Eles Por Elas: veja 6 lições que a campanha traz ao Brasil
Movimento da ONU Mulheres recebeu apoio do canal GNT e de famosos em evento
Sob a batuta do canal GNT, foi oficialmente inaugurada nesta quarta-feira (24), a campanha He For She (Eles Por Elas), em um evento no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo. Com o foco na luta por igualdade de gêneros, o movimento, encabeçado pela ONU Mulheres, reúne artistas do mundo inteiro pela causa, e com o Brasil não foi diferente. No Twitter, a hashtag #ElesPorElas alcançou os Trending Topics graças à transmissão ao vivo do evento.
Foram cinco painéis de discussão com quatro convidados cada, mediados pelos mestres de cerimônia Astrid Fontenelle e Marcelo Tas. Na plateia, no entanto, muitas estrelas do canal ouviram atentamento ao ciclo, como Rodrigo Hilbert, Fernanda Lima, Maria Ribeiro, Caio Blat e Bela Gil. Entre os temas mais discutidos estavam a violência doméstica contra mulheres; a falta de equidade entre gêneros no mercado de trabalho; o papel da mídia na missão de quebrar estereótipos; assédio e a educação de próximas gerações para promover a igualdade entre homens e mulheres.
"Uma vida livre de violência e impedimentos", resumiu Luiza Caravalho, da ONU Mulheres América Latina, sobre o objetivo do He For She, que hoje conta com mais de 300 mil inscritos pelo mundo. O Brasil, no entanto, representa apenas 7 mil, mas quer chegar aos 100 mil com o apoio das rede sociais, de acordo com a diretora do GNT Daniela Mignani.
Veja algumas questões levantadas durante o evento e que merecem atenção:
O feminismo deve ser uma causa inclusiva
Assim como a atriz Emma Watson afirmou em seu discurso na ONU, quando convidou homens do mundo inteiro a se unirem pela campanha Eles Por Elas, a igualdade de gêneros sempre foi o objetivo do feminismo. "Essa campanha não significa que os homens vão protagonizar o feminismo. Essa é uma luta das mulheres, mas os homens são muito bem-vindos", explicou a cantora Pitty.
Sem as cotas, igualdade de gêneros no mercado de trabalho pode demorar 80 anos
A diferença salarial entre homens e mulheres parece coisa do século passado, mas essa não é a realidade. "As cotas são um processo transitório. Precisamos delas, para não demorarmos quase 100 anos até alcançar a igualdade no mercado", apelou Luiza Trajano, dona da rede de lojas Magazine Luiza.
Ela, que ressalta a alta probabilidade da mulher abandonar o trabalho após a gravidez, hoje oferece um cheque de auxílio para que seus funcionários cuidem dos filhos, e não restringe o benefício apenas às mães. "Homens casados com homens, pais solteiros... Todos merecem", completou.
Assédio é violência
O Brasil é um dos países com maior índice de violência contra mulheres, o sétimo no ranking mundial. Crescida no Espírito Santo, um dos estados líderes em casos desse tipo, a jornalista e documentarista Eliza Capai contou como a violência parecia um risco iminente na infância: "Achava que ser estuprada era só uma questão de tempo".
Pesquisas do Instituto Perseu Abramo ainda indicam que, na maioria dos casos, os agressores têm ou já tiveram algum tipo de vínculo afetivo com a vítima. Para colocar para fora suas frustrações, também agravadas pelo machismo, descontam em suas parceiras, sem perceber que a cobrança pela força e dominância masculina é um elemento fundamental na equação.
A mídia deve se posicionar
Nada mais manjado do que uma propaganda de cerveja para ver como o Brasil ainda precisa se livrar de alguns estereótipos. "A publicidade precisa entrar com responsabilidade na casa das pessoas", afirmou Rafael de Miranda, sócio-presidente da Agência Moma Propaganda. Afinal, a objetificação da mulher só ajuda a estimular o comportamento machista.
Outra observação de Eliza Capai chamou a atenção para o episódio lamentável no qual o ator Alexandre Frota contou, com detalhes, ao humorista Rafinha Bastos, sobre o dia em que estuprou uma mãe de santo. "Como isso pode ser normal?", indagou a jornalista, resumindo a indignação de uma história tão odiosa ter sido transmitida e aplaudida em rede nacional.
"Mãe é mãe"?
É inquestionável o amor incondicional de uma mãe por seu filho, mas e quando apenas reproduzimos estereótipos ao dizermos que "só mãe entende" e "só mãe consegue"?. "Temos esses discurso de que mãe é mãe, tem coisa que pai não saber fazer. Isso limita", aponta Débora Emm, publicitária e sócia de Inesplorato. Para ela, tratar o pai como uma figura coadjuvante ajuda a propagar a noção de que só a mãe merece uma licença para ficar com seu filho, por exemplo.
A responsabilidade, então, cai sobre a mulher de uma maneira diferente, não deixando escolha ao pai a não ser tomar para si o papel de provedor e "ajudante" na criação da criança. Claudio Henrique dos Santos, autor do livro Macho no Século XXI, no entanto, mostrou que outra dinâmica é possível. Ele, que trocou sua carreira como executivo para cuidar da filha e apoiar a esposa em seu trabalho, se diz em paz com sua decisão e torce para que cada vez mais homens ultrapassem barreiras para serem livres do machismo que também os prejudica.
A transformação começa agora
De acordo com o juiz federal Roger Raupp Rios, há uma pressão cada vez maior para que a discussão de igualdade de gêneros não seja discutida nas escolas brasileiras. Ou seja, o papel de promover discussões sobre a equidade de direitos e deveres entre homens e mulheres corre o risco de tornar-se tabu nas escolas, onde o esclarescimento de questões de gênero é essencial para que a criança aprenda noções de igualdade. "É um aburdo que a onda fundamendalista que vemos agora impeça a discussão de gêneros nas escolas", criticou a pedagoga, especialista em Educação Popular Marilena Garcia.
Ao fim do evento, a atriz e apresentadora do Saia Justa Maria Ribeiro, disse ao Terra que tem sorte de identificar em seus filhos uma noção de igualdade orgânica. "Meu filho mais velho de 12 anos, e outro dia ele veio me dizer que achava as letras de funk machistas. Mas eu sei que represento 0,01% do Brasil", ponderou.