Castelo na Europa? Casar no exterior pode ser mais barato
Empresas investem pesado em pacotes para brasileiros com "destination wedding"; festa na Europa pode custar 60% do valor em reais
O tricô deu lugar a reuniões e agendas disputadíssimas; as receitas de bolo da avó, em muitos casos, já estão ocupadas por comidas mais saudáveis ou até mesmo pelo fast food; e os interesses e olhares para o mundo já não são mais os mesmos entre as gerações das bisavós e da denominada pelos cientistas de "Y". Porém, apesar de estar longe do fim a luta feminina pelo que se entende como um novo modelo de felicidade, têm sonhos e costumes que não mudam entre as mulheres, como o do casamento. E como não são só elas que se transformam, este mês de maio, período tradicional pelo aumento de cerimônias e festas, chega com uma novidade que tem acelerado a disputa e preocupado a indústria casamenteira nacional: o aumento significativo do destination wedding e a possibilidade de se alugar um castelo na Europa por até metade do valor de um salão em cidades como São Paulo e Rio de Janeiro.
O aumento é tão significativo que está entre os maiores gastos extras de um casal no mundo: US$ 16 bilhões (R$ 49 bi), esta é a quantia oficial que se movimenta por ano com este mercado, segundo informações divulgadas pela organização do 2º Destination Wedding Planners Congress, que em 2015 aconteceu nesse mês de abril, nas Ilhas Mauricio. De acordo com Simone Tostes, wedding planner especialista no setor, a prática não é nova no mundo, mas no Brasil, sim. “Um dos princiais motivos é fugir da tradicional dupla igreja mais salão de festa e investir em um paraíso natural ou histórico. Muitas noivas reclamam comigo que a festa passa muito rápido, e em um casamento fora, esse tempo é maior, podendo ser feito até três dias de celebrações (welcome party, cerimônia com almoço e jantar e uma grande festa)”, contou a empresária à frente da Aonde Casar sobre um dos principais motivos pelo crescente interesse no serviço.
Outro fator que leva muitos brasileiros a trocarem suas alianças no exterior é o orçamento. A jornalista Kizzy Bortolo e seu marido Jacson Vogel sentiram no bolso essa diferença e após algumas pesquisas de preço, fato que os levaram a trocar Búzios, no Rio de Janeiro, por Curaçao, no Caribe. "Cheguei a cotar, mas aqui sairia 40% mais caro, mesmo com o dólar estando alto em janeiro, época em que me casei", disse ela, que aproveita para relatar seu único arrependimento, que serve como uma dica valiosa para as futuras noivas: “me arrependi de não ter levado a minha manicure do Brasil! (risos) Lá no Caribe elas fazem a unha muito mal feita. Ainda bem que levei o meu cabelereiro e maquiador de confiança que me salvou e me deixou impecável. A cultura local é bem diferente da nossa em termos de arrumação, em todos os sentidos. Lá eles são um pouco 'over' na forma de se vestir, pentear e se maquiar também!”
A arquiteta Bianca Grubisich, que se casou em 2014 em São Paulo, hoje ajuda o primo a organizar seu tão sonhado festejo fora do país. “Cotamos um hotel top que era um castelo na Toscana, Itália. A exigência deles é que ocupássemos os 30 quartos – e ai cada convidado pagaria pela sua estadia – e US$ 200 (R$ 612) por pessoa pelo buffet completo da cerimônia, que é muito barato se pensar que no meu gastei só de comida, sem as bebidas alcoólicas, a mesa de frios, os doces e o per bambini (lanchinho da madrugada), R$ 540 por pessoa. Não há custo de locação do espaço e a decoração são eles mesmo que fazem (não precisa de fornecedor como no Brasil). Como o hotel é lindo, é meio que padrão usar apenas um arco de flores para o altar e vasinhos nas mesas, o que reduz muito o preço final.”
Na ponta do lápis...
E o fato de não se precisar de fornecedores terceirizados lá fora é realmente o grande diferencial na hora de fechar a conta, que pode chegar a 60% do valor total. Em São Paulo, por exemplo, um casamento de alto padrão com cerimônia na igreja Nossa Senhora do Brasil e festa na Casa Fasano, um dos melhores e mais luxuosos salões da cidade, tem, logo de início, os seguintes custos: R$ 2.800 por uma hora de igreja; em torno de R$ 7 mil da decoração padrão da mesma; R$ 53 mil pelo aluguel do espaço, isso sem considerar os dias extras de montagem e desmontagem; buffet que pode chegar a R$ 540 por pessoa; R$ 60 reais por pessoa de mesa de frios; e R$ 60 por carro de estacionamento com manobrista – e todos esses valores podem aumentar ou diminuir, dependendo do número de convidados. E para quem pensa que basta trocar os serviços para economizar, a resposta é: impossível. O enlace é tão bem amarrado entre salões e fornecedores, que só são aceitos os já cadastrados. Em contra partida, fora do país esse valor chega, em média, a metade, uma vez que os hotéis não cobram a locação do espaço e os fornecedores de tudo são eles mesmos.
Vantagem brasileira
Porém, engana-se quem pensa que os autos preços que permeiam a indústria de cerimônias no Brasil fazem a concorrência se tornar desleal para o país. Com agendas apertadas e um nicho de profissionais de alto nível ainda pequeno, o mercado sobrevive com o melhor do espirito nacional, o do espetáculo. E é esse sentimento que faz Bianca não voltar atrás de sua união em solo brasileiro. “Faria tudo de novo. Acho que só aqui você consegue fazer essas coisas megalomaníacas para atender todos os seus sonhos, como, por exemplo, uma lista de 900 convidados e uma decoração aérea com milhões e milhões de flores, como foi a minha. Isso não existe fora, ninguém reúne tanta gente em uma cerimônia, nem mesmo gasta o que quer com decoração. Isso não é nem uma opção”, conclui ela.