Para Carlos Moreno, cuidar da mãe com Alzheimer é missão
“O afeto ajuda e muito, pois cada dia é um dia e ter descoberto isso precocemente ajudou bastante a lidar com a situação.” Assim, o ator e garoto propaganda de uma empresa de higiene e limpeza, Carlos Bonetti Moreno, 60 anos, cuida de sua mãe, Demariste Bonetti Moreno, 90 anos, a Didi, que, em 2004, foi diagnosticada com Alzheimer, uma doença degenerativa que, devido à morte de células cerebrais, causa perda de memória, confusão mental, agressividade, entre outros sintomas.
Recentemente, Moreno estrelou no espetáculo Florilégio Musical II – Nas ondas do Rádio, ao lado das atrizes Mira Haar e Patrícia Gaspar, no teatro Eva Hertz, na Livraria Cultura, em São Paulo. A peça busca resgatar a era de ouro do rádio, durante as décadas de 1930, 1940 e 1950.
Quando Didi começou a se esquecer dos fatos com frequência, Moreno e sua irmã, Tânia, 61 anos, que mora no mesmo prédio da mãe, desconfiaram que não se tratava apenas de sinais de velhice e a levaram ao médico.
Foi nessa época que Moreno conheceu a Associação Brasileira de Alzheimer (ABRAz), buscou orientações e informações para o tratamento da mãe. Hoje voluntário da entidade, ele revela que a doença o atinge emocionalmente. “Quando você tem uma pessoa doente na família, todos são influenciados, pois, às vezes, não sabem lidar com a nova situação.”
Atualmente, sua mãe mora com o marido, Miguel Moreno, 86 anos, e com algumas cuidadoras que se revezam na atenção diária e no cuidado com os hábitos de higiene e alimentação. O estágio da doença é moderado e o tratamento se dá por remédios, terapias ocupacionais e convívio social.
Rotina associada aos cuidados
Moreno mora a três quarteirões de distância da irmã e dos pais e costuma almoçar com eles semanalmente, “atividade divertida, pois minha mãe perde o senso crítico, por conta da doença, e fica engraçada, irônica e provocativa”. “Ao motivá-la, você a estimula a usar a parte boa da memória.”
“A pessoa pode não se lembrar das coisas, porém se você tiver uma atitude bacana, como fazer um aniversário, ela pode não se lembrar do fato, mas a sensação que ela sente na hora será prolongada e fará muito bem para a sua qualidade de vida e autoestima. Se você entra em confronto, desestimula com maus tratos, isso só tende a piorar, pois o sentimento negativo é que vai perdurar por um período.”
Na carreira artística, Moreno pretende continuar com a temporada do mais recente espetáculo musical e, em relação ao Alzheimer, espera “trazer mais o tema à imprensa, que aborda a doença apenas em seu estágio mais avançado, quando vira uma situação terminal”.
Em 2013, Moreno esteve em um debate sobre o tema na Câmara Municipal de São Paulo. Sempre que é convidado a participar desses eventos, diz contar sua experiência como um familiar cuidador, demonstrando que a situação é complicada, mas que existem maneiras de se lidar com isso. “Realizar o diagnóstico precoce ajuda muito na qualidade de vida do paciente e do cuidador”, ensina.