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Dilema de Nicole evidencia que ficar careca é pior parte da quimio

A polêmica em torno de Nicole, de 'Amor à Vida', raspar ou não a cabeça não é à toa. O Terra entrevistou mulheres que enfrentaram o câncer e sessões de quimioterapia na vida real e descobriu que, para elas, a perda dos fios é pior do que outras consequências do tratamento

11 jul 2013 - 15h49
(atualizado em 3/9/2013 às 09h58)
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<p>Marina Ruy Barbosa vive personagem com câncer em novela. Surgiu a possibilidade de ela raspar a cabeça, que foi descartada pela TV Globo </p>
Marina Ruy Barbosa vive personagem com câncer em novela. Surgiu a possibilidade de ela raspar a cabeça, que foi descartada pela TV Globo
Foto: TV Globo / Divulgação

Nos últimos dias, muito se discutiu sobre os cabelos de Marina Ruy Barbosa, que vive Nicole, uma personagem com câncer na novela Amor à Vida. A polêmica em torno de a atriz ficar ou não careca só evidencia o quanto choca uma mulher perder os cabelos devido à quimioterapia. Quem não se lembra da cena marcante em que Carolina Dieckmann raspou a cabeça na novela Laços de Família? O público feminino tem uma relação forte com os cabelos e a perda dos fios é um “processo de luto”, segundo a psicóloga da Oncoclínica Natália Baratta. Quando a mulher fica careca é que o processo de adoecimento se concretiza na vida real, não somente para a paciente, mas para as outras pessoas, explica a psicóloga.   

Muitas histórias de mulheres reais comprovam o dilema da personagem global. Maria Corsino de Araújo, psicóloga, 59 anos: teve linfomas pelo corpo todo. Maria Inês Vasconcelos, pianista, 65 anos: foi diagnosticada com câncer de mama duas vezes. Marine Antunes, blogueira, 23 anos: sofreu linfoma não-hodgkin aos 13. Todas elas enfrentaram a angústia do diagnóstico de uma das doenças que mais matam pessoas no mundo, foram encaminhadas a sessões de quimioterapia, sentiram náuseas e perderam peso. Mas o momento mais difícil, segundo elas, foi a perda de cabelos e a forma como passaram a atrair olhares das outras pessoas. “Olhavam como se ter câncer fosse culpa minha”, contou a portuguesa Marine. 

<p>Reginalda Soares dos Santos ainda frequenta o Icesp para tomar vacinas após as sessões de quimioterapia</p>
Reginalda Soares dos Santos ainda frequenta o Icesp para tomar vacinas após as sessões de quimioterapia
Foto: Ricardo Matsukawa / Terra

Maria Corsino terminou as sessões de quimioterapia em novembro de 2012, mas as lembranças do sofrimento permaneceram. “Fiquei com cara de homem, os olhares femininos eram agressivos e acabei sendo paquerada por mulheres homossexuais”, contou. Além de encarar “o mundo lá fora”, lidar com a nova aparência também é um desafio, segundo ela. Em fase final do tratamento contra o câncer de mama – feito com vacinas - Reginalda Soares ainda precisa usar lenços para cobrir os fios que começam a nascer. “Para mim, perder o cabelo foi o pior de tudo. Me sentia mal quando olhava para o espelho, não queria que ninguém me visse careca”, disse.

O medo é o mais relatado à enfermeira líder do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp), Andreia Silveira Medeiros. “Eles chegam bastante ansiosos com a questão, e as mulheres ficam chorosas”, contou. Geralmente, segundo ela, é acionada a equipe de psicologia para trabalhar o problema com o paciente.  Natália acompanha homens e mulheres durante a quimioterapia, segundo ela, no caso de um câncer de mama, por vezes ela nota que a perda de cabelo causa mais impacto emocional do que a retirada do seio, apesar de serem sentimentos diferentes.

O 14º dia

<p>A pianista Maria Inês Vasconcelos optou por cortar os fios logo que começaram a cair</p>
A pianista Maria Inês Vasconcelos optou por cortar os fios logo que começaram a cair
Foto: ICESP / Divulgação

“A gente nunca acha que vai cair. Comecei a fazer a quimio e não foi de imediato, mesmo assim fui procurar uma peruca. A atendente me disse que começaria no 14º dia após a sessão. De fato foi o que aconteceu”, relatou Maria Inês.  A queda é evidente, os fios caem em tufos, e ficam “buracos na cabeça”, contou Maria Corsino. O travesseiro fica cheio de cabelos, os fios saem nas mãos durante o banho e ao pentear. Logo que o processo começou, Maria Inês raspou a cabeça: “até aquele toquinho caiu”.

