Você sabia? Crianças analfabetas aprendem um novo idioma mais fácil que adultos letrados
Especialistas apontam que essa discrepância está relacionada à forma como os pequenos são introduzidos à linguagem; entenda
Diversos estudos já apontam que os pequenos têm maior facilidade do que os adultos para aprender novas atividades ou, até mesmo, línguas estrangeiras. Para além das comprovações científicas, esse fato se verifica ao observarmos que bebês, aos seis meses, começam a balbuciar e, aos doze, já possuem um vocabulário de até 50 palavras. No entanto, a fim de trazer base aos exemplos da vida real, pesquisadores Universidade Carolina de Praga se empenharam em analisar as diferenças de aprendizado entre os dois grupos. Assim, descobriram que crianças analfabetas, se comparadas aos adultos, têm mais propensão a adquirir novos idiomas.
Por que crianças aprendem mais rapidamente?
Em um artigo, publicado no site acadêmico 'The Conversation', os autores da pesquisa, Katerina Chládkova, Sarka Simackova e Vaclav Jonas Podlipsky, afirmaram que essa discrepância está relacionada à forma como os bebês são introduzidos à linguagem. "Eles começam sua jornada de aprendizado de idiomas no útero. Uma vez que seus ouvidos e cérebros permitem, sintonizam o ritmo e a melodia da fala audível através da barriga. Poucos meses após o nascimento, passam a analisar a fala contínua em pedaços e a aprender como as palavras soam (...) Leva mais de um ano ouvindo e observando antes que as crianças digam suas primeiras palavras, com a leitura e a escrita chegando muito mais tarde", explicaram.
Já os adultos, ao aprenderem uma língua nova, fazem o processo contrário, iniciando pela escrita e não pelos sons. Esse método, de acordo com os estudiosos, é responsável por afetar o estudo das pessoas mais velhas. Isso porque a leitura nos leva a assimilar erroneamente a fonética do idioma nativo com a do estrangeiro. "Nossa pesquisa se baseia em estudos anteriores, que descobriram que a ortografia pode interferir na forma como os alunos pronunciam vogais e consoantes individuais de uma língua não nativa. Exemplos entre alunos de inglês incluem italianos alongando letras duplas , ou espanhóis confundindo palavras como 'sheep' e 'ship'", detalharam.
Então, para comprovar a hipótese, os autores realizaram um experimento. 174 adultos ouviram cinco minutos de duas línguas que nunca tinham ouvido, com o áudio modificado para se assemelhar à forma como ouvimos no útero, escondendo consoantes e vogais. Os participantes, dessa forma, deveriam diferenciar os idiomas. De início, a maioria conseguiu cumprir a tarefa com êxito. Mas, com a adição de legendas, o desempenho dos grupos analisados caiu.
Estude como uma criança!
Apesar de parecer desanimadora para os adultos, a descoberta traz soluções! De acordo com os autores da pesquisa, aqueles que estudam novos idiomas devem alterar seus métodos de aprendizagem, focando inicialmente na audição. "Isso significa sintonizar conversas, podcasts e fala nativa desde o estágio inicial do aprendizado do idioma, e não buscar imediatamente a palavra escrita", afirmaram.
*Texto sob orientação de Helena Gomes