O que é a bactéria Streptococcus A e como ela age em crianças
Mais de sete crianças foram a óbito no Reino Unido após se contaminarem. Entenda como proteger seu filho
O Reino Unido tem enfrentado uma onda incomum de infecção por Streptococcus do grupo A nos últimos meses. Desde 12 de setembro, foram 836 notificações do contágio pela bactéria relatadas para a Agência de Segurança em Saúde do local - mais que o dobro do índice médio registrado no mesmo período dos últimos cinco anos.
Dos infectados, 24% são crianças com 10 anos ou menos (nos anos anteriores, esta taxa se mantinha em 4% a 12%). Entre 12 de setembro e 11 de dezembro, foram registradas 74 mortes pela doença em diferentes faixas etárias. Sete crianças entre 1 e 4 anos faleceram uma semana após a infecção, e nove mortes foram confirmadas na população entre 5 e 14 anos.
" Isso pode representar que altos níveis da bactéria estão circulando entre as crianças. Os médicos já foram alertados sobre o aumento de infecção infantil pela Streptococcus do grupo A e orientações clínicas provisórias foram emitidas para otimizar o diagnóstico e o tratamento durante o momento atual", ressaltou a agência no relatório oficial.
De acordo com as autoridades, os casos geralmente aumentam durante o inverno - a última vez que houve registros significativos da infecção foi na temporada 2017/2018. "A alta pode ocorrer a cada 3 a 4 anos, mas as medidas de distanciamento social implementadas durante a pandemia da Covid podem ter interrompido esse ciclo e explicar o atual aumento observado", publicou a agência.
O que são as Streptococcus?
Existem várias bactérias do gênero Streptococcus. Alguns dos tipos mais conhecidos e responsáveis por causar doenças são as do grupo B (Pneumoniae e Agalactiae) e do grupo A (Viridans e Pyogenes), explica Cristiana Meirelles, médica infectologista, pediatra e gerente médica da Beep Saúde. "Todas elas têm formato redondo e coloração roxa quando observadas no microscópio, podendo se agrupar em cadeia", completa.
Grande parte dessas bactérias já está presente no organismo do adulto ou da criança sem fazer mal algum. Entretanto, alguma condição clínica ou desequilíbrio pode levar à multiplicação de um tipo de Streptococcus, e então vemos a manifestação de doenças.
A Streptococcus do grupo A (responsável pelos casos registrados na Inglaterra) está ligada a doenças como escarlatina, febre reumática, infecções respiratórias, entre outras. A forma mais comum dela se manifestar é através de faringotonsilite, uma inflamação da faringe e das tonsilas palatinas (amígdalas), pontua a infectologista.
Em crianças, o quadro começa com o surgimento abrupto de uma dor de garganta (levando à dificuldade de se alimentar). O sintoma pode vir acompanhado de febre, dor de cabeça, dor abdominal, náusea e vômitos. Pus na garganta, aumento dos gânglios do pescoço e manchas vermelhas no céu da boca são outros sinais menos comuns.
Quando, além dessas queixas, também há erupções avermelhadas na pele, que começam na virilha e axila e depois se espalham para o tronco e as extremidades, seguidas de descamação, o quadro pode se caracterizar como escarlatina, diz Cristiana.
Como ela se espalha e como se proteger?
Habitualmente, a Streptococcus A só está presente na região da pele e da boca. "Essa espécie se diferencia das demais do gênero pelo seu comportamento, características químicas e aspecto, sendo a mais capaz de causar doença", diz a infectologista.
Ela é transmitida através do contato entre as pessoas - como beijos, compartilhamento de talheres e secreções de espirros e tosse ou feridas de infectados. A Agência de Segurança em Saúde do Reino Unido assegura que uma boa higiene das mãos e das vias respiratórias é importante para impedir a propagação do germe. "Ao ensinar seu filho a lavar as mãos corretamente com sabão por 20 segundos, usar um lenço ao tossir ou espirrar e manter-se afastado de outras pessoas quando ele se sentir mal, você poderá reduzir o risco de a criança contrair ou espalhar a infecção", reforça em nota.
Sintomas e tratamento
O tratamento para infecção pela Streptococcus é realizado com a administração de antibiótico. "Geralmente é aplicada a penicilina, em via intramuscular ou oral. Repouso, ingestão adequada de líquidos, dieta leve, analgésicos e antitérmicos para controle de dor e febre também são alguns dos cuidados", orienta a infectologista.
Além disso, a autoridade de Saúde britânica alerta que as crianças podem ocasionalmente desenvolver uma infecção bacteriana ao mesmo tempo que uma viral, o que irá deixá-las mais doentes.
"É muito raro que uma criança chegue a um quadro grave, e a maioria das doenças circulando podem ser gerenciadas em casa. No entanto, os pais sabem melhor do que ninguém como o seu filho costuma se comportar, e saberão quando ele não está respondendo de forma normal", orienta o comunicado.
A instrução é para entrar em contato com um profissional de saúde aos perceber que:
- A criança está piorando;
- Ela não está se alimentando ou come muito menos do que o costume;
- O bebê teve uma fralda seca por 12 horas ou mais e mostra sinais de desidratação;
- Temperatura de 38°C em crianças com menos de 3 meses, e 39°C ou mais nas com 3 a 6 meses;
- O bebê está mais quente do que o normal quando você toca as costas ou o peito, e há presença de suor;
- A criança está muito cansada ou irritada.
Leve à emergência caso:
- Seu filho esteja com dificuldade para respirar (você pode notar grunhidos entre a respiração);
- Haja pausas enquanto a criança respira;
- A pele, língua ou os lábios estejam azuis;
- A criança esteja mole, não acorde ou se mantenha acordada.