O 'Nada' como produto do algoritmo nas redes sociais
A difusão do 'nada' nas redes sociais reflete a modernidade líquida de Bauman, onde conteúdos superficiais se espalham rapidamente sem oferecer significado.
A difusão do "nada" nas redes sociais reflete diretamente o conceito de modernidade líquida proposto por Zygmunt Bauman. Estamos vivendo em uma era onde tudo é passageiro, desde nossas relações interpessoais até nossas ideias. Fenômenos digitais frequentemente carecem de profundidade; tratam-se de memes, vídeos ou frases avulsas que se espalham rapidamente, mas sem oferecer um significado com algum propósito.
Esse "nada que viraliza" representa a fragilidade das conexões contemporâneas: compartilhamos por impulso, consumimos de forma rápida e descartamos com a mesma agilidade - O que ganha relevância não é o que realmente transforma ou edifica, mas o que entretém de forma efêmera, escorregando por entre os dedos como água.
Fica a reflexão: Como nós consumimos e valorizamos o conteúdo? Em um mundo fluido, onde tudo é descartável, há espaço para o que é sólido, consistente e significativo?
Os ídolos da internet oferecem uma sensação ilusória de proximidade e conexão: ao seguir suas vidas pelas telas, os espectadores acreditam que os conhecem, criando um vínculo emocional que muitas vezes não passa de uma construção midiática.
Essa relação, entretanto, é unilateral. O ídolo não conhece o seguidor, e a interação se limita a likes e comentários, reforçando a superficialidade típica da modernidade líquida. Ainda assim, essas figuras conquistam um espaço significativo na vida de seus seguidores, que projetam neles expectativas e significados que muitas vezes os próprios ídolos não conseguem sustentar.
Cada um de nós carrega a responsabilidade de questionar quem escolhemos enaltecer e o porquê. Estamos aplaudindo apenas a aparência e o entretenimento fácil, ou estamos reconhecendo contribuições genuínas?
Guy Debord, em sua obra A Sociedade do Espetáculo, já alertava que, o valor de um indivíduo frequentemente está atrelado à sua visibilidade, e não à sua contribuição concreta para a sociedade: “Nosso tempo, sem dúvida... prefere a imagem à coisa, a cópia ao original, a representação à realidade, a aparência ao ser".
Nas redes sociais, essa lógica foi elevada ao extremo: um conteúdo viral pode transformar uma pessoa comum em herói da noite para o dia. No fundo, precisamos mais de causas do que herois. Porque, sem propósito, o aplauso é só ruído, e o pedestal, um lugar vazio.
(*) Aline Sousa é headhunter, consultora de RH, mentora de carreira, professora universitária e LinkedIn Top Voices.