Mulheres que se tornaram mães no auge de suas carreiras se dividem para manter o ritmo
Prefeita de Palmas, Cinthia Ribeiro sentiu na pele que a prefeitura não foi pensada para puérperas ao não poder tirar licença-maternidade
Cinthia Ribeiro foi eleita a prefeita de Palmas, capital do Tocantins, em 2020. Àquela altura, não passava pela cabeça da política que ela se tornaria mãe aos 45 anos — nem que seria durante seu mandato. Já com um filho de 14 anos, o novo integrante da família não foi planejado, mas com certeza é muito bem-vindo. "A descoberta da gravidez em meio à gestão na pandemia foi um bálsamo, uma alegria", diz orgulhosa.
A prefeita ganhou os noticiários ao perceber que sua cidade, apesar de ser a capital mais jovem do país, com 32 anos desde fundação, não foi pensada para ter mães puérperas em sua administração. Cinthia não pôde tirar licença maternidade, por ser considerada inconstitucional no município, e trabalha desde dez dias após o parto. Muitas vezes, inclusive, com seu bebê no colo.
Em entrevista ao Terra, a prefeita de Palmas conta que pensou em abrir mão do cargo ao descobrir a gravidez. O objetivo era cuidar integralmente do novo membro da família. No entanto, repensou a decisão.
"Vi que era uma oportunidade de dar voz às mães e adotar um novo olhar sobre as coisas, e honrar quem contou comigo para isso", conta.
Mesmo com uma rede de apoio em casa, há vezes em que a prefeita precisa levar o bebê para o gabinete da Prefeitura, para garantir a amamentação e manter o ritmo da administração municipal. Ela dispensa a faixa de "super-mulher", assim como evita romantizar a maternidade.
"Às vezes as pessoas glamourizam muito, colocam aquelas fotos lindas. Eu amanheci descabelada, com um monte de papel para assinar, neném chorando no meio, sem dormir direito", desabafa.
A sobrecarga não é novidade
O tempo todo mulheres se dividem para dar conta das mais diversas funções na vida profissional, familiar e pessoal. A sobrecarga emocional é saldo garantido.
Apesar de ser comum, o esforço duplicado não é algo que deva ser naturalizado, segundo a psicóloga organizacional Fernanda Lopes.
"Vem sendo normalizado dentro do sistema patriarcal que vivemos [...], em que homens estão em lugar de poder e privilégios perante as mulheres que, historicamente, são as principais cuidadores da prole", diz.
Nesse contexto, a sobrecarga de trabalho atribuído às mulheres é, geralmente, chamada de "força". Fernanda conclui que reconhecer como forte uma mulher que se desdobra para equilibrar as diferentes demandas do seu dia é um jeito bonito de dizer para ela aguentar mais.
"Porém, mulheres estão adoecendo tentando dar conta de tudo", acrescenta a especialista, que reforça a importância de não naturalizar o abuso e a má divisão da gestão dos cuidados.
Novas escolhas
Quem também divide suas atenções entre o trabalho e a maternidade é a atriz Nathália Dill. Mesmo que tenha gravado 'Incompatível' há cinco anos, só agora o filme foi lançado e a pequena Eva, de pouco mais de um ano, a acompanha nas entrevistas de divulgação do longa.
"Parece que é uma outra faculdade que a gente tem que fazer", comenta a atriz, que não abre mão da nova habilidade. "Estou muito honrada de viver essa experiência. É uma nova montanha-russa".
Depois de realizar o sonho de ser mãe, Nathalia Dill revela que passou a estabelecer novos critérios para aceitar convites de trabalho. Tanto a pandemia quanto a maternidade lhe ajudaram a perceber o que fazer para conseguir manter o ritmo.
"Não sei se a minha loucura atual é da pandemia ou da maternidade. Não sei qual a origem que ela teve, mas é um novo mundo, de qualquer forma", acrescenta.
Está tudo bem não dar conta
Não são todas as mães que conseguem manter o ritmo profissional após a chegada do filho. A consultora de estilo e imagem Giovanna Santalla, de 31 anos, confessa ser uma delas. Ela descobriu a gravidez menos de um ano após migrar de carreira e estava em expansão.
Ao invés de continuar no mesmo ritmo, Giovanna conta que decidiu deixar a carreira em stand-by.
"Durante a gravidez, eu até conseguia fazer alguns atendimentos, mas o cansaço físico me impediu depois", desabafa.
Hoje seu bebê tem dois meses e Giovanna diz que não tem uma rotina fixa de horários. Em algumas semanas ela pode atender várias pessoas diferentes, em outras ela está mais tranquila. Ainda assim, a consultora revela que não está satisfeita com seu desempenho no trabalho.
"Um bebê demanda muito da mãe. (...) O plano é ano que vem estar voltando ao ponto que parei quando descobri a gravidez. Conforme ele for crescendo eu vou me adaptando", diz.