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Fim de ano desperta solidariedade e incentiva trabalhos voluntários

Grupos em São Paulo promovem ações solidários para o Natal; saiba como ajudar

4 dez 2019 - 10h56
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As comemorações de Natal e Ano-Novo transformam dezembro em um mês mágico, em que as pessoas, no geral, costumam ficar mais alegres e emotivas. Nessa época, se intensifica a divulgação de trabalhos voluntários, bem como o desejo de contribuir com o bem-estar do outro. A generosidade acaba sendo multiplicada e, em alguns casos, o ato se estende ao ano seguinte.

Nesta reportagem, além de discutir o que leva as pessoas a ajudarem outras desconhecidas e os benefícios disso, indicamos grupos em São Paulo que promovem ações solidárias neste mês e aceitam voluntários. Também, um especialista dá dicas de como escolher um trabalho voluntário, seja presencial ou à distância por meio da internet. No Brasil, 7,2 milhões de pessoas realizam voluntariado, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

"Os benefícios do voluntariado vão muito além dos sentimentos gerados pelas boas ações realizadas. Voluntários desenvolvem habilidades que podem ser usadas profissionalmente, exercitam sua cidadania e desenvolvem competências socioemocionais. Além disso, traz benefícios para a saúde física e mental", afirma Marcelo Nonohay, diretor da MGN Consultoria, empresa com foco em projetos de transformação social.

A solidariedade no fim do ano

Não há estudos científicos que demonstrem se a solidariedade, de fato, é mais despertada no fim do ano. Especialistas no comportamento humano refletem sobre o tema com base nas experiências clínicas, seja com os próprios pacientes ou no que ouvem dos colegas de profissão.

"Eu vejo que as pessoas ficam mais emotivas, mais sensíveis. Alguns se deprimem porque, por ser reunião familiar, as ausências ficam mais evidentes. E tem toda a magia do Natal, do Papai Noel, dos presentes. Vejo muitas pessoas se mobilizando para que os mais vulneráveis tenham um Natal menos ruim, mais próximo do que teriam aqueles com mais condições", diz a psicanalista Luciana Saddi, diretora da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo.

O psicólogo clínico Hélio Malka Y Negri, da Vittude, tem uma percepção semelhante. "De fato, existe uma vontade das pessoas de se mostrarem melhores nessa época de festa, especialmente por conta do Natal, porque o Brasil é um país basicamente católico e espírita, tem essa tendência", afirma. Mas ele faz uma ressalva: "não é isso que vejo na essência das pessoas".

Segundo o especialista, os atos de generosidade com o próximo são motivados mais pelo próprio bem-estar do que pelo do outro. "O tipo de vida que a gente está levando torna o indivíduo muito egoísta, mas isso não necessariamente é ruim, desde que saiba dosar o nível de egoísmo", pontua. Luciana indica o mesmo e afirma que os seres humanos são mais egoístas do que parecem, mas também são mais generosos.

Conforme disse Negri, ser egoísta não é completamente ruim, faz parte de quem somos. O ego é necessário para que nos preocupemos em fazer o bem para nós, desde que não prejudiquemos outras pessoas. Isso tem relação com autoestima e autocuidado. "Precisamos disso, nossa personalidade pede para que o ego seja fortalecido."

Outro ponto indicado pelos especialistas é que uma atitude solidária e voluntária busca, de forma inconsciente, diminuir a culpa social que todos nós carregamos. Quando vemos na rua mãe e filho pedindo comida ou sabemos que famílias passam fome enquanto temos fartura na mesa, de alguma forma temos sensação de culpa.

Esse sentimento pode impedir que a pessoa usufrua da felicidade, segundo Luciana, e atos generosos ajudam a reduzi-lo. "A pessoa se sente bem de fazer algo bom, é um tipo de reparação do próprio eu e também da capacidade de ele confirmar que é capaz de amar, ser bom e reconhecer o outro", afirma. "Isso faz bem para quem faz."

Benefícios do trabalho voluntário

Um estudo feito por pesquisadores do Departamento de Sociologia da Universidade Cornell, em Nova York, concluiu que a generosidade pode ser contagiosa. Outra investigação conduzida por cientistas da Alemanha, Suíça e Estados Unidos associou o ato generoso ao aumento da felicidade. Com isso, parte do que os especialistas ouvidos pelo E+ dizem é compreendido pelo depoimento de quem faz trabalho voluntário.

"Uma das frases que mais escuto dos voluntários após a experiência de dedicar seu tempo e talento por uma causa de interesse comunitário é que eles ganharam muito mais do que conseguiram dar", afirma Nonohay. Exemplo disso é Rafael Farina, de 34 anos, que exerce o voluntariado há 16 anos por meio do Ajudantes do Papai Noel, grupo que ele criou para entregar doações e levar alegria a casas de permanência de idosos e crianças. Esse ano, o foco são as pessoas que moram nas ruas de São Paulo.

