveis, inclusive por estarem sozinhas nessa jornada", reflete.

"E sempre que uma mãe pede ajuda, demonstra fraqueza, ou seja, mais culpa é lançada em direção a ela."

Culpa: um peso cruel

Já psicóloga, psicanalista de crianças e mãe de três Elisa Motta Iungano (@elisaiunganopsicologa), descreve a culpa como um peso que impede a mulher de se sentir bem.

"É muito fácil que as mães se sintam despontencializadas (…) é impossível ser essa mãe modelo, e elas acabam sofrendo muito: sofrem por tentar, sofrem por não conseguir, por se anular nesse processo. Então os impactos da culpa são muito grandes porque as crianças também podem sentir que estão em falta porque, de alguma forma, essa mensagem é transmitida: de que a mãe deveria fazer mais ou fazer tudo", argumenta.

Redes sociais podem atrapalhar esse ciclo de culpa:

A historiadora e educadora racial Sarah Carolina (@sarahcarolinna) adiciona uma importante camada à análise sobre como as redes sociais impactam a vida da mulher que é mãe.

"Existe uma onda nas redes sociais, principalmente no TikTok, de mulheres compartilhando a sua rotina cuidando do marido e dos filhos e algumas delas são mulheres que trabalham fora, inclusive", afirma, ao destacar o quanto essas atitudes são prejudiciais.

"Elas acordam mais cedo para ter tempo de fazer o pão do zero, sabe, mas assim, é do zero mesmo - é moer o trigo para fazer a fermentação da massa - uma coisa completamente fora da realidade onde as mulheres precisam dispor de muito tempo para dar conta de fazer tudo isso", argumenta.

E Sarah completa: "Essas mulheres contribuem com esse silenciamento e culpa em uma tentativa de provar que são supermulheres e mães, então, para ter uma satisfação pessoal, acabam contribuindo com o sistema que oprime e silencia mulheres".

Como quebrar o ciclo da culpa?

Há várias formas de tentar furar a bolha e tentar vencer esse ciclo da culpa. Buscar informações sobre a origem desse mecanismo de culpabilização pode ajudar as mães a se conscientizarem de que a questão é cultural e vem de dentro da sociedade.

A leitura é uma ferramenta poderosa para desconstruir a culpa que aprisiona tantas mães, e ela atua como um portal para outras realidades, perspectivas e histórias, abrindo mentes para novas formas de pensar sobre a maternidade e o mundo. 

Uma ajuda para vencer esse sentimento que oprime

"Manual de Sobrevivência na Maternidade" surge como um guia para quebrar esse ciclo de culpa e construir uma maternidade mais autêntica e libertadora.

A obra oferece cinco instruções que servem para que as mães possam se sentir mais confiantes em relação à própria vida e a criação de seus filhos, bem como na construção de um caminho para além das responsabilidades impostas pela maternidade.

"Precisamos falhar com estratégia. Criei o "Manual de Sobrevivência na Maternidade" para responder a essas perguntas e auxiliar na construção de uma vida para além da maternidade, uma vida sem o peso da culpa", explica Damião.

Importância da coletividade para uma transformação social:

De acordo com a historiadora e educadora racial Sarah Carolina: "Infelizmente uma coisa que ainda acontece muito é que a mulher até conta com pessoas disponíveis para dividir essa carga, mas ela ainda fica com aquele peso mental", afirma.

Segundo ela, "A mulher delega, mas fica com toda a obrigação de dar conta de tudo o que precisa ser feito. Dividir as tarefas não é só delegar", ressalta.

"Pensar o direito das mulheres e dos cuidadores do lar é também uma luta política, é importante que as mulheres discutam isso coletivamente." 

Elisa Motta Lungano conta que o peso da culpa pode agir de formas diferentes de acordo com a subjetividade de cada uma, mas que no final das contas, todas se sentem oprimidas por acharem que estão falhando com os filhos.

Ela destaca: "As crianças não precisam de mães perfeitas e completas, as crianças precisam de mães que sejam felizes!", reforça a profissional.

Lugano finaliza com um recado importante: "Uma mãe boa o suficiente é aquela que permite deixar falhas e faltas porque as crianças também crescem a partir disso", finaliza a psicóloga.

Revista Malu Revista Malu
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