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Amor entre primos: drama acontece na novela e na vida real

Especialista explica que, em caso de gravidez, os filhos têm risco entre 4 e 6% de apresentarem condições recessivas

10 fev 2014 - 11h07
(atualizado às 11h20)
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A nova novela da Globo, Em Família, mostra os conflitos do romance entre os primos Helena (Bruna Marquezine) e Laerte (Guilherme Leicam)
Foto: TV Globo / Divulgação

Eles são quase como irmãos: compactuam de histórias engraçadas da infância, dividem os almoços de domingo na casa da avó e também guardam memórias de férias, feriados e finais de semana. Primos são quase como irmãos entre as famílias que priorizam a convivência em conjunto.

Os anos passam, as formas do corpo mudam, e, com isso, chega a vontade de explorar novas experiências no campo afetivo e sexual . Em alguns casos, o que era uma apenas uma amizade entre dois primos acaba virando um caso de amor. É o caso de Helena (Bruna Marquezine) e Laerte (Guilherme Leicam) na nova novela da Globo, Em Família, em que vivem um romance apesar de serem do mesmo sangue.

Na vida real, aconteceu algo parecido com o editor de vídeo Maurício (*), 30, quando ele tinha apenas 11 anos de idade. “Não tinha muita noção do que estava fazendo, se estávamos namorando, ficando ou qualquer outra coisa”, relembra.

Ele conta que tudo começou quando a tia deixava a prima em sua casa para poder trabalhar. Com isso, passavam o dia todo juntos. “Entre uma brincadeira e outra, começamos a nos conhecer de uma forma mais carinhosa, com beijos no rosto. Isso trouxe a curiosidade de experimentarmos aquilo que a gente via na TV, que era um casal se beijando na boca.”

Maurício lembra que o que era uma brincadeira virou rotina e acabou “aguçando outros sentidos”. “Descobrimos que o simples fato de tocar o corpo um do outro nos deixava feliz”, conta, reforçando que na época não tinham noção do que era ficar excitado.

Com o tempo, segundo ele, foram se conhecendo “mais do que deveriam”. “Por algum motivo, transamos. E mais de uma vez". A história teve fim quando uma tia os pegou no flagra, no quarto. “Teve uma reunião com toda a minha família para discutir o que estava acontecendo. Entre choros e broncas, fomos proibidos de nos ver”, lembra.

Depois disso, eles passaram cinco anos sem se ver. “Quando nos encontramos novamente, já éramos mais velhos e nos lembramos de tudo oque aconteceu. Demos risadas e percebemos que aquilo era brincadeira de gente grande. Nunca mais aconteceu nada entre a gente. Hoje em dia nos vemos muito pouco ou quase nunca, mas é engraçado lembrar disso novamente”, afirma.  

Segundo o psiquiatra Leonard Verea, casos deste tipo não são muito comuns. “Não é frequente a ponto de trazerem o problema para tratamento. Quando duas pessoas estão apaixonadas, não veem problema em lugar nenhum, então não procuram orientação”, observa.

A Cristiane Pertusi acredita que, de um modo geral, este tipo de situação pode acontecer entre famílias que convivem muito juntas. Mas é menos comum hoje do que no passado, na opinião da especialista. “Culturalmente e socialmente, as famílias viviam mais juntas. Hoje o contexto é um pouco diferente.”

Namoro? Só dentro de casa

Ela afirma que estas relações podem ter a ver com o estilo da família e dos pais. Para ela, núcleos familiares que vivem mais aglutinados, mais envolvidos afetivamente, são mais propícios. “Eles vão crescendo com uma afeição fraternal, em uma relação de cumplicidade. Como a adolescência é um período de desconfiança, isso gera uma segurança maior para as primeiras experimentações afetivas e sexuais”, afirma.

Outra possibilidade é a paixão ser despertada por conta do comentário de amigos. “Muitas vezes pode não haver interesse, mas se um amigo falar algo sobre a prima estar bonita, pode gerar certo ciúme. E este ciúme às vezes causa confusão, a pessoa já não sabe se é algo fraternal ou é amor”, explica.

Outro traço encontrado em alguns casos de primos que namoram, de acordo com Cristiane, é a rigidez dos pais. “Aqueles pais que não querem deixar os filhos baterem as asas fora de casa. Assim, as crianças vão crescendo e se descobrindo juntas”,  analisa.

Às escondidas

Este tipo de relação nem sempre é facilmente aceita pela sociedade e pelos familiares. Por isso, muitos casais preferem viver um namoro às escondidas, o que pode gerar algum desconforto interno.

