"Tive até namoradas imaginárias", diz autor de 'Diário de um Banana'
No Brasil pela primeira vez, escritor e cartunista Jeff Kinney fala sobre seus livros, sua carreira e aventuras amorosas
Autor da série Diário de um Banana, Jeff Kinney está no Brasil pela primeira vez para lançar o sétimo livro da série, que é sucesso também por aqui. Em Diário de um Banana – Segurando Vela, o protagonista Greg encara o desafio de encontrar um par para o baile de Dia dos Namorados da escola. “Quando eu era pequeno eu até inventava namoradas, tinha namoradas imaginárias. Então, sempre soube que queria estar com alguém. Por isso, geralmente era a pessoa que aconselhava e não que recebia conselhos”, contou ele durante entrevista exclusiva concedida ao Terra, logo que chegou ao País. Hoje, Jeff é casado e possui dois filhos.
Apesar de assinar uma série de sucesso, Jeff ainda tem dificuldade em acreditar no sucesso. “Eu sempre sonhei em ser um cartunista de jornal, mas não consegui emplacar, então nunca achei que teria algum sucesso". O autor levou oito anos para escrever seu primeiro livro e, na época, ele acreditava se tratar de uma obra para adultos. "Tudo que está acontecendo desde que o primeiro livro saiu tem sido muito surreal para mim”, explicou.
Greg parece ter muito em comum com Jeff quando criança, mas não é apenas o humor e as características do personagem que aproximam os dois. O visual do livro, que parece realmente um caderno, também foi inspirado em uma experiência própria. “Meu diário era uma mistura de desenhos e textos e, quando eu olhei para ele, pensei que talvez houvesse uma ideia ali, que eu poderia escrever um livro nesse formato. Foi assim que acabou sendo publicado”, disse ele.
Confira a seguir a entrevista completa com Jeff Kinney, criador da série Diário de um Banana:
Terra: Essa é sua primeira vez no Brasil. O que está achando das crianças brasileiras?
Jeff Kinney: Na verdade estou no Brasil há poucas horas. Mas na semana passada, quando ainda estava nos Estados Unidos, recebi vídeos de crianças brasileiras fazendo perguntas. Foi muito empolgante ouvi-las falando em uma língua diferente, da qual eu não entendia nenhuma palavra, mas ainda assim todas mencionavam o personagem Greg de uma forma afetuosa, elas realmente o amam e se identificam com ele. Isso me encanta. Mal posso esperar para começar a conhecer crianças, fãs brasileiros.
T: Há algo específico sobre elas que chamou sua atenção?
JK: Sim, desde quando me tornei um escritor, há cinco anos e meio, o Brasil tem sido especial. Foram poucos os países onde meus livros realmente decolaram logo de cara e os transformaram em um sucesso da literatura infantil e o Brasil foi um deles. Por isso, é uma grande realização poder vir aqui e conhecer as pessoas que tornaram minha obra um sucesso na América Latina.
T: Os brasileiros tiveram uma resposta diferente aos seus livros de alguma forma?
JK:
Sempre fiquei surpreso de os livros terem funcionado no Brasil porque acho que, culturalmente, é claro que o Greg é diferente das crianças que crescem aqui, mas ao mesmo tempo isso me lembra de que a infância e seus dramas são universais.
T: Você já pensou em escrever para adultos?
JK: Na verdade eu escrevi o Diário de um Banana para adultos. Eu trabalhei nele por oito anos e em nenhum momento achei que estava escrevendo um livro para crianças. Foi meu editor que me disse que na verdade eu havia escrito um livro infantil. Sério, foi uma grande surpresa! (risos)
T: Qual é a maior “graça” de escrever para crianças?
JK: Eu acho que a melhor parte de escrever para crianças é ter algum leitor. Eu sempre sonhei em ser um cartunista de jornal, mas não consegui emplacar, então nunca achei que teria algum sucesso. E eu vivi com isso por muito tempo. Então tudo que está acontecendo desde que o primeiro livro saiu tem sido muito surreal para mim. O fato de estar no Brasil, falando com você hoje, é muito estranho comparado às minhas expectativas.
T: Você sempre gostou de desenhar?
JK: Sim, quando eu era criança, tinha déficit de atenção - e acho que ainda tenho - e desenhar me ajudava a me concentrar no que está acontecendo à minha volta. Eu sempre desenhei.
T: Como surgiu a ideia de editar seus livros como um caderno de verdade?
JK:
Quando eu tinha 20 e poucos anos estava trabalhando em quadrinhos, mas não estava produzindo tanto quando gostaria, então decidi manter uma espécie de diário para que a cada dia eu registrasse o meu progresso e escrevesse sobre isso. E meu diário era uma mistura de desenhos e textos e quando eu olhei para ele pensei que talvez houvesse uma ideia ali, que eu poderia escrever um livro nesse formato. Foi assim que acabou sendo publicado.
T: Como você chegou na história de Greg?
JK: Na verdade não sei se existe de fato uma história, é mais uma coleção de episódios e piadinhas. Não acho que meus temas sejam particularmente fortes, mas me orgulho do meu humor.
T: Você possui dois filhos. O dia a dia deles o ajuda de alguma maneira a construir o universo de Greg?
