Casamento pode ficar 'muito melhor' após traição, diz psicóloga
Caso da Scheila Carvalho alimenta discussão sobre infidelidade, principalmente, sobre perdoar a traição. Segundo especialista, conversa franca após caso extraconjugal pode expor problemas antes não discutidos
Saber que a traição do marido com uma empresária virou assunto na mídia e nas redes sociais parece não ter abalado a confiança da ex-dançarina Scheila Carvalho no casamento. Em entrevista ao Domingo Espetacular, Scheila elogiou Tony Salles e disse que já o desculpou. “Quem pede perdão é forte e corajoso, quem perdoa também. E quem esquece é feliz”, afirmou. A postura passiva adotada pela famosa não é isolada e acontece com a maioria dos casais na situação, segundo a psicóloga e terapeuta de casal Marina Vasconcellos. “Tem casamentos que mudam completamente, ficam muito melhores depois de uma traição”, explicou ela, pois problemas que antes incomodavam o casal podem ser resolvidos .
Não quer dizer que a psicóloga apoie casos extraconjugais, mas, para Marina, eles podem fazer o casal avaliar pontos para serem mudados. O motivo, segundo ela, é a “conversa franca” no momento em que os parceiros começam a expor insatisfações e frustrações com o relacionamento que antes eram jogadas para debaixo do tapete. “Quando os dois conseguem superar o sofrimento e começar do zero, a traição leva ao crescimento e evolução do casamento”, disse ela. Mas para chegar à etapa, só com arrependimento verdadeiro do parceiro infiel e diálogo.
É claro que a teoria é mais simplista do que a prática. A infidelidade provoca sofrimento para ambas as partes: a pessoa traída se sente inferior ou com a ausência de algo e a traidora se arrepende, não tem como voltar atrás e trava batalha para reconquistar amor e confiança do companheiro. Os primeiros momentos são os mais difíceis e costumam ser regados de revolta. “Você chora, depois vem a raiva e você procura se vingar a qualquer custo”, contou o vendedor Filippe Figueiredo. Surge “aquele sentimento de não ser boa o bastante”, acrescentou a recepcionista Marcela Cardoso.
Segundo Figueiredo e Marcela – que já passaram pela situação – saber o motivo da traição vira quase uma obsessão. A psicóloga Marina afirmou ser comum a necessidade de investigar quem é a terceira pessoa na relação, quais são as características dela, o que ela tem a mais e o que o parceiro foi buscar fora do relacionamento. Apesar de todo o sofrimento, os entrevistados pelo Terra perdoariam uma traição.
Perdão e recomeço
“Acredito que na maioria das vezes a parte traída consegue perdoar, se ainda tiver sentimentos pela pessoa”, considerou Figueiredo. Mas o relacionamento só tem continuidade, na opinião do comunicador Gustavo Oliveira, “quando há verdadeiramente o arrependimento e os dois lados querem recomeçar”. Uma conversa sensata sobre o relacionamento é o que vai determinar se vale ou não à pena continuar, disse Marcela.
Cada casal leva um tempo diferente para digerir a traição, perdoar e recomeçar do zero. “O tempo para a estabelecer a confiança, então, é ainda maior. A pessoa que traiu vai ter que lidar com perguntas e pulga atrás da orelha do parceiro”, disse Marina.
Sentimento e traição
Para os entrevistados, quebrar o pacto de fidelidade com o parceiro não significa falta de amor, mas de “respeito, maturidade e segurança” combinados à insatisfação na relação. “Estamos sujeitos a desejos e fantasias que racionalmente gostaríamos de rejeitar. Se tomado por uma forte emoção, o ser humano chega a matar alguém, seria no mínimo ingênuo pensar que não seríamos capazes de trair”, afirmou o psicólogo do Instituto de Neurolinguística Aplicada do Rio de Janeiro, Lucas Rezende.
Na prática, a aparição de algo novo, uma atenção a mais, elogios e companheirismo que já não acontecem no relacionamento podem mexer com as emoções. A insatisfação sexual também costuma estar entre os primeiros motivos, segundo Marina. “Às vezes existe amor, mas o sexo não é bom. A traição acontece, então, somente para saciar a necessidade sexual”, afirmou. Mas, os casos que cada vez mais comuns, segundo Marina, são os reencontros proporcionados pelas redes sociais. “A pessoa adiciona o namorado da adolescência e se deixa levar pelo encantamento de uma época passada. Em uma confusão, ela se apaixona por uma imagem do passado”, disse.