Número de solteiros ultrapassa o de casados no Brasil; o que isso significa?
São múltiplos os fatores que explicam, entre eles a ausência de amadurecimento emocional e uma espécie de “pandemia de frustração"
Se você foi uma das pessoas que se surpreendeu com a quantidade de “novos namoros” que descobriu no último 12 de junho, saiba que não foi o único. Ainda assim, mesmo com a retomada afetiva no pós-pós-pós-pandemia, seguimos tendo um número alto de solteiros perambulando pelo território brasileiro.
A estimativa do último IBGE mostra que há 81 milhões de solteiros no país versus 63 milhões de casados. Segundo a Euromonitor Internacional, o número de solteiros já ultrapassa o número de casados tanto na América do Norte quanto na Europa – e a taxa deve crescer mais de 20% no mundo até 2040.
O que explica este cenário? Entre os motivos apontados por especialistas, um parêntese lógico: é normal que as pessoas passem bom tempo da vida solteiros, principalmente com as revoluções culturais que normalizaram o casamento tardio, deixando de ser uma obrigação casar-se até os 30.
Para a psicóloga Suellen Souza, essa “predileção” pela solteirice tem a ver com a dificuldade moderna de construir laços afetivos-românticos. "Estamos vivendo uma era de relações líquidas. Os vínculos são frágeis, as relações são descartáveis", comenta, referindo-se ao conceito de Zygmunt Bauman sobre relações modernas.
Como manter um relacionamento na era moderna
Caso você esteja tentando migrar de status e ir de solteiro para “em um relacionamento sério", Suellen sugere algumas mudanças: diálogo, empatia, reciprocidade, renúncia e respeito. Esses seriam os ingredientes básicos para o sucesso de uma relação.
Em uma era com o corpo em evidência, porém, parece que deixamos de lado estes conceitos. As redes sociais e a internet apelam para a constante exposição do "melhor de si”, principalmente do lado físico.
Tanto é que, depois da pandemia, criaram o termo “Efeito Zoom” para explicar um recente aumento na busca por procedimentos estéticos. Uma pesquisa feita pela Academia Americana de Cirurgia Plástica e Reconstrutiva Facial mostrou que a taxa de pessoas que buscaram especialistas estético para melhorar a aparência nas chamadas de vídeo aumentou em 79%.
Amor e relacionamento, porém, exigem mais do que apenas atração física; exigem esforço, comprometimento e amadurecimento emocional. "Quando em uma relação, o casal precisa se comprometer a fazer aquilo dar certo. Nem sempre é fácil de combinar as vontades dos dois, e aí entra o diálogo", acredita Suellen.
"Precisamos aprender a nos posicionar na relação e buscar separar a minha demanda da demanda do outro. Entender que o outro está na relação para fazê-la dar certo, é muito mais valioso, do que achar que o outro 'tem que' suprir minhas necessidades. Assim, me frustro menos, e foco na saúde da relação", ressalta a psicóloga.
Sem idealizações
Na opinião de Suellen, porém, alinhar as expectativas não significa o mesmo que “idealizar o outro” e esperar que ele satisfaça todas suas vontades. “Isso pode fazer com que você se frustre”, alerta.
Especialista já usam até o termo “pandemia de frustrações amorosas" para se referirem a quantidade de pessoas exaustas com tentativas de envolvimento amoroso. De um lado, solteiros enfrentam “ghosting”, dificuldade de se conectar, criar laços, etc. De outro, pessoas em relacionamento enfrentar essa dificuldade de manter a conexão, de não focar toda a vida no parceiro, de abrir mão das próprias vontades.
Um artigo publicado no "Journal of Social and Personal Relationships" provou que pessoas solteiras costumam ter maior contato e proximidade com amigos e familiares, quando comparadas àquelas casadas. Esse isolamento social é problemático e, a longo prazo, prejudica o casal.
"Quando existe essa necessidade do outro, essa idealização do outro (como se ele fosse capaz de suprir todas suas necessidades), é normal que haja a quebra de expectativa, a separação do casal”, diz Suellen.
Em resumo, ela acredita que não há uma só fórmula para o relacionamento dar certo, assim como não há uma só explicação para o crescimento do número de solteiros. O que vale é não desistir.