JK: Tenho dois meninos, um de sete e outro de 10 anos. Mas acho que a melhor maneira de gerar histórias é apenas viver uma vida comum, o que eu definitivamente faço. Com exceção de viagens como esta, meu dia a dia é bem tranquilo e acho que é aí que você encontra seu melhor humor.
T: Você já tratou de assuntos variados em seus livros como namoro, escola, férias, puberdade. Qual foi o tema mais difícil de trabalhar para crianças?
JK:
Eu acho que o bullying foi o mais difícil. Meus livros são recheados de humor, e bullying é um problema sério. Então eu acho que encontrar uma maneira de administrar isso foi o mais complicado.
T: Você levou oito anos para escrever o primeiro volume da série. Quanto tempo precisa agora para escrever um novo livro?
JK:
Agora, geralmente passo cerca de nove meses trabalhando em cada livro.
T: É seu sétimo livro da série, que é um sucesso mundial. Esse é o motivo de não iniciar uma nova série, com novos personagens e novas temáticas?
JK:
Bem, eu adoraria escrever algo novo, mas sou um autor e cartunista há apenas cinco anos e meio, então ainda sinto que é cedo para deixar as histórias
Diário de um Bananaagora. Mas futuramente eu gostaria de fazer algo diferente e mostrar que posso escrever algo além disso.
T: Em inglês, o título do livro possui uma conotação um pouco diferente da versão brasileira, tendo um sentido próximo a “fracote”. Você poderia ser considerado um “banana” ou um “fracote” na sua infância?
JK: Eu era um garoto de altura mediana e muito magro. E há diversas fotos minhas na piscina tremendo porque eu não tinha gordura corporal. Então, me relaciono bem com a ideia de uma criança “fracote” ou que simplesmente se sinta o ser mais sem poder do mundo.
T: Quais as vantagens de ser um “banana”?
JK: Não tenho certeza se há vantagens nisso (risos). Mas me parece que hoje em dia há uma aceitação maior aos diferentes tipos de crianças. Alguns nerds têm muito orgulho de serem nerds, por exemplo. Acho que hoje eles sabem que você não precisa ser esportista para ser amado por seus pais.
T: Você tinha um diário quando criança?
JK:
Eu não tinha, mas gostaria muito de ter tido. Pois acho que isso seria uma janela para voltar aos meus pensamentos daquela época, o que acho que seria incrível. Por isso, incentivo as crianças a fazerem isso.
T: Seus filhos mantêm um diário?
JK: Não (risos). Na verdade, não consigo imaginá-los escrevendo em um diário.
T: O que você acha que fez de seus livros best-sellers?
JK: Eu acho que é uma mistura de coisas. Eles são visualmente apelativos, quando você os abre pensa que serão divertidos. E acho que o humor deles também ajudou.
T: Como o Diário de um Banana foi parar no cinema?
JK: Quando o segundo livro saiu eu fui procurado por diferentes estúdios que estavam interessados em transformar minha história em um filme. Comecei a conversar seriamente com a Fox sobre a adaptação e isso finalmente aconteceu um ano e meio depois.
T: Como você se sentiu vendo sua história na telona?
JK: Eu estava muito nervoso em entrar no cinema com meu título no cartaz. Quando a música da Fox começou senti borboletas no estômago de nervoso (risos). Mas foi ótimo. Os filmes são diferentes dos livros, tem vantagem e desvantagens, mas são apenas uma expressão diferente da história. E acho que é uma versão emocional, o que penso ser uma coisa boa.
T: O próximo livro será lançado em novembro nos Estados Unidos. Você já sabe qual será o tema da história?
JK: Eu acho que meu próximo livro será sobre o que acontece em uma amizade quando um dos amigos começa a namorar.
T: No sétimo livro Greg recebe dicas do tio de como conseguir uma garota, mas isso não funciona muito bem. Você já recebeu conselhos amorosos?
JK: Eu sempre fui um grande romântico quando criança. Mesmo no jardim de infância eu já gostava de uma menina. Quando eu era pequeno eu até inventava namoradas, tinha namoradas imaginárias. Então, sempre soube que queria estar com alguém. Por isso, geralmente era a pessoa que aconselhava e não que recebia conselhos.
T: Você se lembra da sua primeira decepção amorosa? Como foi?
JK: Deixe-me pensar. Acho que foi na quinta série por uma garota chamada Laura Carpenter. Ela me deu uma bota. Acho que eu era intenso demais para ela naquela época (risos).
T: No livro, Greg está, na verdade, com medo de terminar sozinho. Você acredita que esse seja um medo comum entre os adolescentes?
JK: Eu acho que ele está com medo de ficar de fora do cenário social da escola e é um medo muito real e comum para as crianças e adolescentes especialmente.
T: Qual foi a maior loucura que já fez por amor?
JK: Eu pedi minha mulher em casamento em um passeio de trenó puxado por cachorros. Eu a surpreendi com o pedido enquanto estávamos lá.
T: Você já contou com a ajuda de um amigo para conquistar alguém?
JK: Não, mas uma vez meu avô tentou me arranjar para uma garota. Isso foi muito estranho (risos). Ele me levou para o recital de violino ou violoncelo dela e eu pensei “se eu acabar casando com essa menina vou ficar devendo ao meu vô” (risos).
T: Você já “perdeu” uma pretendente para um amigo?
JK: Não que eu saiba (risos).