Topless: brasileiros são a favor, e prática deve ser 'liberada' no futuro
Segundo especialistas, o costume que começou na década de 1960 foi um dos primeiros sinais de feminismo
Em alguns países da Europa, se deparar com uma mulher tomando sol com os seios de fora não causa tanto espanto quanto a mesma cena em uma praia carioca. O costume que, segundo a professora do curso de Design de Moda do Centro Universitário Belas Artes, Valeska Nakad, começou na década de 1960, “foi um dos primeiros sinais de feminismo”.
E a mostra dos seios ainda continua a ser vista como ato pelos direitos das mulheres, os protestos do grupo feminista Femen servem como exemplos. No Brasil, o hábito ganha adeptos aos poucos, mas segundo homens e mulheres entrevistados, a prática já é vista como “natural”. “O futuro é o topless no Brasil ser liberado”, disse Valeska.
Em dezembro de 2013, um grupo de mulheres organizou um “toplessaço” na praia de Ipanema, no Rio de Janeiro. O evento teve cerca de oito mil confirmações de participantes no Facebook, mas no momento de tirar a parte de cima do biquíni, poucas tiveram a atitude.
De acordo com o também professor de moda do Centro Universitário Belas Artes, Otávio Lima, o pudor em relação ao topless no Brasil é fruto da proibição legal de muitos anos – o artigo 233 do Código Penal considera crime qualquer ato obsceno em público e o topless pode ser interpretado como tal. “Além disso, a glândula mamária é um símbolo da maternidade e em um País em que as tradições são muito valorizadas resta o ranço da visão da mulher recatada e coberta”, disse ele.
Outro ponto levantado pela professora de moda da Faculdade Santa Marcelina, Miti Shitara, foi a religião. “O Brasil é um dos países mais católicos que existem e também é um lugar onde os homens cultuam as ideias: ‘mulher minha não anda pelada’ ou ‘mulher com o corpo descoberto não tem valor’”, afirmou a profissional.
O catolicismo, segundo ela, coloca o corpo como pecaminoso, que deve ser coberto e preservado. Essas amarras culturais só deixam de serem “válidas” durante a festa popular mais importante do Brasil: o Carnaval. É um “momento de descontração em uma festa pagã” em que “tudo é permitido”, disse Valeska. Homens se vestem de mulher, passistas desfilam com o corpo todo nu e o pudor é esquecido por quatro dias em São Paulo e no Rio de Janeiro, e até por mais tempo em outras cidades.
No meio das famosas, os julgamentos em relação ao topless também parecem não vigorar com tanta rigorosidade. Uma das cenas assunto na mídia e entre telespectadores foi o topless feito pela BBB Clara Aguilar, na 14ª edição do reality show. Ensaios fotográficos de moda, desfiles e até mesmo as fotos “selfies” compartilhadas nas redes sociais por famosas com frequência deixam os seios à mostra.
Para Miti e Valeska, o apoio de pessoas públicas ao hábito só o fortalece. “As famosas fazem a cabeça das pessoas, são formadoras de opinião”, afirmou Miti. Assim como o biquíni fio-dental e os decotes cada vez mais ousados, Miti acredita em uma aceitação maior do topless, principalmente nas cidades praianas.
Uma pesquisa feita pelo Terra com internautas mostra que a maioria vê o topless como um ato inofensivo, natural e que preza pela liberdade. Entre os participantes, alguns sugeriram que seja praticado em lugares específicos, para não incomodar quem é contra. Já os pronunciamentos contra o topless tiveram como motivo o temor da falta de respeito dos brasileiros em geral.
O primeiro topless
O estilista norte-ameriano Rudi Gernreich é personagem principal da história do topless, segundo Miti. A top model Peggy Moffitt, contou a professora, era a musa do estilista há 50 anos e foi a primeira a fazer um ensaio de topless, apenas com um turbante na parte de cima. Na década de 1960, Gernreich lançou o primeiro sutiã sem bojo e logo também criou blusas com transparência. “Em 1965, ele criou o monokini, que causou um alvoroço enorme nos EUA. Era a parte de baixo com duas faixas que subiam e envolviam o pescoço, mas deixando os seios de fora. Tudo isso na década da luta feminista”, contou Miti.
A mulher, que queimou o sutiã, subiu o comprimento da saia e passou a exigir valorização social na época, passou a ver o corpo como arma de sedução, afirmou Miti. Nos anos 1980, teve início o culto ao corpo “sarado” e “escultural”, “não era mais um corpo ingênuo” e as mulheres passaram a querer exibi-los cada vez mais, concluiu a professora.