Fundação investe em preservativo que aumenta o prazer
Colorida, com sabor, com textura, que brilha no escuro e até com a cara do presidente dos EUA. O céu é o limite quando o assunto são diferentes modelos de camisinha e, mesmo assim grande parte dos homens ainda resiste ao uso de preservativo. Foi para contornar essa situação que a Fundação Bill e Melinda Gates decidiu desenvolver “a camisinha da próxima geração, que protege e aumenta o prazer”.
O objetivo do projeto é resolver dois problemas: a gravidez indesejada e a propagação de doenças sexualmente transmissíveis, como Aids. A camisinha é barata e previne os dois, mesmo assim, em todo o mundo apenas 5% dos homens usam, um dos fatores responsáveis pelos 2,5 milhões de novos casos de infecções por HIV por ano. Para reverter o problema, segundo especialistas, seria necessário dobrar o índice de uso regular de preservativo.
“Redução do prazer sexual é normalmente a razão predominante para não usar camisinha. Nós podemos realmente torná-la mais desejável? É nisso que estamos apostando”, disse Stephen Ward, da Fundação Gates.
Mais de 500 pessoas já se inscreveram para o concurso da fundação, que distribuirá prêmios de US$ 100 mil a US$ 1 milhão para quem conseguir desenvolver o novo preservativo. Os participantes da primeira etapa do desafio precisam enviar amostras dos produtos. “Caixas de camisinhas, acessórios, modelos de camisinhas muito discretas que podem ser levados por mulheres sem que ninguém perceba. Nós recebemos um estoque completo com camisinhas, lubrificantes e balas”, contou Stephen.
Os participantes foram aconselhados a não divulgar nada sobre seus projetos, o que significa que o criador de um vídeo no Youtube, que afirma ter lançado uma camisinha colocada com um estilingue, provavelmente não é um candidato sério. Especialistas em preservativos, que estudam o assunto há anos, já sabem o que pode funcionar e os mecanismos que decididamente não são eficazes. “Não acredito que tenhamos visto um preservativo atraente para todos”, afirmou Ron Frezieres, da equipe de pesquisa e avaliação do Conselho de Saúde da Família da Califórnia.
Segundo o especialista, que já testou diversos preservativos, os homens gostariam de modelos que dessem a impressão de que não estão usando nada. “Quando vi o anúncio da Gates eu escrevi: ‘é ótimo que estejam fazendo isso, mas já estive aí antes, e espero que vocês consigam o que não consegui’. Isso tem sido minha paixão por anos e anos. Eu comecei a pensar ‘Deus, se conseguíssemos desenvolver uma camisinha que fizesse o sexo melhor do que sem ela...’. Se ao menos não diminuísse o prazer, não seria como tomar banho com capa de chuva”, disse Jeff Spieler, conselheiro técnico de saúde reprodutiva da Agência Norte-Americana de Desenvolvimento Internacional.
Diversos fabricantes vêm trabalhando para desenvolver preservativos mais atraentes. Alguns modelos, como Pleasure Plus e Twisted Pleasure, desenhados pelo indiano Alla Venkata Krishma Reddy, chamado por Jeff de “Leonardo da Vinci da camisinha”, remetem estímulos extras, mas receberam críticas por serem justas demais. Já outro projeto, o preservativo eZ-On, feito de poliuretano ao invés de látex, foi considerado folgado demais. O principal problema é que os modelos de camisinha estão sujeitos a uma grande variedade de gostos.
“Alguns homens preferem modelos discretos, enquanto outros querem algo que chame atenção”, exemplificou Jeff. Além das diferenças entre os usuários, outras questões foram debatidas, como o fato de que um preservativo estimulante poderia piorar a situação de homens que sofrem com ejaculação precoce.
As inovações na indústria de camisinha não param de aparecer, como a camisinha em spray ou a Pronto 4:Secs, que possui um mecanismo para ser colocada em até quatro segundos. Outra promissora invenção ainda na fase de testes é a Camisinha Origami. O inventor, Danny Resnic, afirmou que foi motivado por sua própria experiência, já que foi diagnosticado com HIV após uma camisinha ter se rompido. O modelo, feito de silicone, permite melhor circulação do sangue e tem textura mais próxima a da pele. Ele também desenvolveu um modelo feminino e outros para sexo oral e anal.
O concurso da Fundação Gates também inclui modelos femininos, apesar destes historicamente serem menos populares. Alguns homens preferem o modelo, que também são uma boa opção para as mulheres que têm mais domínio da situação, porém a camisinha feminina é mais cara e menos simples de colocar.
Em um mundo em que os homens são tão resistentes ao uso do preservativo também cabe as mulheres essa negociação. Porém, muitos ainda não enxergam com naturalidade o fato de uma mulher carregar camisinhas. Por isso, a indústria e entidades sem fins lucrativos investem no desenvolvimento de produtos para o transporte discreto de preservativos, para incentivar o hábito.
Devido à ampla gama de diferenças pessoais e culturais, alguns especialistas defendem que o concurso da Fundação Gates divida o prêmio entre vários tipos de camisinha e talvez até para novos materiais, ajudando esses modelos a serem produzidos de forma mais barata para terem ampla distribuição.