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Jairo Bouer: Até onde devo conversar com meus filhos sobre sexo?

Não resta dúvida que falar sobre sexualidade com os filhos é uma atribuição importante dos pais contemporâneos

13 jul 2023 - 13h28
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Como pais devem conversar com os filhos sobre sexo?
Como pais devem conversar com os filhos sobre sexo?
Foto: FG Trade

Mas até que ponto a conversa sobre a intimidade deve ir? Como o participar sem invadir?

Essas questões aparecem com frequência nas dúvidas que recebo diariamente de adolescentes e seus tutores. Tratar desse assunto na mídia ao longo das últimas três décadas me proporcionou uma posição curiosa: acabo sendo interlocutor tanto dos pais como dos filhos e, assim, consigo enxergar um pouco melhor o que se passa dos dois lados dessa interação.

Duas dúvidas de pais me chamaram a atenção e motivaram o texto de hoje aqui no Terra Você. Na primeira, a mãe trazia detalhes bem íntimos da primeira experiência sexual da filha, contando que a garota tinha usado preservativo desde o começo da penetração, que ela jurava que o namorado não tinha introduzido todo o pênis, que não havia ejaculado dentro e, sim, na barriga dela.

A menina estava com a menstruação atrasada alguns dias e a mãe queria saber se havia risco de gravidez e, se o nervosismo podia ser responsável por esse atraso. 

Na outra dúvida, a mãe me questionava se havia algum problema de ela reservar uma suíte em um motel para que a filha inaugurasse a vida sexual em grande estilo, com direito até a decoração especial, com velas e pétalas de rosa.

Ansiedade e preocupação

Entendo a ansiedade e as preocupações dos pais com relação ao início da vida sexual dos filhos, mas é bom lembrar que isso pode levar a atitudes que provocam atritos e desgastes desnecessários, aumentando inclusive as chances da experiência inicial, já repleta de apreensões e incertezas, ficar ainda mais tensa. 

Parte dessa confusão pode acontecer também porque a atual geração de pais de adolescentes possivelmente não falou com seus próprios genitores a esse respeito na sua juventude. 

A primeira vez, via de regra, está muito mais para um passo inicial, cercado de aprendizados e angústias, do que para uma estreia glamorosa, em meio a fogos de artificio. Quem não lembra desse dia?

Cuidado com os limites

É claro que os pais não querem que os filhos enfrentem problemas como uma gestação não planejada, uma infecção sexualmente transmissível, uma experiência ruim ou, ainda, uma desilusão amorosa. Mas isso não justifica colher detalhes íntimos como quanto entrou, quanto tempo durou, onde ejaculou, se foi bom ou ruim, etc.

Talvez a primeira dica dessa interação seja: tente se colocar no lugar deles e entender o que provocaria mal-estar e desconforto caso seus pais buscassem detalhes íntimos das suas primeiras experiências amorosas e sexuais. 

Jovens buscam autonomia, independência e privacidade quando o assunto é sua vida sexual, principalmente se ela estiver começando. Assim, de maneira geral, eles ficam constrangidos e não veem com bons olhos as tentativas dos pais de intromissão na sua intimidade. Daí vem o segundo recado: não seja invasivo! 

Ajudar sim, controlar não

É tentador ajudar os filhos nessa etapa, mas será que tomar atitudes por eles, como reservar uma suíte de motel e cuidar dos detalhes de decoração, não parecem muito mais uma tentativa de controle do que um incentivo à autonomia. 

Não seria melhor, por exemplo, sair de casa, ir viajar e deixar um espaço para que os filhos tivessem liberdade no quarto em que já passam boa parte da sua vida? Ou ainda, caso eles revelassem o desejo de ir a um motel, que os pais proporcionassem condições para que os jovens tomassem suas próprias decisões? Daí a terceira dica: não controle e, sim, proporcione incentivo à autonomia com responsabilidade por parte deles.

E, para terminar, é bom lembrar que possibilitar discussões e manter a comunicação sobre sexualidade é um ativo importante em casa, evitando sempre julgamentos, tabus e preconceitos. Assim, você amplia as chances de eles buscarem informações e conversas quando surgir alguma dúvida ou conflito.

Fica, então, a dica final: mostre-se aberto ao diálogo, o que pressupõe, claro, ouvir e escutar o que eles têm a dizer, mesmo que não concorde com as atitudes e avaliações deles. Você deve e pode argumentar, discutir limites, mas nunca impor seu ponto de vista.

E lembre-se: mesmo pais abertos, que conseguem manter um canal de comunicação permanente com seus filhos, podem se frustrar com o fato dos jovens não desejarem falar sobre esse tema durante boa parte da sua vida. Faz parte! Eles precisam trabalhar melhor sua autonomia e autoestima antes de dividir questões de sexualidade com os pais. Você vai precisar aprender a respeitar esse tempo. 

* Jairo Bouer é médico psiquiatra, comunicador e publica suas colunas no Terra Você às quintas-feiras. 

Fonte: Jairo Bouer
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