Jamie's Italian segue padrão londrino, com preço brasileiro
Restaurante do chef britânico se propõe a oferecer comida "excepcional e sustentável" por preço honesto
Imagine ir ao restaurante do Jamie Oliver, sim, aquele chef inglês que tem programa de TV, e gastar R$ 25. Pois foi assim que me senti em um dia frio e chuvoso em Londres, há pouco menos de dois anos.
De férias, passeando pelo bairro de Covent Garden, parei na frente do Jamie's Italian e perdi alguns poucos minutos admirando o cardápio exposto do lado de fora.
Claro que eu estava mentindo para mim mesma, acreditando que os valores que eu via ali não eram em libra esterlina - sempre caríssima. Afinal, estava de férias, deixaria o momento depressão financeira para depois.
Ao entrar, fui recebida por um garçom, coincidentemente, brasileiro. Aproveitei a deixa para matar uma série de curiosidades que eu tinha a respeito do inglês. "Ele tem tempo para efetivamente colocar a mão na massa?"; "Não". "O quanto interfere na composição dos pratos?"; "Muito". "A cerveja servida aqui é de algum produtor local?"; "Sim". "E esse pãozinho, vem de onde?"; "...". "De quanto em quanto tempo Jamie renova o cardápio?". Ah, sim, o cardápio, quase ia me esquecendo.
Pedi bruschetta, uma massa com carne de coelho, a cerveja local. Gastei em torno de 25 libras. Na conversão atual, sairia aproximadamente R$ 120.
Para nós, brasileiros, investir isso em uma refeição não é exatamente algo corriqueiro. Mas imagine quem mora lá, uma nação bem menos desigual do que a nossa? Com certeza a maior parte das pessoas pode se dar ao luxo de comer em um restaurante bacana pagando um preço honesto.
Essa, inclusive, é a proposta principal de Jamie, que acaba de inaugurar o primeiro restaurante da rede em São Paulo, único na América Latina. O padrão de qualidade dos pratos e do atendimento foi importado de lá cuidadosamente. Inevitavelmente, o preço também.
De um modo geral, os valores são, sim, honestos. Mas alguns itens do cardápio têm custo semelhante ao de Londres, fazendo a conversão para o real. Um exemplo: um prato grande de massa varia entre 10 e 14 libras - algo entre R$ 48 e R$ 65, que é mais ou menos a média dos preços daqui.
Para quem quer gastar menos, também há opção de meia porção de massa. As carnes variam entre R$ 65 e R$ 69. O cardápio também conta com hambúrguer, cervejas especiais, vinhos e sobremesas como tiramisù, cheese cake de limão siciliano e brownie com sorvete.
Comer em São Paulo, de um modo geral, não é barato. Os altos impostos e aluguéis são as justificativas mais comuns, mas, no caso do Jamie's Italian, o valor também tem a ver com os ingredientes.
A principal marca da casa é o rigor com a origem de tudo que é utilizado nos pratos - desde carnes free range (em que animais são criados livres, sem confinamento); produtos sustentáveis, sem conservantes e alguns itens criados exclusivamente para o local.
Com jeitão de casa
A primeira impressão que o restaurante causa, pelo lado externo, é imponência: uma enorme "caixa" de madeira e vidro ocupa a esquina da rua Horácio Lafer, no Itaim Bibi, bairro nobre de São Paulo. Mas basta entrar e se sentar para sentir uma atmosfera mais rústica, caseira e despretensiosa; conceitos que também dão o tom da culinária de Jamie.
Criticado por alguns especialistas por não oferecer pratos dignos de listas e guias gastronômicos, ele não se importa, e já cansou de dizer em entrevistas que não tem o intuito de fazer alta gastronomia.
Assim como o brasileiro Alex Atala, o chef britânico se propõe a usar o alimento como fator de transformação, e está a frente de diversas campanhas em favor de uma comida mais verdadeira, com menos componentes químicos e excesso de gordura.
Ele inclusive ganhou recentemente uma briga com o McDonald’s, após acusar a rede de usar amônia em uma de suas receitas e fazer a gigante do fast food mudar o procedimento.
Sem frescura
Regada à Chandon, a festa fechada oferecida para famosos e clientes escolhidos a dedo, um dia antes da abertura oficial na última quarta-feira (25), destoou um pouco da proposta simples pregada pelo inglês.
Mas até tem contexto: a elite paulistana adora um burburinho quando se trata de uma novidade, especialmente quando esta vem acompanhada de um sobrenome internacional.
Felizmente, pude visitar a casa antes disso, durante o soft opening, período em que o restaurante, ainda fechado para o público, serviu alguns clientes em fase de teste.
Apesar de não refletir a realidade, a impressão foi de que o padrão londrino foi mesmo seguido à risca. Funcionários atenciosos, que adoram explicar a origem dos ingredientes e a composição dos pratos; massas e molhos com gostinho caseiro; tempero marcante, ambiente descontraído, nada 'rococó'.
Logo na entrada, dei de cara com o garçom que me atendeu em Londres em 2013. Veio para treinar a equipe de 100 pessoas que compõem o quadro brasileiro, e a essa altura já está de volta ao charmoso bairro de Covent Garden.
Em tempo: não sou crítica gastronômica, não fui ao restaurante "à paisana" para avaliar o serviço e a comida secretamente. Fui como curiosa mesmo, como uma pessoa que entende bem mais de comer do que de cozinhar ou dos preceitos da alta gastronomia. Dito isso, dou o meu veredicto: vale cada centavo, do real à libra.
Serviço
Jamie's Italian
Av. Horácio Lafer, 61 – Itaim, São Paulo.
Telefone para informações e reservas: (11) 2365-1309
Horário de funcionamento: segunda a sexta-feira, das 11h30 à 1h; sábado, das 12 à 1h; e domingo, das 12h à 0h.
Pratos principais: de R$ 44 a R$ 69
Massas: de R$ 29 a R$ 78 (com opção de meia porção)
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