"É uma coisa gratificante, a gente está fazendo para o outro e também para nós", diz o auxiliar administrativo. Mas ele não leva o crédito sozinho e afirma que o projeto só existe por causa das pessoas que contribuem com as doações. É geralmente em outubro que ele começa a anunciar o início das arrecadações. "Eu sou só uma ponte, a pessoa que lança a ideia, e os voluntários vêm a mim."

Nonohay aponta que, além do bem-estar próprio dos voluntários, eles "aprendem coisas novas por meio de experiências diretas e práticas". É no voluntariado também que surge a oportunidade de colocar em prática valores pessoais e desenvolver laços sociais significativos. Farina confirma: "me ajuda no convívio social e conheci muitas pessoas boas por meio do projeto".

Como fazer trabalho voluntário

Marcelo Nonohay diz que há muitas opções para se fazer trabalho voluntário, que pode ser pontual e se tornar uma prática contínua. Algumas ideias são oferecer seu tempo a instituições sociais que cuidam de crianças, jovens ou idosos; participar de algum grupo que realiza ações com pessoas em situação de rua; ajudar na construção de moradias populares; contar histórias em hospitais; dar aulas para quem não pode pagar pelos estudos; e organizar campanhas de doações para instituições sociais.

Mas como escolher o trabalho voluntário ideal? Ajudar o outro é importante, mas é preciso também haver identificação da pessoa com a proposta da atividade.

Confira na galeria abaixo as dicas do especialista em trabalho voluntário:

Dicas de trabalhos voluntários no Natal

Alguns sites reúnem informações de instituições que precisam de voluntários e a pessoa pode escolher de acordo com a localização, com o tipo de atividade (se presencial ou online) e com a proposta (educação, mudança climática, igualdade de gênero, entre outros). Alguns exemplos são o Pátria Voluntária, o Voluntários e a plataforma Atados.

A seguir, indicamos três grupos na cidade de São Paulo que estão organizando ações voluntárias para o Natal e precisam de voluntários:

AJUDANTES DO PAPAI NOEL

Criado por Rafael Farina em 2003, o grupo é formado por mais de 130 voluntários que ajudam com arrecadações e nas atividades de doação. O trabalho vai além de dezembro com a iniciativa Natal o Ano Todo, em que os voluntários atuam em parceria com instituições. Para 2020, eles planejam um carnaval em um asilo. Interessados em ser um ajudante podem preencher uma ficha no site do projeto.

Para o Natal 2019, o grupo precisa de doação de brinquedos novos ou usados, alimentos não perecíveis e roupas. Os itens serão destinados a dois projetos: cestas básicas do CEMA e Grupo Amor, que vai entregar chinelos e brinquedos para pessoas em situação de rua. As doações serão arrecadadas até o dia 10 de dezembro e a entrega será em 15 de dezembro. Saiba mais aqui.

DOCE NATAL

Tudo começou com uma brincadeira: quatro amigos moradores do Jardim Santo André, zona leste de São Paulo, de juntaram em 2011, se fantasiaram de palhaços e, em duas motos, saíram jogando balas para as crianças do bairro. A ação ganhou destaque e eles foram convidados a fazer o mesmo no Natal daquele ano, em que 12 voluntários contribuíram.

Com o passar dos anos, organizaram kits com doces para distribuir e hoje, com 30 pessoas fixas no grupo, eles montam 4,5 mil pacotinhos "bem recheados" para alegrar os moradores, segundo conta Danilo Abib, integrante do grupo. Nos próximos dois sábados, dias 7 e 14, os voluntários vão pedir contribuições em comércios da região para nos dias 20, 22 e 23 montarem os kits. No dia 25, o grupo se fantasia e sai pelas ruas entregando os doces. Para participar, basta entrar em contato com Danilo Abib pelo número 11 99207-4923 ou com Michele no 11 98135-0946. Há também uma página no Facebook e um perfil no Instagram.

HAMBURGADA DO BEM

Em quatro anos de projeto, a Hamburgada do Bem (HB) já atendeu mais de 80 mil crianças por meio da atuação de mais de 30 mil voluntários. A ideia partiu dos gêmeos Tácio e Erick Watanabe e do amigo Thiago Salles que resolveram transformar o hobby de fazer hambúrgueres em algo que impactasse positivamente a vida de crianças carentes.

Semanalmente, o grupo se reúne para levar hambúrguer, serviço de saúde e diversão em comunidades vulneráveis. O trabalho já foi realizado em 27 cidades diferentes em seis países. Além do hambúrguer, batata frita e milkshake, há brincadeiras educativas e atendimento odontológico.

Para este Natal, a HB vai realizar uma ação na Arena Corinthians, zona leste de São Paulo, no dia 15 de dezembro com oito mil voluntários e expectativa de atender 12 mil crianças. O cantor Vitor Kley será a atração de abertura do evento e haverá outras apresentações musicais, como da dupla Patati e Patatá.

As vagas para ser voluntário no dia estão se esgotando e é possível se inscrever no site da ação. O grupo pede uma doação de R$ 50 para custear a atividade, além do café da manhã e almoço dos próprios voluntários. O trabalho se divide em três áreas e em três opções de horário.

Estadão
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