Lideranças indígenas: a força de uma nova geração
Porque eles aprendem sim algumas coisas conosco, mas também tem muito a ensinar
Esse post não é sobre Inteligência Artificial, é sobre liderança. E não vou falar de executivos, pelo menos não do tipo que trabalha em organizações de negócios.
Vou falar de dois jovens talentosos e valentes que conheci semana passada, ambos com 30 e poucos anos.
Eles têm nomes diferentes, Syratã e Suhyasun. Ambos são índios Pataxós, o primeiro Presidente do Conselho de Caciques do seu povo, o segundo líder das áreas de juventude e cultura das suas mais de 40 tribos na Bahia.
Eles usam roupas indígenas, mas não são fantasias para impressionar brancos. Vivem em reservas, no caso desses dois, 850 hectares que eles mantêm intocados no sul da Bahia, com árvores centenárias e animais sob risco de extinção fora de lá.
Eles também desafiam preconceitos, vários. Como o de que índios são ignorantes (ambos são formados e pós-graduados), que não se aculturam porque são incapazes de entender nosso mundo (eles fazem o que fazem porque entendem a cultura deles, a nossa e tem orgulho do que estão ajudando a preservar), ou que não tem acesso a conhecimento ou a tecnologia. Ambos usam redes sociais para defender posições de valor inestimável, e para nos educar, como fizeram comigo, sobre o que não sabemos ou entendemos.
Como o fato de que, se existem ainda florestas de pé nesse país depois de 530 anos de ataques incessantes contra a natureza, é porque povos indígenas de todos o país as protegem com respeito, tenacidade e coragem. Não poucas vezes com suas próprias vidas.
Ou o preconceito de que índios se mantém próximos de sua cultura porque não podem viver a nossa. É claro pra eles, e ficou muito mais pra mim, que as culturas indígenas não são um resquício do passado, são pulsantes, vivas, valiosas, e merecem e precisam estar ao lado da nossa.
Porque eles aprendem sim algumas coisas conosco, mas também tem muito a ensinar.
Além disso, esses dois jovens criam pontes, algo bonito de fazer, porque eles poderiam se fechar e pregar o ódio à nossa visão de mundo. Teriam boas razões pra isso. Mas é melhor colocar a explicação do próprio Cacique Syratã:
"A gente achou que a melhor maneira de explicar era mostrar, criar a possibilidade de convivência, criar conexões, falar do que nos une ao invés do que nos separa."
E para fazer isso a Tribo de ambos, Pataxó Jaqueira, que fica em Coroa Vermelha, foi a primeira do Brasil a se organizar e criar o que eles batizaram de etnoturismo. Organizado, estruturado, sustentável, que tem gerado interesse e respeito no mundo todo.
E fico feliz de poder me incluir na lista de quem os admira e apoia.
Porque nós precisamos da força nos olhos desses jovens, que nasce de uma conexão poderosa e única com o que esse país tem de mais precioso, e que precisa aprender a preservar.
Awery!
(*) Alex Winetzki é CEO da Woopi e diretor de P&D do Grupo Stefanini, de soluções digitais.