A pianista passou a usar lenços e peruca. Em tratamento contra câncer no colo do útero, Daniela Costa e Silva, 32 anos, foi mais resistente. Ela sabia da agressividade dos medicamentos, que perderia peso e ficaria careca, mas não optou por raspar a cabeça logo que os efeitos começaram a aparecer. “Começou a cair desde a raiz, fui tentando manter, mas não conseguia porque caía muito. Eu era vaidosa, nunca me imaginei ficar desse jeito”, afirmou. Ela ainda passará por radioterapia e ciclos de quimioterapia mais fracos.

Quimioterapia: queda e nascimento dos fios

Não são todos os medicamentos que deixam os pacientes carecas, segundo o oncologista do Icesp Felipe Roitberg, o paclitaxel e docetaxel, comumente usados no combate ao câncer de mama, são exemplos dos que provocam a queda dos fios. No entanto, ele alertou que fazer quimioterapia não é sinônimo de perda dos cabelos. Isso acontece, pois alguns medicamentes atacam as células que se multiplicam rapidamente, o que inclui as boas e as ruins. 

“A quimioterapia age no ciclo celular e inibe a reprodução. Os glóbulos brancos, cabelos, células do intestino e as que revestem o aparelho gastrointestinal também são afetados”, explicou. Por isso, surgem os efeitos como enjoo, náusea e perda de pelos e cabelos. A boa notícia é que, em cerca de quatro semanas após a última sessão, os primeiros fios já voltam a aparecer, geralmente, com uma nova textura. “Podem crescer grisalhos ou mais encaracolados como no caso do ator Gianechini. Mas a tendência é voltar ao normal com o tempo”, afirmou Roitberg.

Câncer, humor e coleção de lenços

Dez anos após estar curada do linfoma, Marine decidiu apoiar homens e mulheres a enfrentar a quimioterapia e seus sintomas de uma forma positiva. Ela criou o projeto “Cancro com Humor” e o “Movimento Careca Power”. “Uso o humor para que os doentes se defendam deste mundo cão, com graça e superioridade”, contou ela sobre o projeto que promove atividades para os pacientes com câncer, faz palestras e tem uma página para troca de fotos e experiências no Facebook. No último sábado (6), ela organizou um ensaio fotográfico para doentes oncológicos parte da campanha “Despir o Preconceito”.

<p>Daniela Costa e Silva tem câncer no colo do útero e está no processo das sessões de quimioterapia</p>
Daniela Costa e Silva tem câncer no colo do útero e está no processo das sessões de quimioterapia
Foto: Ricardo Matsukawa / Terra

Em São Paulo, segundo a enfermeira Andreia, voluntárias apoiam a causa e ajudam pessoas sem condições financeiras com a doação de perucas e lenços. No próprio Icesp, às sextas-feiras, uma sala do instituto se transforma no “espaço beauty”. Voluntários maquiam os pacientes, ensinam maneiras diferentes de amarrar os lenços e como se adaptar às perucas. Paciente do local, Daniela contou que tem uma coleção de lenços e gosta de sair sempre combinando o acessório na cabeça com a cor dos sapatos. “A quimioterapia deixa a gente derrubada, mas sempre vi como uma fase que ia passar e passou”, disse Maria Inês.

Onde encontrar perucas

 Hair Look (São Paulo): (11) 3079-2186 / (11) 3168-4192

New Visual Hair (São Paulo): (11) 5051-9160

Nilta (São Paulo): (11) 3085-9907

Estoril (São Paulo): (11) 3115-1084

Velazquez (São Paulo): (11)3872-2944

Fiszepan (Rio de Janeiro): (21) 2431-8745

Natural Hair Studio (Rio de Janeiro): (21) 2512-0095

Perucas Lady (Rio de Janeiro): (21) 2547-4079

JKBel (Rio de Janeiro):  (21) 2255-1084

Hd Feminino (Porto Alegre):  (51) 3207-7123

Perucas Jurema (Porto Alegre): (51) 3223-0278

Núcleo de Oncologia Santista (Baixada Santista): (13) 3222-5167

Fundação Maria Carvalho Santos (Teresina): (86) 3221-8944

Mapam (Itatiba): (11) 4487-6070

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Fonte: Terra
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