Viagens, culturas e vida em casal são atrativos de carreira em navio
Empresas oferecem, além de viagens, alimentação e hospedagem, a possibilidade de casais trabalharem juntos e 'morarem' na mesma cabine
Trabalhar viajando pelo mundo, conhecer pessoas de diferentes culturas e ser recompensada de acordo com o esforço empregado na função. Estas características fizeram a turismóloga baiana Maria Kellegher, 35 anos, deixar o emprego em um hotel de luxo para trabalhar em uma espécie de resort flutuante. “A gente se enriquece encontrando um e outro no navio. Foi uma das razões que me fizeram decidir trabalhar em cruzeiro”, contou ela, assistente de gerente de bares do Oasis of The Seas.
Segundo Maria, a carreira em navio é promissora, as promoções são constantes – de acordo com o empenho de cada funcionário – e, como não existem gastos com alimentação e hospedagem, é uma ótima forma para juntar dinheiro. Os funcionários de um navio da Royal Caribbean, por exemplo, têm direito a todas as refeições, cabine individual, academia e aulas de idiomas. Um auxiliar de limpeza pode ganhar cerca de R$ 1.480, enquanto um segurança, R$ 2.700. Já os cargos de chefia, ou mesmo o capitão, têm salários altos, variáveis de acordo com o profissional.
Há cerca de cinco anos na companhia Royal Caribbean e com 27 anos de idade, a norte-americana Amy Fickert prova o dito por Maria: atraída pela proposta de viajar, ela mergulhou na carreira e atualmente já é diretora de cruzeiro. Amy trabalha com a parte de entretenimento, faz apresentações de shows e controla os espetáculos exibidos no navio. “Nunca tinha pensado em trabalhar em cruzeiro até amigos meus falarem sobre a experiência”, contou.
Trabalho duro e folgas longas
Um chef de cozinha, segundo o gerente de alimentos e bebidas do Oasis of The Seas, Errol Saldanha, leva dois anos, em média, para chegar ao posto. “A pessoa começa cortando legumes e precisa passar por quatro seções para subir de cargo e assim vai até se tornar chef”, contou. Para chegar à posição, as jornadas são de cerca de 10 horas por dia – ninguém trabalha mais do que 14 horas, a não ser em emergências – sete dias por semana, com direito a uma folga.
Os meses a bordo e de descanso variam de acordo com as divisas de cada funcionário e área de trabalho. Na tripulação, quem tem até duas divisas e meia, por exemplo, cumpre 10 semanas de trabalho e tem direito a 10 de férias, segundo o diretor de hotelaria João Mendonça, que começou como assistente de garçom em cruzeiros. “Na parte do hotel, todos os supervisores com mais de duas divisas e meia fazem quatro meses a bordo e dois em casa. Parte do pessoal da limpeza trabalha de seis a oito meses e descansa de seis a oito semanas”, exemplificou.
Já o capitão Patrik Dahlgrene Roeck tem um regime um tanto quanto mais atrativo: passa três meses comandando o navio e três meses de férias. De qualquer forma, o tempo máximo permitido de trabalho seguido é de oito meses, disse Mendonça. As áreas vão desde os serviços propiciados pelo navio, assim como a parte artística e de entretenimento. Entre as exigências comuns estão habilidades na atividade que será executada, ter mais de 21 anos e falar inglês.
Casais na tripulação
Se em diversas empresas existe a política que proíbe o relacionamento entre funcionários, as companhias de navio incentivam a prática, principalmente por conta do tempo que os funcionários passam em alto-mar. Maria, por exemplo, conheceu o atual marido no navio: “ele trabalha no cassino”, contou. Segundo ela, as empresas procuram sempre colocar os casais nos mesmos cruzeiros e eles podem ficar em uma cabine juntos. “Tem muito casal, quem não era antes já virou. Os relacionamentos acontecem como lá fora, mas de forma mais rápida e com mais intensidade”, afirmou a brasileira.
Aos 35 anos, porém, ela decidiu abrir mão da maternidade por enquanto. Apesar de existirem programas em que a família visita os funcionários em paradas do navio, os filhos não podem passar o tempo de trabalho a bordo. “Tem que escolher”, disse ela. A mulher do capitão Roeck, que trabalhava na parte artística de cruzeiros, teve que abandonar a carreira em alto-mar para ser mãe. “Acabei de ser pai, uma menininha”, contou ele.
Eles se conheceram em um navio e estão juntos há oito anos. “Para ela não dá mais para trabalhar em navio, mas o sistema do capitão é bom, fico três meses trabalhando, mas depois passo três meses em casa e tenho o tempo inteiro para a família”, contou ele. Roeck afirmou, no entanto, que existem mulheres que deixam os filhos com a mãe ou irmã durante o período de trabalho e os veem apenas nas férias.
O Terra viajou a convite da Royal Caribbean