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Médica 'receita' intelectuais negros para jovem gay

Profissional entendeu que o rapaz, portador de depressão, precisava entender o seu lugar social como homem gay, negro e da periferia

13 fev 2019 - 13h40
(atualizado às 18h28)
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Para a profissional de saúde, rapaz precisava se reconhecer enquanto homem negro por meio de referências da negritude nas áreas literárias e sociológicas.
Para a profissional de saúde, rapaz precisava se reconhecer enquanto homem negro por meio de referências da negritude nas áreas literárias e sociológicas.
Foto: Instagram / @cantorajuliarocha / Estadão Conteúdo

A médica Júlia Rocha, de Minas Gerais, atende pacientes da rede pública e recebeu um jovem negro, gay e da periferia que carregava consigo o sentimento de culpa "por não corrigir sua sexualidade".

O rapaz, de 22 anos, é depressivo e tentou se matar há dois meses, usando os remédios do pai. Ficou internado em estado grave e, com o apoio da família, passa por acompanhamento psicológico e psiquiátrico na rede pública.

Júlia receita medicamentos a ele a cada 15 dias, mas nas últimas consultas resolveu ajudá-lo de uma outra forma. Ela pediu para que ele fosse atrás de textos e vídeos de intelectuais negros, como Conceição Evaristo, Djamila Ribeiro e Juliana Borges. Além disso, ela prescreveu um livro sobre racismo estrutural.

"Ele precisava entender o seu lugar social como um homem gay, negro e periférico. Há horas que só enxergando e conhecendo as estrutura que nos oprimem para conseguirmos dar o próximo passo", escreveu ela no Instagram.

Segundo a médica, a ideia deu certo e o jovem a disse, no último encontro, que está muito melhor, passou a "receita" para outros amigos e começou a namorar, mesmo diante dos obstáculos da depressão.

Veja a história na íntegra.

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

ILUMINADO Há cerca de 15 dias fiz essa prescrição para um paciente muito querido. Um jovem negro de 22 anos, evangélico, gay, trabalhador. Gravemente deprimido, há cerca de 2 meses tentou se matar usando os remédios do pai. Ficou internado em estado grave! Carregava consigo uma enorme culpa por, segundo ele, não conseguir "corrigir sua sexualidade" e seu afeto. Ele já estava em acompanhamento psicológico e psiquiátrico. Já estava usando medicações. A família já estava mobilizada para apoiá-lo mas pra mim ele precisava se aprofundar no entendimento do seu lugar social como um homem gay, negro e periférico. Tem horas que só enxergando e conhecendo as estruturas que nos oprimem pra conseguir dar o próximo passo. Pedi para que ele buscasse pelo Spartakus Santiago, pelo AD Júnior, dois jovens negros e gays que compartilham suas vivências e aprendizados nas redes sociais. Indiquei acompanhar intelectuais negras: Conceição Evaristo, Djamila Ribeiro e Juliana Borges. Prescrevi a leitura do livro 'O que é racismo estrutural' do Silvio Almeida. Falamos de intolerância, de espiritualidade, de afeto... Entreguei esta receita impregnada de um desejo imenso de vê-lo melhor. Hoje eu o encontrei no corredor. Ele sorriu e me deu um longo abraço. Aquele instante durou uns anos. "Tudo bem?" "Estou melhor. Bem melhor.... Li o livro.... passei a receita pra outros amigos...." "Que bom!" "Quero marcar meu retorno com você." "Alguma novidade?" E ele se aproximou pra falar o segredo: "Tô namorando."

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Estadão
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