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Maria Flor relata como o racismo afetou o seu antigo namoro com Jonathan Haagensen

'Nosso namoro terminou pela nossa incapacidade de perceber essa gigante distância social que existe na cor da nossa pele', desabafou a atriz

19 fev 2019 - 11h49
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Maria Flor e Jonathan Haagensen.
Maria Flor e Jonathan Haagensen.
Foto: Instagram / @MariaFlor31 / Estadão

A atriz Maria Flor namorou com o ator Jonathan Haagensen por três anos e relembrou pelo Instagram, no domingo, 17, o racismo estrutural que envolveu o relacionamento.

Haagensen mora no Vidigal e a atriz lembrou de quando o ex-namorado foi parado por policiais na entrada da comunidade. "Eu, na minha jovem arrogância, desci do carro e gritei com o policial. Perguntei indignada o que ele estava fazendo. O Jonathan pediu para eu parar, mas eu gritei e perdi a mão", afirmou.

"Eu nunca vou esquecer o rosto do Jonathan indo para a delegacia. Tudo que ele tinha passado a vida evitando, eu tinha feito acontecer por um capricho meu", completou Maria, que reconheceu não entender aquela realidade por ser uma moradora branca da zona sul do Rio de Janeiro - região nobre da cidade.

Maria Flor acredita que o namoro com o rapaz terminou pela incapacidade de ambos perceberem a distância social que existe entre os dois, devido à cor da pele.

Além disso, a atriz usou o caso para contextualizar a falta de negros em alguns espaços sociais de maioria branca. "A não existência de um negro na escola do nosso filho não é normal, não ter um negro no ambiente de trabalho não é normal. E não pensamos nisso. Não percebemos nosso próprio descaso diário. E não percebemos o racismo estrutural que existe em nós". Leia a declaração na íntegra:

Durante três anos eu namorei o ator @jonathanhaagensen O Jonathan morava e ainda mora no vidigal. Ele é negro, eu sou branca. A gente se conheceu em um filme e se apaixonou. Isso não tinha nada a ver com a nossa cor. E lá atrás, eu com 19 e ele com 20 anos, a gente não pensou sobre isso. Mas estava lá, o tempo todo estava lá. E a gente foi percebendo que não era normal a gente junto em um restaurante, que não era comum a gente fazendo compras no mercado, que não era tranquilo ele dirigir o carro porque seríamos parados na blitz se ele estivesse dirigindo e não eu. Eu lembro de um dia que fomos parados na entrada do Vidigal por policiais. Jonathan disse que era morador, mas os policiais mandaram ele descer do carro e começaram a revistá-lo. Aquilo era humilhante. Eu na minha jovem arrogância desci do carro e gritei com o policial. E perguntei indignada o que ele estava fazendo. O Jonathan pediu para eu parar, mas eu gritei e perdi a mão. E o policial nos levou para a delegacia por desacato. Eu nunca vou esquecer o rosto do Jonathan indo para a delegacia. Tudo que ele tinha passado a vida evitando eu tinha feito acontecer por um capricho meu, por não olhar para tudo a minha volta e perceber que a coisa era muito mais grave. Que abaixar a cabeça tinha sido a realidade dele e eu achei que poderia salvá-lo disso. Eu, branca, garota da zona sul do Rio de Janeiro, achei que podia fazer justiça. Mas não, eu não podia, e eu só fiz ele passar por uma humilhação que eu jamais entenderia. Jamais. E mesmo tendo visto e vivido a experiência de ser olhada nos lugares por estar de mãos dadas com um negro, eu jamais entenderei. E sim, temos que olhar para o lado e perceber que a não existência de um negro na escola do nosso filho não é normal, que não ter um negro no cinema ao nosso lado não é normal, não ter um negro num restaurante não é normal, não ter um negro no ambiente de trabalho não é normal. E não pensamos nisso. Não percebemos nosso próprio descaso diário. E não percebemos o racismo estrutural que existe em nós. Hoje eu acho que nosso namoro terminou pela nossa incapacidade de perceber essa gigante distância social que existe na cor da nossa pele.

Uma publicação compartilhada por Maria Flor (@mariaflor31) em

Estadão
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