Segundo Leonard, viver na mentira mexe, inclusive, com a autoestima. “Ela pode se sentir mal e complexada com essa situação. Tudo aquilo que você faz de forma simples e natural tem muito mais chance de dar certo”, afirma, acrescentando que o ideal seria ter chance de assumir para vivenciar o romance de forma tranquila e serena.

Em família, mas com limites

Do ponto de vista social, segundo Cristiane, não existe nenhuma proibição sobre o relacionamento entre primos, ou grandes problemas psicológicos gerados por conta disso, apesar de muitas vezes ser visto como tabu.

No entanto, sair do ninho familiar pode ser mais difícil para duas pessoas que estão inseridas no mesmo contexto. Ela afirma que, em termos de experiências, um namoro entre primos difere do de um casal que vem de contextos culturais e sociais diferentes, onde há “uma mescla, uma aprendizagem”. O desafio, nestes casos, é buscar ampliar o convívio para além da família.

Outra coisa importante na visão da profissional tem a ver com a imposição de limites. De um modo geral, os familiares se sentem no direito de opinar em relacionamentos.

No caso de um relacionamento entre duas pessoas da mesma família, a invasão pode ser ainda pior. “A função da família é prover indivíduos, que são autônomos com responsabilidade e maturidade. Estes indivíduos têm que crescer, se desgarrar e fazer coisas de acordo com a sua idade. É importante saber conquistar seu espaço na sua vida afetiva de forma harmoniosa, sem querer romper de vez com a família”, pontua.

Quando o amor acaba

Diferente dos casais ‘tradicionais’, primos que se relacionam afetivamente têm que lidar com uma consequência incômoda quando o amor acaba: a convivência continua. “Não existe nenhum prejuízo psicológico nesta relação enquanto tudo está certo, mas se de repente acabar, deve haver muito equilíbrio de todos para perceber que só parte da relação acabou”, acrescenta Leonard.

(*) A pedido do entrevistado, a identidade foi preservada. 

 

"Primo com primo pode ter filho?

Esta pergunta é a primeira que vem à cabeça quando o assunto é o relacionamento entre dois primos. Mas engana-se quem pensa que o dito popular de que o bebê pode nascer com algum tipo de problema não passa de um mito. De acordo com Cintia Vilhena, colaboradora da Sociedade Brasileira de Análises Clínicas (Sbac), filhos de relações consanguíneas, como primos de primeiro grau, por exemplo, apresentam risco de 4 a 6% de apresentarem condições recessivas, ou seja, causadas pela herança de duas cópias de um gene cada uma delas com uma mutação. Mas embora existam cerca de 3,5 mil condições recessivas, a profissional afirma que a maioria delas é rara: ocorrerá apenas se ambos forem portadores da mesma mutação recessiva e, ainda assim, com risco de 1 em cada 4 nascimentos.

Problemas

Entre os problemas mais graves que podem vir a ocorrer, a especialista cita a fenilcetonúria, que pode afetar o desenvolvimento cognitivo e outras funções neurológicas do paciente. “Sem tratamento, os pacientes evoluem para deficiência mental, geralmente em grau acentuado”, explica a profissional. Outro exemplo é a fibrose cística, uma doença genética caracterizada por infecções crônicas e recorrentes do pulmão, insuficiência pancreática e elevados níveis de cloro no suor. “Muitos pacientes apresentam insuficiência pancreática, que leva a má-absorção de nutrientes especialmente de proteínas e lipídeos e a complicações gastrintestinais”.

Explicação genética

Este tipo de problema se explica pela relação direta entre o grau de parentesco e o grau de compartilhamento do material genético. “Em uniões com primos de primeiro grau, os indivíduos compartilham 1/8 de seu material genético e, portanto, se ambos os pais forem portadores de uma mutação genética, seus filhos estarão mais predispostos a apresentarem algum tipo de doença genética”, reforça Cintia.

Prevenção

A melhor forma de prevenir problemas em bebês nascidos deste tipo de relacionamento, segundo Cintia, é o aconselhamento genético. “Conselheiros genéticos são capazes de determinar a margem de risco para um casal pelo exame cuidadoso da história familiar e médica de ambos os lados da família”, afirma. Ela completa que este tipo de acompanhamento pode ser útil para estabelecer o risco do casal e orientar sobre as opções de reprodução antes de iniciar uma família.

 

Fonte: Terra
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