Médico usa fantasia para abraçar filha sem contaminá-la
Lucas Fragoso, que trabalha no atendimento a casos de pacientes com coronavírus, se vestiu de cachorro para encontrar a família que não via há 20 dias
Com a pandemia do novo coronavírus muitos profissionais da área de saúde com contato direto com pacientes com o vírus têm evitado o contato com a família para não expô-la ao risco de contágio. Para conseguir ver seus familiares sem correr risco de contaminação, o médico Lucas Fragoso usou uma fantasia de cachorro no Dia das Mães, em 10 de maio, e pôde abraçar a filha.
"Eu estava há duas semanas sem ver minha filha e minha mulher quando vi uma notícia de um médico que usou uma fantasia de dinossauro para ver o filho, aí decidi fazer o mesmo", explica Lucas em entrevista ao E+. O caso a que ele se refere é o do médico Juan Lambert, que também falou sobre a ideia para o E+ na ocasião.
Ele pediu para que sua filha de 2 anos, Lara, e sua mulher, Merielle, se mudassem para a casa dos pais da esposa. Lucas é cirurgião torácico, um dos dois da cidade de Divinópolis, em Minas Gerais, e ficou com medo que a família pudesse estar correndo risco de contrair o vírus após a colega cirurgiã torácica de Lucas ser diagnosticada com covid-19.
O médico procurou uma fantasia que não amedrontasse a filha, que ainda não entende o motivo da ausência do pai. "Foi um momento mágico. Não tenho palavras pra descrever, foi uma mistura de ansiedade, com medo, de alegria, alívio, um amor gigantesco. Foi igual quando eu peguei ela [Lara] quando ela nasceu", relata ele.
Lucas optou por não mostrar o rosto para Lara, já que ele não queria que ela o reconhecesse por não ter previsão ainda de quando poderá rever a família e não deixar a criança triste na separação. Ela tem citado muito a saudade do pai e a família está buscando ajuda para garantir que ela não tenha nenhum problema por causa da distância.
Além de matar as saudades da filha, ele pode também rever a mulher, que está no oitavo mês de gestação. "É difícil demais. É um dia depois do outro, a cada dia que passa aproxima o parto da minha esposa, e eu não sei se vou estar lá. Esse ambiente de dúvida, de incerteza… e ao mesmo tempo tenho as urgências dos hospitais, pacientes que tenho que operar, e por enquanto fazendo isso sozinho", comenta Lucas.
"É pesado, não só pra mim, todo mundo da equipe está sobrecarregado. Não é só sobrecarga de trabalho, é uma sobrecarga psicológica mesmo. A população no geral vem sofrendo com essa situação, e a gente também", destaca o médico.
O médico destaca que tem notado um aumento na quantidade de pessoas saindo às ruas, e com menos cuidado de higiene, como lavar as mãos e uso de álcool gel, e faz um alerta para que, quem puder, permaneça em casa: "Todo mundo que sai de casa acha que o motivo está justificado, e o [motivo] dos outros que saíram está errado. Mas se todo mundo pensa isso, vira um caos. Essa individualidade está crescendo, estamos esquecendo do senso de comunidade".
*Estagiário sob supervisão de Charlise Morais