Quarentena impõe “seca” aos solteiros e causa sofrimento
Terapeuta sexual afirma que isolamento pode ser o momento de investir no autoconhecimento
A adoção da quarentena impôs uma série de privações para as pessoas. Em um primeiro momento, todo mundo vai lembrar da impossibilidade de sair de casa para trabalhar, da saudade de encontrar os avós ou da falta de beber com os amigos. No entanto, o sexo também é um tema que merece atenção especial neste período de isolamento social.
“Os solteiros estão sofrendo bastante porque não estão se arriscando encontrar outras pessoas, sofrem com o distanciamento, mas á uma oportunidade de se autodescobrir mais, aumentar a questão da masturbação e até da pornografia para aliviar a tensão e ter prazer”, opina Paula Napolitano, psicóloga e terapeuta sexual.
“É lembrar que existe o prazer com a gente mesmo, tentar usar esse período para conhecer o próprio corpo, fazer movimentos diferentes quando for se masturbar, movimentos mais lento, comprar alguma acessório, realizar leitura erótica, ter um prazer consigo”, completa.
Para aqueles casais que não moram juntos, a terapeuta diz que o nude ou o vídeo, práticas não recomendada por ela por questão de segurança antes da nova realidade imposta pelo novo coronavírus, podem fazer a diferença. “É uma maneira de conquistar e seduzir pela palavra. É o momento de mandar uma mensagem picante, de experimentar novas formas de seduzir. Você se descrever como está se tocando, o que gostaria de fazer na outra pessoa. É uma maneira de apimentar a relação, mas, é claro, desde que a outra pessoa também queira, precisa ser mútuo”, explica.
Para Napolitano, os casados precisam administrar o sexo com uma rotina diferente. “Tem casais que aumentam a vontade, mas tem casais que, pelo estresse e ansiedade, estão percebendo a libido caindo. A preocupação com a situação financeira e a intolerância com toda essa incerteza, por exemplo, pode baixar a libido e dificultar a ereção”, lembra.
A psicóloga ressalta que a falta de tempo sempre foi a desculpa de muita gente para o descuido com o relacionamento e que agora pode “ser uma forma de regar a plantinha do relacionamento e da sexualidade”.
“É uma criação nossa que o relacionamento e a sexualidade têm que surgir de uma maneira espontânea, que a vontade do carinho tem que surgir normalmente, isso vem do amor romântico, que não precisa de dedicação, quando, na verdade, eles precisam de muita dedicação. Se a gente não regar, o nosso relacionamento também poder murchar e morrer”, afirma.
Napolitano acredita que paciência é a palavra-chave para os casados neste momento. “É o momento de repensar muita coisa, de como estávamos lidando com as coisas, alguns assuntos que estavam sendo colocados para debaixo do tapete estão vindo mais à tona agora”, aponta.
A terapeuta aproveita para dar uma dica para esses casais: “Tentar fazer o que faziam na época do namoro, trazer isso para casa. Como seria um final de semana gostoso dentro da quarentena? Fazer algo mais especial, algo que os dois gostem”.
Para os solteiros, ela diz que é o momento “de ser dar um presentinho e focar em ter prazer consigo mesmo, sair do automático como um todo”.
Aplicativos de paquera
E se para os solteiros a vida está mais difícil na quarentena, eles parecem estar gastando mais tempo nos aplicativos de paquera. De acordo com dados do Tinder, a plataforma registrou um aumento mundial de 20% das conversas diárias, sendo que a duração média dos papos cresceu 25%. No Brasil, os matches aumentaram em 25% e as conversas já são 20% mais longas.
O The Inner Circle também registrou crescimento na sua base de usuários. Os matches do aplicativo aumentaram 99%. Já o acréscimo de mensagens enviadas é de 116%, enquanto os encontros online registraram um acréscimo de 50%.
Uma brasileira, que mora na Espanha e prefere não se identificar, endossa o crescimento desses números. “O que me motivou a entrar foi a sensação de solidão que veio com o isolamento social. Saí de um relacionamento a pouco tempo e fui em busca de um bom papo para animar a quarentena, aproveitando que marcar encontro não será uma opção por um bom tempo”, argumenta.
“Já tinha usado antes. A única diferença foi que as palavras: isolamento, quarentena e coronavírus aparecem em muitos perfis. Para falar a verdade, achei que as pessoas teriam mais vontade de conversar por causa da quarentena, mas não foi assim. Ter vários matches e pouquíssimas conversas ainda é uma realidade no Tinder”, reclama.
A falta de sexo também foi um fato que pesou na decisão para ela: “Acho que estar em quarentena sozinha e não saber quando vou voltar a ter contato com outras pessoas intensifica todas as vontades. Nenhum match no Tinder evoluiu para um bom papo, então tive que encontrar outras formas prazerosas de me distrair. Não sei se é o tempo livre, os hormônios ou os dois, mas tenho me masturbado mais durante a quarentena e até pesquisado mais sobre o assunto. Tanto tempo só com a minha companhia tem sido bom para um novo autoconhecimento”.
Uma jornalista paulistana, que também não quis se identificar, confessa que também apelou para os aplicativos na tentativa de ter um “papo mais quente”. “Esperava encontrar pessoas mais dispostas a conversar agora que está todo mundo preso em casa, mas isso não aconteceu. Os boys que apareceram são muito diretos, não senti confiança em expor minha intimidade tão rapidamente, então tive que me virar sozinha”, disse.